Capítulo 3

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Eu havia me esquecido de como era.

Alguns dias atrás, quando Josh me levou para o trabalho com meia hora de atraso, tive medo de perder o emprego. Ele dizia que eu tinha que evitar esforço físico, beber muita água. Coisas óbvias. Disse também que eu teria que voltar ao hospital sete dias depois para fazer outra ultrassom.

Mas nesse momento esforço era tudo que eu estava fazendo. O restaurante estava uma loucura. A parte mais difícil é explicar para os clientes que chegam, que as mesas já estão reservadas, mas eu não poderia esperar menos neste fim de mês.

Me sentei na cadeira por um instante para descansar.

Zacarias entrou na cozinha carregando uma pilha de pratos nos braços sobrecarregados.

- O chefe está vindo para checar tudo aqui dentro. - anunciou ele - Eu não ficaria sentado se fosse você.

Eu, as meninas e os demais merecíamos um pouco descanso, mas me levantou mesmo assim.

- Pessoal, vocês estão fazendo um ótimo trabalho, mas aquele salão está cheio então preciso que se concentrem mais ainda. - ele parecia cansado também. - Estamos entendidos?

- Sim. - a equipe respondeu quase em uníssono.

Ele espera alguns segundos e olha para todos. Antes de sair, pisca direto para mim.

Não sei se todos naquela cozinha enorme captam o gesto, mas mesmo assim tenho vontade de afundar no chão.

Meu telefone vibra no bolso da calça. É minha mãe. Por que será que está me ligando? Não retorno para descobrir. Quando pego o prato de peixe em cima da mesa, o cheiro sobe e enche todo meu ar. De repente minha barriga se embrulha e sinto que vou vomitar a qualquer momento.

A ânsia do vômito não passa, então corro rapido até o banheiro e me ajoelho na frente do vaso sanitário. Fico agachada por alguns minutos, mas nada
acontece.

Quando o telefone vibra novamente atendo na mesma hora.

- Alô?

- Filha, o que você fez? - minha mãe parece nervosa do outro lado da linha. - Tem mais dinheiro na minha conta.

- Ah, eu... - pensa, pensa - fiz um empréstimo no banco e a outra parte eu pedi emprestado para a Harpper. - ela ficou em silêncio. - Eu disse que ajudaria, mãe.

- Você é um anjo filha, não sei como agradecer. - podia sentir a melancolia em sua voz.

- É só parar de me ligar todas as noites. - eu digo e ela começa a rir. - Eu tenho que desligar agora.

Volto para a cozinha e continuo o meu trabalho. Meus pais não sabem sobre o bebê e se depender de mim, nunca terei coragem de contar. Mesmo que eu tenha feito a coisa errada pelo motivo certo, aposto que iriam me matar.

Nunca quis magoa-los. Mas aprendi à duras penas que qualquer mal que eu cause a mim mesma, tem efeitos colaterais em minha família. Entendi isso quando tentei me destruir. Saímos tarde do Castle outra vez. Harpper me levou de carro até em casa.

- Você está quieta. - seus olhos azuis brilhavam no escuro. - Aconteceu alguma coisa?

- Não, eu só estou um pouco enjoada. - eu disse já tirando o cinto de segurança. - Não tenho dormido direito, eu vou ficar bem.

- Tudo bem, então aproveita que amanhã é sua folga e me liga.

Eu balancei a cabeça e subi para o meu quarto.

Estava cansada. Achei que iria direto para o piloto automático e cairia na cama, mas eu não conseguia. Tirei a blusa e a calça apertada que parecia mais uma segunda pele.

A garota de aluguel.Onde histórias criam vida. Descubra agora