Capítulo 8

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O frio não machuca dessa vez.

Posso sentir a umidade se formando em meu abdómen, e mesmo ofegante continuo correndo, tanto para me manter aquecida, quanto para silenciar meus pensamentos.

Dou duas voltas completas em torno do prédio antes de passar pela portaria.

Ao invés de usar o elevador, subo correndo três lances de escada.

A primeira coisa que faço é tirar o casaco pesado e beber vários copos de água. Eduard abre a porta e me encara com seus olhos castanhos apagados, uma ruga de preocupação se forma em sua testa. Tenho a impressão de que ele tenta disfarçar a respiração pesada, mas eu não. Respiro pesadamente puxando tanto ar quanto posso.

Ele abre a boca e depois a fecha como se desistisse de falar alguma coisa.

- Quer me dizer alguma coisa?

- O senhor Dallas me fez te procurar por todo o quarteirão, onde esteve?

Dou-lhe um sorriso compreensivo.

- Relaxa, depois eu me resolvo com o senhor Dallas.

Ele faz  um movimento de reprovação com a cabeça quando zombo do jeito que ele se refere à Josh.

E falando no diabo, Josh entra na cozinha abotoando a gola da camisa branca de sempre.

Se ele está bravo, não demonstra. Me encara com uma expressão estranha no rosto jovem.

Sem dizer nada, ele joga um objeto em minha direção. Quase não tenho astúcia o suficiente para agarrar no ar. Aperto forte o frasco laranja de remédios contra a palma da mão.

A expressão estranha era somente decepção.

- Diz para mim que não está tomando.

Não é uma súplica. Me pergunto quando ele vai começar a confiar em mim.

- Não estou. - digo simplesmente.

Seus olhos verdes me estudam, incrédulos.

- Não é o que parece. - ele põe as mãos na cintura, o que o faz parecer engraçado.

- Eu sei exatamente o que parece, mas você pode confiar em mim só dessa vez? Sem brigas, sem discussões. Apenas... acredite.

Ele assente parecendo contrariado. O silêncio se torna desconfortável.

- Tudo bem, eu vou acreditar em você, vou confiar.

Tento dar um sorriso, mas acho que acabo fazendo uma careta. Ele parece mais convencido quando jogo o frasco no lixo. Não deixo transparecer a relutância. Parte de mim agradece por este ato, a outra lamenta. Não sei quando, ou se vou precisar deles.

Josh me fita, com certeza se perguntando o que estou pensando.

- Eu estava pensando em irmos almoçar fora hoje, o que acha?

- Minha comida está tão ruim assim? - questiono sorrindo. Ele me encara, sorrindo com os olhos. Sempre com os olhos. - Esquece, eu não tenho roupas adequadas para esse restaurante chique no qual pretende me levar.

A garota de aluguel.Onde histórias criam vida. Descubra agora