6: suits and last words

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A tela do celular parece me encarar enquanto brilha de um modo assustador e eu me encontro sentado do lado da porta, tendo o estopim de um ataque de pânico surgindo na boca do meu estômago e há exatamente duas coisas que eu poderia fazer nessa situação e elas naturalmente incluem algo como (1) correr na direção oposta e voltar para os braços de Gemma onde uma bolha quente e longe disso tudo me protegia, com brechas eventuais para tudo que uma pessoa "pós-término" precisa ou, talvez, (2) encarar essa situação como o adulto que a sociedade politicamente correta me impõe a ser. E as duas se encontram em extremos tão distantes e difíceis de alcançar e eu, inclusive, também não me sinto necessariamente pronto para ver meu ex-noivo com todos os porta-retratos exibindo nossos rostos em cada superfície plana da casa mesmo tanto tempo depois, e com isso me fazendo amaldiçoar cada parte do seu corpo que o fez esquecer a porcaria daquele terno estupidamente caro aqui dentro. 

Porque é. Aquela era a razão e eu ainda consigo me lembrar do mês de novembro com a mente dele rodopiando sobre o maldito dia em que iria visitar o Museu Britânico com a sua turma da universidade no ano seguinte e eu penso que, tanto tempo depois, por que diabos eu simplesmente não mandei aquilo pelo correio? Seria tão mais simples do que o hábito de naturalmente procrastinar tudo que se era humanamente possível e mesmo assim, o meu celular parecia continuar a apitar do meu lado, como se para reforçar esse fato, naquela mesma ameaça silenciosa de minutos atrás, fazendo todo meu monólogo se tornar inválido e inútil.

Penso em ligar para Liam. Liam é o tipo de pessoa sensata que saberia, sem o menor dos problemas, o que fazer nessa situação. Quase consigo ouvir sua voz calma nos meus ouvidos dizendo que a opção de ser um adulto sensato de 22 anos sempre é a melhor, ao passo com que me manda marcar um lugar público para levar a porcaria de um terno Burberry, rezando para não ser assaltado, porque não, eu não gostaria que ele entrasse aqui dentro outra vez e eu esperava que essa fosse uma coisa compressível a todo mundo, mas, fugindo de todos os meus possíveis paramentros de sensatez recíproca, a primeira coisa que faço é olhar as mensagens de Louis. Porque Louis, Louis, Louis. Louis ainda está lá, nesse exato segundo, me confirmando que há algo errado por algum meio telepático estranhamente bizarro, com a foto de um aquário esverdeado iluminando sua foto de perfil e o barulhinho irritante de uma notificação gritando nos meus ouvidos. 

Harry, é o Louis — de novo. Tem alguma coisa errada? Eu acho que tem alguma coisa errada.

Você está bem?

Aconteceu algo? É sobre o Troye?

Me responde, por favor. Está acontecendo alguma coisa errada com meu corpo e eu... Não estou totalmente acostumado com isso?

A sucessão continua à um número com mais de um dígito, o que me dá certo impulso sobre notar como Louis, mais uma vez, parace ser a solução perfeita junto com a carga inevitável de coragem atípica que meu corpo adquire para aquela situação. E, devido à isso, tudo que faço em seguida é clicar no pequeno ícone verde-escuro do lado do seu número de telefone, puxando o celular até a orelha, deixando com que o calor colida suavemente na região, enquanto eu o escuto atender no primeiro toque, quase como se estivesse me esperando. 

Alô?! Harry...? — A voz do outro lado da linha é confusa e eu quase consigo imaginar o garoto de olhos azuis franzindo sombrancelhas uma na outra de um jeito trêmulo e interrogativo. — Como essa coisa funcio-

Stupid Cupid | L. S. Onde histórias criam vida. Descubra agora