20: hope you don't run from me

147 18 43
                                    

•••

Minhas pálpebras parecem pesar centenas de toneladas contra os meus olhos e um bip-bip agudo faz minha cabeça latejar junto com o cheiro de sépia e álcool em gel por todo lugar, puxando contra as camadas da minha pele como se pequenas formigas pinicassem além da roupa de algodão e dos lençóis me cobrindo. sépia e álcool, eu tento outra vez. Não sentir — ou ver — nada alaranjado e morno ao meu lado me dá um impulso maluco de levantar da cama, de conseguir segurar as toneladas pesando contra a minha pele, como se acordasse de um sono de milhares de anos, encontrando paredes brancas, roupas azuis e uma mão pálida grudada a minha, desajeitadamente fria subindo para as marcas vermelhas em todo o meu pulso, e braço e...

— Harry? — O dono da mão diz em uma voz rouca e cansada. Meus olhos ainda pesam quando me viro em sua direção e há bolsas fundas e escuras logo abaixo dos seus olhos. Sua mão solta e minha e, mesmo sendo fria, noto que ainda era a parte mais quente do quarto inteiro. — Deus, achei que você dormiria para sempre. 

— Liam? — Franzo as sobrancelhas para os fios esquisitos no dorso da minha mão, procurando de onde vem o bip-bip que ainda eclode ao meu lado, como o aviso de uma bomba prestes a explodir. Estou num hospital, eu sei que sim, mesmo que o "como" pareça ter se perdido algumas jardas atrás. Franzo as sobrancelhas para o rapaz sentado na cadeira a minha frente. — O que está acontecendo? 

— Não é meio óbvio? — Liam repreende, como se fosse um pai super-protetor inclinando a cabeça suavemente para os machucados roxos e manchados por quase todo o meu corpo. — Você quer nos matar de susto, Harry? Sério?  — Ele tenta outra vez, apertando um botão ao lado da cama onde estou deitado antes de ajeitar meu travesseiro e revirar os olhos murmurando um milhão de pequenas reclamações sobre "responsabilidade" quando volta se sentar na cadeira, olhando para cada haste do meu corpo como se elas pudessem simplesmente se partir em pedaços se ele não o fizesse. 

— Não sei como vim parar aqui, Li. 

Liam ergue uma das suas sobrancelhas, confuso: — Você está brincando, certo? 

Mas, não estou. Acho que não. Tudo que consigo lembrar é de Louis. Estávamos conversando juntos no quarto, com meu corpo deitado contra o seu e lembro de vê-lo chorar também. Estava com ciúmes e triste e ficou grudado em mim o dia inteiro. Iríamos falar com o Niall no dia seguinte sobre nós dois. Ele me perguntou algo, mas não lembro de ter respondido. Estava com tanto sono, mas não imagino que esse é que tenha sido o motivo de ter parado em uma cama de hospital com um Liam preocupado e bravo ao meu lado. Ou foi? 

— Você colocou fogo na sua cozinha inteira ontem à noite, Hazz. — Ele esclarece, fazendo minha cabeça dar um nó. — Sorte sua que o Niall apareceu lá antes que algo grave acontecesse com você. Ele é tipo o seu anjo da guarda agora, sabe disso, não é? — Liam ri tentando quebrar um pouco o clima ao citar Niall, fazendo minha mente dar voltas quando eu só consigo pensar nas queimaduras no meu corpo. Dolorosas o suficiente para me fazerem desmaiar?

— Liam, onde o Louis está? 

— Com o Zayn, você sabe. Eles são grudados um no outro. Veio aqui mais cedo te ver, mas você ainda estava dormindo, então ele voltou pra nossa casa. Vai ficar lá por um tempo até... 

— Ele está lá desde quando? — Eu interrompo, tentando me sentar na cama sem ter que sentir todos os meus ossos quebrarem e encaro em sua direção. Por que Louis não estava em casa comigo? 

Liam franze as sobrancelhas, olhando mais algumas vezes para a porta como se esperasse que alguém magicamente aparecesse ali. Provavelmente alguma enfermeira para me prender contra as barras de ferro da cama por estar agitado demais. Ele apertou o botão ao lado da minha cama outra vez antes de me responder. 

Stupid Cupid | L. S. Onde histórias criam vida. Descubra agora