10: a little disaster

260 34 151
                                    

Quando Louis e eu voltamos para a cozinha, eu realmente me sentia quase... Mais leve. Eu sei que não o falei diretamente sobre o problema, ou o que seja, mas a imagem de alguns minutos atrás simplesmente não conseguia ir embora da minha cabeça por mais que tentasse. Quero dizer... Éramos nós — não importanto em qual sentido seja. Erámos eu e Louis em um sofá de couro antigo, assistindo Drácula — o percursor da imagem vampírica — enquanto conversavámos abertamente, tão e tanto ao ponto de podermos fazer piadas sobre a personalidade um do outro como se aquilo não fosse um incômodo, mas algo quase íntimo.

Era surreal. Maluco, até. Mas ao mesmo tempo parecia tão fora da ficção que cogitei pensar que a nossa imagem refletida ali fosse palpável. Sentindo uma vontade insana de levantar uma das minhas mãos e tocá-lo — tocar Louis — e ver se a maciez do seu cabelo, ou a suavidade da sua pele, a barba rala, ou o que fosse, eram as mesmas que eu tinha aqui e agora. Eu parecia feliz, em algum nível. Eu parecia entender e gostar daquilo, como se me encaixasse. Mas então tinha acabado cedo demais, e eu estava com uma queimadura na mão como resultado de tentar abrir aquelas portas. Mesmo sabendo que era algo que não iria me matar, mas que se econtrava vermelho e ardido o suficiente para que eu soubesse que Louis não arriscaria fazer aquilo outra vez nem tão cedo. A parte estranha, então, era que me assustava saber disso. Como se um desejo inculto do meu corpo quisesse um pouco mais daquele olhar e felicidade fácil — por mais maluco que fosse.

— Você está bem? — Uma voz trêmula me chama e eu acabo dando um pequeno pulo da cadeira, sendo puxado do frenesi e levantando meu rosto até o de Louis. O Louis que agora estava com um semblante delicado coberto de preocupação e, se talvez eu o olhasse bem, com um pouco de culpa pintando as ruguinhas do seu rosto.

— Lou... Louis. Eu estou ótimo. — Asseguro pelo que parece ser a milésima vez, acabando por balançar a cabeça para dar ênfase a confissão. — Eu prometo, certo?

— Eu... Quero dizer... É claro que você está bem. M-mas me desculpe outra vez. — Ele começa, ajoelhando-se na minha frente com a caixa de primeiro socorros do seu lado e um pedaço de algodão na sua mão. — Não deveríamos ter feito isso, é o que quero dizer. Pelo menos não se você se machucaria.

— E por que fizemos?

Queria um motivo plausível. Queria olhá-lo e exigir um motivo que me contasse o porquê de não ter me mostrado nada daquilo antes. Eu estava lá, afinal de contas — ou onde quer que "lá" seja. Mas então o Louis que estava na minha frente parecia querer tomar aquilo outra vez. Como quando alguém lhe abre uma porta para acabar fechando-a na sua cara de um jeito rude e barulhento demais.

— Eu estava confuso. — É o que diz finalmente. — Achei que fosse... animar você e me ajudar a entender as coisas. Mas acabou dando errado. — Seus olhos azuis miram nos meus e em seguida no algodão: — Irá doer um pouco.

— Aquilo me animou, Louis. Foi tão... Ai!

— Droga... desculpe. — Louis murmura com um arquejo, e puxa o pedaço de algodão para cima, mas eu acabo apenas assentindo distraidamente antes de continuar. Ignorando a pequena chama e tentando contá-lo sobre como me senti, ou, não sei, fazendo-o entender?

— Foi só... incrível. Éramos você e eu. E... Onde era aquilo, você sabe? — Começo uma outra vez, esperando não soar obssessivo, mas a curiosidade parecia quase mecânica ao me deixar falar. Ao saber que ele estava me ouvindo. — Era tão rústico, como se estivéssemos presos em algum cenário de filme e...

— Inglaterra. — Louis diz com cuidado, quase como se houvesse acabado de dizer uma coisa realmente perigosa e confidencial, mas eu me atenho ao som e a expressão que ele dirige. — Talvez algo entre 2010 à 2017?

Stupid Cupid | L. S. Onde histórias criam vida. Descubra agora