1: make a wish

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— Faça um pedido! — Gemma grita animada e bate as mãos uma na outra numa animação estridente. Tento não rir da carranca que ela me dirige quando reviro os olhos para lhe dizer que não tenho mais 12 anos, mas consigo a ver me ignorando sabiamente no ato, enquanto tenta sorrir outra vez, esperando o mesmo que meus pais dentro de suas roupas festivas.

Volto a encarar o bolo na minha frente, com cobertura de morango, glace rosa-bebê e várias velas coloridas dispostas. É bonito. É uma data boa. Eu nasci nesse dia e tudo o mais, e no entanto, minha cabeça pesa e eu não paro de encarar a aliança que está na minha mão.

Talvez esse seja o momento de contar porque resolvi vir até Holmes Chapel de verdade, mas não quero estragar a alegria dos meus pais ou a de Gemma com uma notícia ruim. Ou talvez eu devesse esconder isso até o resto dos meus dias e levar junto ao meu corpo para o túmulo. Também há algo muito poético em dizer que ele morreu para salvar minha vida em um assalto. Não é tão ruim. São tantas opções. Tantas. E nenhuma delas é a verdade de fato. Porque a verdade é idiota como o inferno. E é meu aniversário e esse deveria ser um dia feliz.

Encaro o bolo. Poderia dizer que estou grávido e que ele me abandonou, mas, biologicamente, é um plano falho. Talvez ele tenha fugido para as Maldivas e ficado por lá com um militar aposentado e rico. Não é impossível, certo? Porque todas essas histórias são bem mais interessantes que a verdade em si.

É difícil olhar para os meus pais, no dia do meu aniversário, e lhes dizer que, "Oh, vocês lembram do meu noivo? Pois bem, ele me traiu. E, não só me traiu dentro do nosso próprio apartamento, como também foi com o nosso colega de turma! Hmmmm... Vamos partir o bolo?" Faz dois meses e ainda sim, eu não encontro um jeito suave de dizer e aceitar. Nem eu acredito, sendo sincero. Mas ainda estou aqui. E é o que é.

Temos bolo. Refrigerante. Doces. Minha família. E uma porção de velinhas que aguardam um pedido criativo em nome do ritual de comemorar um ano a mais de vida. Olho para o anel e sinto vontade de soca-lo em um buraco negro.

Acho que estou fazendo aquilo de pensar muito outra vez. Deveria só...

— Harry, a vela! — Gemma repete, dessa vez ignora meu olhar alheio e sorri. Sorri de verdade e parecendo feliz por mim.

Deveria fazer um pedido e então simplesmente jogar bomba depois ou incinerar a casa como aqueles pedacinhos de cera com cheiro de chocolate tem um grande potencial de fazer.  A parte mais esquisita é concluir que não teria volta mais.

— Certo. — Respondo rapidamente e passo as mãos do cabelo para afastar a franja do rosto. — Certo. — Repito ao mesmo tempo em que inclino o corpo na mesa de mármore da cozinha e fecho os olhos pensando em algo realmente criativo. Pensando que talvez, em alguma possibilidade remota, aquele tal cara que costuma redigir a minha vida, faça algo bom para mim. Um anjo da guarda cairia muito bem nesse caso, se levasse em consideração que sou eu quem estraga tudo, mas simplesmente aperto mais os olhos, vendo que talvez não deva exigir demais da boa sorte do Universo. 

"Um amor de verdade. Ser menos bagunçado."

Assopro, deixando que todo meu fôlego seja depositado em um desejo imaginário e no mesmo instante sinto Gemma me dar um abraço forte, sentindo que todos os meus ossos vão esmagar junto ao seu aperto. Eu não poderia ser nem um pouco menos mais piegas, se desejasse. Talvez seja um dom.

— Feliz 22, maninho! — Fala no meu ouvindo e em seguida vejo meus pais fazerem o mesmo rapidamente, murmurando desejos de felicidade e anos prósperos e todas as coisas humanamente possíveis de serem desejadas em um aniversário. — Diga ao Troye que lhe dê um ótimo presente para compensar não ter vindo hoje, hm? — Ela pisca pra mim e eu sinto meu estômago dá um nó firme, rodando e rodando todo meu corpo.

Stupid Cupid | L. S. Onde histórias criam vida. Descubra agora