Kieran, O Ceifador

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Já faz um tempo considerável que eu estou aqui, e por aqui eu quero dizer a Terra. Não, eu não nasci aqui, os ceifadores vem de outra dimensão, Ashtar, ser ceifador é um serviço de família, meu avô foi, meu pai e agora sou eu, por algum tempo eu realmente apreciei esse serviço, não por psicopatia ou por "estar no meu sangue" mas porque eu conseguia aliviar a passagem de algumas pessoas, ceifei pessoas muito ruins, o que me dava certo prazer, mas em contrapartida ceifei pessoas que foram muito boas.

Estou nesta função há mais de mil anos, é um serviço extremamente solitário, mas a solidão me traz um pouco de paz. Minha mãe não era uma ceifadora, ela era uma filha da luz e abriu mão do seu trabalho para ficar com meu pai, eu já estava predestinado a ser um ceifador mesmo contra a vontade da minha mãe.

Eu fui o mais jovem a entrar na escola de ceifadores, sim existe mais de um ceifador, é basicamente um ceifador por andar, eu não os coordeno porque esse é o trabalho feito pela Clary, eu apenas fiquei com o lado norte do planeta e ainda recebo ajuda vez ou outra.

Muitos perguntam quem eu sou e o que eu faço ali os ajudando, meu serviço é apenas encaminha-los até o barqueiro que é quem faz a passagem deles seja retornando ao universo ou levado ao submundo, ultimamente tem aumentado bastante o numero de pessoas sendo levadas ao submundo, acredito eu que isso se dá pelo aumento da maldade, as pessoas tem se vendido por tão pouco, e eu não falo de pactos com o Rei do Inferno não, que curiosamente é uma pessoa legal, falo pelo âmbito de suas próprias escolhas, diferente do que se pensa o livre arbítrio é real, nós apenas observamos vocês fazerem suas escolhas e aguardamos a hora da colheita.

Certa vez eu tive uma conversa com Hades, o rei, e ele me disse que há anos não fecha pactos porque não tem sido mais necessário, as pessoas estão encontrando seus próprios meios de conquistar suas coisas, sejam esses meios bons ou ruins, ele me disse uma frase que sempre que eu posso eu digo:

— O plantio é opcional mas a colheita é obrigatória.

E de fato isso vale até para nós que estamos desse lado de cá, nós temos regras e precisamos segui-las, uma dessas regras é evitar se afeiçoar aos humanos porque isso pode atrapalhar nossos serviços, e a punição? A morte.

A morte pode morrer? Sim, somos feitos de energia assim como toda matéria universal, a diferença é que nós somos de planos diferentes e, portanto só interferimos quando necessário.

Eu levo uma vida de adolescente normal do lado de cá, vou a escola (de ceifadores, claro) tenho amigos, saio de casa e as vezes, só as vezes, fico espiando a vida dos humanos, sim também podemos transitar entre os mundos quando não estamos em serviço, visita-los não é proibido mas não podemos interagir porque isso altera a linha temporal e muitas vezes o próprio universo.

Tudo na minha vida fluía bem até o dia do acidente, eu fui designado para mais um serviço, era uma jovem, uns 20 anos, talvez mais, ela sofreria um acidente de carro, sua morte não seria tão dolorosa porque ela iria ficar inconsciente enquanto o carro capotava. Nós temos um catálogo com vários tipos de morte, das mais "normais" até as mais violentas, geralmente é feito um sorteio com base em quem a pessoa foi durante a sua vida, nada fora do comum.


Eu fiquei acompanhando o carro por cima enquanto ela dirigia, eu não tinha visto o rosto dela nem nada porque nós temos essa política de nem sequer arriscar criar vínculos. Não demorou muito para o carro capotar, recebi ajuda de Kailee, ela controla o tempo e logo fez a neve aumentar para a moça perder o controle e bater o carro, eu apenas esperei tudo acontecer.

O carro capotou cerca de sete vezes mas a moça apagou na terceira capotada, eu não queria que ela sofresse muito, a morte não é uma entidade ruim como parece. Quando o carro parou de capotar eu caminhei até a porta e a abri para pegar a mão da moça e ajudar seu espírito a sair dali

 Quando o carro parou de capotar eu caminhei até a porta e a abri para pegar a mão da moça e ajudar seu espírito a sair dali

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Eu já havia visto muitas humanas mas ela era, de longe, a humana mais linda que eu tinha visto. Eu senti uma coisa estranha, senti meu peito formigar.. que caralhos era isso?!

Eu disse um oi meio desajeitado porque dentro de mim eu ainda tentava entender o que estava acontecendo, por que raios meu peito estava formigando, fora que eu meio que senti uma coisa estranha na minha genitália, isso nunca tinha acontecido antes.

Ela respondeu meu oi e eu fiquei esperando ela perguntar quem eu era, mas ela não perguntou, apenas seguimos caminhando até a uma floresta que tinha próxima dali, ela queria avisar seus pais do que tinha acontecido mas eu não podia deixa-la fazer isso, é contra o protocolo, ela me olhou e perguntou se eu não queria ir com ela no jantar de ação de graças da família, eu hesitei antes de dizer que tinha outro compromisso, eu não podia leva-la, não era a hora dela partir. Tecnicamente era, ordens superiores, mas eu não podia fazer isso, ela era boa para esse mundo. Fiquei dentro do meu conflito moral por alguns segundos antes de retornar minha atenção para onde estávamos. Eu decidi deixa-la viver, mesmo sabendo que provavelmente isso teria consequências e sem que eu percebesse ela segurou no meu braço e perguntou quem eu era, meu impulso foi responder:

— Eu sou o Ceifador, vocês me chamam de Morte.

Era tarde demais para tentar voltar atrás, quando ela me tocou ela já foi tocada pelas trevas, era minha função protege-la agora, mesmo que ela não pudesse me ver. Isso era responsabilidade minha.

O beijo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora