— Certo, se Kiana é filha de Zelda e dentro dela está todo poder dela, Kiana é a bruxa mais poderosa da atualidade
— Sim.. - disse Lúcifer - e não vamos esquecer que para resgatar Kieran nós precisamos dela
— Nós precisamos da tradução
— Seria fácil se fosse só isso. Nós precisamos do poder da Kiana
— E como nós vamos convencê-la a ajudar?
— Nós não, você.
Alice estava estranha, não dormiu no apartamento nos ultimos dias, será que ela tinha arrumado um namorado? De toda forma eu estava indo as reuniões da Dra. Crain, inclusive estava quase atrasada pra reunião
— Chegou atrasada Kiana
— Desculpa, eu perdi o horário
— Tudo bem, nós ainda não tinhamos começado.
A reunião era com umas 5 mulheres que tinham o mesmo diagnóstico que o meu, Síndrome de Estocolmo, que é quando uma pessoa passa um tempo prolongado com o agressor e passa a ter simpatia e até amor por ele, que foi o que aconteceu comigo e com Jhonatan, ele era abusivo, agressivo e extremamente possessivo mas eu estava tão submetida a ele e tão apaixonada que acreditava que cada abuso era por amor e cuidado
— Elaine, pode começar nos contando a sua história
— Quantas vezes me vi no banheiro da casa dele, toda encolhida, sentindo a saliva quente dele no meu corpo enquanto ele gritava? Pare de chorar como um neném. Você é louca. Ninguém mais te aguentaria. Quantas vezes fiquei tremendo ali no chão, contando as respirações, quase sufocando num ataque de pânico causado por um desses acessos de loucura? Mas ele nunca me bateu. Quantas horas fiquei ali no chão daquele banheiro depois de ele ter voltado para a cama, meus olhos vermelhos dos vasos estourados? Quantas vezes ouvi o ronco e percebi que ele tinha pegado no sono, a não mais de um metro de distância, enquanto eu hiperventilava, ainda à mercê do ataque de pânico? Quantas vezes sussurrei "Como vim parar aqui? Como virei essa mulher?" Quantas vezes disse para mim mesma: "Levante, chame um táxi e vá embora"? Quantas vezes me levantei e não me reconheci no espelho? Quanto ódio eu senti pela mulher que me olhava de volta? Mas ele nunca me bateu. Quantas vezes voltei para aquela cama, em vez de entrar num táxi, e acordei com os braços dele em volta de mim, dizendo que a culpa tinha sido minha? Ele não era assim. Eu é que trazia à tona esse lado dele. Eu tinha de mudar. Parar de acusá-lo. Se eu fosse mais gentil, ele reagiria de outro jeito. Quantas vezes mudei minha abordagem antes de perceber que a única maneira de evitar o abuso era não tocar no assunto? Mas ele nunca me bateu.
— Meu deus - disse uma das mulheres e elaine continuou seu relato
— A quantas festas fomos sabendo que uma das mulheres estaria presente? Aprendi a não falar do assunto para que "eu" não estragasse a noite. Quando alguém da família dele me perguntou se era meu o batom que estava embaixo da almofada do sofá, simplesmente o joguei fora e não disse mais nada. Nem ela. Outra humilhação sofrida em silêncio. Mas ele nunca me bateu. Quantas vezes ele me disse que ia dormir, que tinha um jantar com um cliente, que não ouviu o telefone, mas na verdade estava com outra? Quantas vezes ele ignorou minhas ligações e no dia seguinte disse que nada tinha acontecido? Era sadismo. Eu via como ele gostava desse poder. Quantas mentiras difamatórias ele inventou e espalhou para meus antigos colegas e amigos quando o abandonei? Quantas vezes ele manchou minha reputação? Quantas vezes voltei, acreditando nas promessas de que ele era um novo homem, acreditando em cada desculpa? Mas ele nunca me bateu. Quantas vezes uma amiga foi me resgatar quando ele me expulsou da cama depois de eu perguntar sobre as outras mulheres? Estabeleci um limite. Uma fronteira que não atravessaria. No minuto que ele me batesse, eu iria embora. Mas na verdade eu sabia que nem assim iria embora. Teria racionalizado: ao me bater, ele perceberia como as coisas estavam fora do controle. Tudo mudaria
— E ele te bateu.. - eu disse
— Sim, ele me bateu, ele quebrou o meu braço em uma das surras que ele me deu e eu ainda ouvi da minha família que
— Ele é seu marido, ele pode - outra mulher completou
Lágrimas rolavam pelo meu rosto, eu havia vivido um relacionamento abusivo e milhares de mulheres também vivem sem sequer saber, até quando seremos submetidas a isso? Até quando seremos tratadas como objeto?
— Eu finalmente tive coragem de buscar ajuda, eu precisava, ele me mataria. Fui a delegacia, registrei um boletim e a delegada expediu um mandato de segurança, logo ele foi preso mas eu ainda temo pela minha vida, se eu puder dar um conselho a todas as mulheres, nunca se submetam a um "ele vai mudar" porque ele não vai, os abusos só vão crescendo até você desejar estar morta e nenhuma mulher nesse mundo merece passar por isso!
Nossa reunião acabou e eu voltei ao saguão para ir embora
— Kiana? - chamou uma voz conhecida
— Alice? quanto tempo - eu ri
— Kiana, preciso que venha comigo, preciso te mostrar algo - ela disse pegando a minha mão e me puxando
nós fomos caminhando até a biblioteca municipal, na divisa de livros proíbidos
— O que viemos fazer aqui Ali?
— Quero que veja uma coisa e uma pessoa
— Okay né - disse chegando a ultima divisa dos livros
— Kiana, esse é Lúcifer
— Olá Kiana - disse Lúcifer
— Lúcifer? Igual ao diabo?
— Tipo isso - ele disse
— Tá, e o que a gente veio fazer aqui?
— Bom, Kieran está com problemas
— E?
— E que você é a única pessoa que pode ajudar
— E por que eu faria isso?
— Simples, porque ele está preso por sua causa
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O beijo da Morte
Storie d'amorePosso te contar uma coisa? Eu estou apaixonada pela morte, sim, é isso que você ouviu, não é nenhuma expressão romântica de clichê adolescente, eu não durmo em cemitérios nem tomo vinho em crânios.. A morte é uma entidade ancestral, ela já estava aq...