A roda gigante

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A vida é composta de primeiras vezes.

Há a primeira queda da bicicleta, o primeiro machucado, a primeira cicatriz, a primeira festa, o primeiro dia de aula, o primeiro beijo, o primeiro emprego [...], são momentos pequenos e passageiros que acabam perdendo a grandiosidade em meio a correria de uma vida conturbada.

As pessoas, gradativamente, acabam por se esquecerem desses momentos e apenas o guardam no fundo da mente, torcendo para que em algum momento da vida, quando a nostalgia se fizer necessária, esse baú de lembranças se abra e os faça se acolher nas memórias reconfortantes desses pequenos e preciosos momentos.

Com os olhos fechados firmemente, enquanto as mãos espalmavam a lateral do rosto alheio, eu guardava na memória mais uma das primeiras vezes da vida.

Embora tivesse consciência que ela chegaria em algum momento, ainda assim, naquele instante, não consegui refrear o frio na boca do estômago e as pernas bambas que fingiam estarem bem firmes em solo duro, tentando amenizar todo o nervosismo que cabia àquele momento.

Meus amigos, que já haviam passado pela mesma experiência, se gabavam de terem tido total controle e deixado que tudo fluísse normalmente. Porém eu não era ignorante para acreditar naquelas besteiras. Não tinha como um primeiro beijo ser algo natural e pouco assustador, pelo muito contrário: a insegurança estava presente assim que você sentia que havia chegado o momento, aquele que você daria mais um passo em direção à vida adulta.

Os lábios sobre os meus eram macios, mas tornaram-se rígidos após alguns minutos de um contato prolongado sem jeito algum. Eu sabia que estava sendo inteiramente ruim aquela experiência tanto para mim quanto para a garota à minha frente. Não éramos experientes e estávamos ambos com os nervos a flor da pele, desejando que aquele momento terminasse o quanto antes para respirarmos aliviados e podermos riscar mais um item da longa lista de "primeiras vezes".

Separei os lábios rápido demais, respirando sôfrego em seguida. Percebi Lee Hye fazer o mesmo, os olhos esbugalhados à constatação que havia perdido, finalmente, seu primeiro beijo.

Senti a pele macia das bochechas da garota se tornar rubra à medida que ficava acanhada por perceber que minhas mãos continuavam espalmadas em concha ao redor de seu rosto fino. Retirei, assustado pelo pequeno deslize, as mãos com rapidez, pigarreando fraco em seguida, como para tentar quebrar um desconforto óbvio.

— Foi... — Lee Hye me surpreendeu ao tomar a palavra e levantar os olhos em minha direção, parecendo empolgada e envergonhada ao mesmo tempo — Bom! — finalizou com um sorriso contido, embora seus lábios denunciassem que queriam se alargar quase que instantaneamente.

Assenti, sentindo minhas próprias bochechas corarem.

— Você tem razão. Foi muito bom! — menti, sabendo que ela estava fazendo o mesmo, porém com mais facilidade que eu.

Ambos tínhamos perfeita noção de que aquilo havia sido um primeiro beijo desastroso, mas, por outro lado, sabíamos que um dia olharíamos para o passado com um sorriso nos lábios, rindo da nostalgia daquele momento terrível que vivíamos no exato presente.

— Obrigada, Luhan. — falou Lee Hye com sinceridade, parecendo tirar um peso de suas costas.

Não pude evitar sorrir de lado, contente por ter sido útil, mesmo que ambos tivéssemos usado um ao outro de forma tão óbvia.

— Sem problema.

Lee Hye me deu um último sorriso e se afastou a passos rápidos para longe do jardim em frente ao colégio, se perdendo em meio à multidão que corria no pátio escolar, totalmente alheios que a cena mais constrangedora da vida de uma pessoa havia acabado de se concretizar a poucos passos de distância de onde estavam.

First TimeWhere stories live. Discover now