Soldado ferido

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— Isso é tão estranho... Quer dizer: como vamos olhar para a cara deles amanhã? Acho que ficou bem óbvio que todos nos sentimos desconfortáveis. — Chanyeol continuava a debater consigo mesmo na sessão de congelados, o pote de sorvete em mãos esquecido, enquanto parecia tentar encontrar uma saída para evitar Minseok e Baekhyun no dia seguinte.

Suspirei pesado, enquanto escolhia alguns salgadinhos do lado contrário, tentando bloquear os questionamentos de Chanyeol, porém caindo na mesma teia crescente de preocupação que parecia nos envolver.

Diferente do Park, eu não estava com medo de encarar Baekhyun e Minseok por conta do episódio da última sexta-feira. Não era por isso. Minha real vergonha se mantinha em olhá-los nos olhos depois da cena que fiz no vestiário onde, estupidamente, depositei sobre ombros inocentes uma culpa que não era sua.

— Jongin ainda é o pior de todos. Não sei o que fazer... — continuava Chanyeol seu próprio monólogo, a água do pote de sorvete pingando em seus sapatos enquanto ele continuava a se manter em outra dimensão, aturdido demais para notar as coisas à sua volta.

Enquanto Chanyeol mantinha uma conversa sobre suas próprias preocupações, me virei para o corredor seguinte, deixando-o para trás por meros minutos, enquanto respirava aliviado por bloquear — ao menos naquele instante — suas palavras.

Mas percebi, pela segunda vez naquela semana, que fugir do problema nunca é a solução. Não quando ele acaba lhe confrontando continuamente. Insistindo para que você tome partido de alguma forma.

E foi com essa afirmação em mente que meus olhos se prenderam na figura sorridente de Kim Minseok há alguns metros de distância — um sorriso largo no rosto — enquanto segurava precariamente de dentro do carrinho de supermercado as guloseimas que Baekhyun catava pelo caminho.

Às pessoas no corredor, em sua maioria senhoras e homens de meia idade, olhavam desgostosos para a cena dos dois garotos se divertindo, enquanto caçavam suas compras nas prateleiras.

Baekhyun, espontâneo do jeito que parecia ser, fingia não perceber — ou talvez só ignorasse — os olhares tortos em sua direção e na de Minseok. Mas o segundo, mesmo que sorrisse, não conseguia deixar a pequena atenção à si passar despercebida; não quando suas bochechas rosadas eram indícios claros que apesar de toda a diversão, Minseok estava ciente de seu próprio constrangimento.

— Você ouviu o que eu estava falando, Luhan? — perguntou Chanyeol se materializando ao meu lado do nada, o sorvete de outrora agora uma massa pastosa por estar descongelado, pingando com mais convicção do que antes no chão do estabelecimento; um fato que parecia passar despercebido por um Chanyeol distraído.

— Chanyeol, fique calado. — ditei, vendo a distância ser rompida mais e mais por Baekhyun e por Minseok, ambos inconscientes de que eram assistidos por figuras familiares não muito longe dali.

— Por que? — perguntou o outro atônito, perdido com a repreenda baixa em minha voz.

Indiquei a minha frente com a cabeça, fazendo com que o maior acompanhasse o caminho que meus olhos se prendiam e, em seguida, fizesse os seus próprios se tornarem duas grandes bolas de gude arregaladas, os lábios levemente entreabertos como se houvesse sido pego no flagra.

Chanyeol não teve tempo de falar nada, antes que ele pudesse esconder seu espanto Baekhyun já freava o carrinho bem em nossa frente, reconhecendo-nos, enquanto Minseok o fazia pouco depois; o sorriso de outrora murchando, enquanto os olhos contemplavam suas próprias mãos sob o colo, tentando ao máximo evitar contato visual.

Instantaneamente senti a vergonha me golpear. Eu havia causado todo aquele desconforto. Se Minseok gostava ou não de garotos, aquilo não era meu problema e isso também não o faria menos humano.

First TimeWhere stories live. Discover now