Consequências

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A cozinha, assim como de costume, estava um caos de pessoas. Mesmo em plena segunda-feira parecia que estávamos em uma das típicas reuniões de família, tornando a cozinha um cômodo intransitável mesmo àquela hora da manhã, quando os primeiros raios de sol mal haviam se estabilizado no céu.

— Nada disso, senhorita. Sente e coma algo saudável! Uma maçã não pode nem ser considerada uma refeição. — reclamou minha mãe para Hye, enquanto ela se precipitava em dar mordidas na fruta e arranjar o material em sua bolsa.

Hye, assim como sonhara um dia, havia concluído a faculdade e agora lecionava em uma das escolas da redondeza, ministrando sua matéria optativa com alegria; contente por trabalhar na área que tanto almejara desde sempre.

— Seja uma filha obediente e ouça nossa mãe, Hye. Assim vai ficar mais magra do que já está! — repreendeu minha irmã mais velha, SooMan. Apesar de SooMan ter se casado há muito tempo e já ter constituído sua própria família, ainda assim, como seu expediente começava horas antes da creche dos pequenos, ela dependia de mamãe para ajudar na difícil tarefa de escoltá-los até a escolinha próxima à casa, enquanto se dobrava em duas para ser dona de casa, mãe, esposa e trabalhadora em período integral.

Vi Hye rolar os olhos e ser pega em flagrante por nosso pai que, abaixando o jornal ameaçadoramente enquanto a encarava, conseguiu fazê-la se juntar a mesa e se servir de uma vasilha generosa de arroz.

Na sala, o barulho dos filhos de SooMan brincando se propagava por todos os cômodos e fazia com que os mais velhos sorrissem perante o som das risadas infantis.

— Junmyeon, pode chamar o Jongin para mim? Acho que ele perdeu a hora de novo. — a expressão de minha mãe tentava formar uma espécie de irritação, mas os cantos de seus lábios levantados em um sorriso singelo dizia o contrário; deixava claro que por mais que o filho moço fosse irresponsável e, muitas vezes, imaturo, ela sempre veria aquelas características como um charme do menor.

Sorri em concordância e me precipitei até a escada, pulando os degraus de dois em dois, alcançando o corredor e rapidamente ficando em frente à última porta do mesmo, enquanto batidas fortes faziam a madeira tremer levemente.

Não houve nenhuma resposta do lado de dentro.

Colei meu ouvido à porta e tentei capturar algum som do interior do cômodo, mas o silêncio ainda predominava de modo ininterrupto. Bufei baixo antes de fechar minha mão sobre a maçanete e virá-la, clareando o quarto que estava afogado no mais puro breu.

Jongin! Eu não acredito que você ainda não se levantou! — ralhei indo direto até a janela e abrindo as cortinas, impregnando o lugar escuro e abafado com luz e uma singela corrente de ar.

Voltei-me para o amontoado desconexo de colchas e lençóis sobre a cama e o cutuquei sem delongas.

Ya! Eu não quero ter que subir com um balde de água fria, Jongin! — ameacei puxando a coberta e jogando-a no chão, ficando estático ao perceber que onde deveria existir um Jongin sonolento não havia nada.

Franzi o cenho para aquela cena. Jongin não era de sair a noite e mesmo quando o fazia, normalmente sendo seu endereço a casa de Yixing, ele sempre pedia permissão antes. Era uma regra básica na casa dos Kim, afinal: sempre informar uns aos outros sua ausência.

Olhei para o monitor de seu computador e percebi o mesmo piscar, denunciando que seja onde fora que meu irmão havia ido, não havia lhe dado tempo o suficiente de desligar a máquina. O celular — esquecido ao lado do mouse — tornou tudo ainda mais preocupante.

Senti meu coração começar a acelerar em preocupação evidente. Jongin poderia ser brincalhão, inconsequente e imaturo, mas não era um garoto ruim. Nunca passara por cima das regras e nunca aprontara nada fora dos padrões da normalidade de sua idade. Era um garoto decente, no fim das contas. E eu sabia que aquilo tudo se dava pela educação e amor que havíamos recebido de nossos pais e por, claramente, ele possuir uma amizade estreita com Yixing. O Zhang, por mais que não falássemos aquilo em voz alta, era uma ótima companhia para Jongin. Enquanto o primeiro podia ser um descontrole ambulante, o segundo era como o equilíbrio da dupla; sempre colocando meu irmão nos trilhos quando ele ameaçava sair dos mesmos.

First TimeWhere stories live. Discover now