O dia anterior parecia um grande borrão em minha mente.
Lembro-me de chorar agarrado à Kim Jongdae, como se tivesse medo de soltá-lo e, por fim, vê-lo desaparecer de vista; receando o instante que ele me afastaria e daria fim aquele abraço tão esperado. Mas ele não o fez. Pelo contrário: os minutos se passaram e ele apenas continuou ali, deixando-me utilizá-lo como pilastre, enquanto minhas lágrimas se tornavam escassas e os soluços inexistentes.
Quando o abraço se rompeu trocamos um olhar significativo; um que não necessitava de palavras.
Embora ainda houvesse uma grande lacuna entre as dúvidas que diziam respeito à Kim Jongdae, ainda assim não questionei. Tinha medo de perguntar e acabar tendo uma resposta negativa, ou, talvez, eu apenas tivesse medo de receber a confirmação que o sentimento que crescia incólume em meu peito também estava presente no dele. Receber uma confirmação nesse nível significava sofrer ainda mais do que se tivesse meu coração partido, porque, no fundo, eu estaria afogando Jongdae no mar de dúvidas e temores que me rodeavam.
Eu amava Jongdae, mas amar significa não querer ver o outro sofrer, mesmo colocando minha própria felicidade em risco. E, mais do que tudo, eu desejava que aquele menino que sempre sorrira em minha direção voltasse a contracenar seu papel, mesmo que a verdade de sua solidão estivesse estampada em seus olhos caramelos.
Baekhyun havia sumido no dia anterior quando retornei para a mesa de estudos, os olhos inchados pelo choro excessivo. Em outro momento eu poderia achar que ele apenas tinha agido conforme sua "natureza" e fugido da montanha de coisas que tínhamos para fazer ali, mas, quando encontrei a mesa limpa e meu material guardado apenas esperando seu dono para pegá-lo, eu soube que ele não havia fugido. O Byun, por mais que fosse extrovertido na maioria das vezes, agora estava me mostrando um lado dele que eu insistia em querer conhecer cada vez mais. Um lado que se mostrava cuidadoso, gentil e, acima de tudo, reservado. Não tive dúvidas de que ele havia me visto com Jongdae e, até mesmo, tido o cuidado de nos cobrir perante os olhos curiosos que pudessem vir a vagar pela biblioteca. Agora, mais do que em qualquer momento, eu queria agradecê-lo de coração por tudo e por, principalmente, ter insistido em uma amizade que tinha todas as chances de dar errado, mas que havia saído do seu curso natural e surpreendido a ambos.
Caminhei pelo corredor da escola ainda sentindo alguns olhares pesarem sobre mim, um costume que passei a ignorar após o conselho sábio de Baekhyun. Na porta da sala avistei alguns alunos parados rindo de algo, mas não me detive em suas risadas, apenas atravessei o tumulto e me vi como o centro de toda aquela confusão, recebendo um balde de água tão gelado que nada mais poderia me alarmar quando o pior estava bem à minha frente, encarando-me como um velho fantasma que retorna após noites ausentes em meus pesadelos.
Os alunos, que antes dirigiam sua atenção para frente, abriram caminho para observar de camarote a expressão de quem mais aguardavam naquela manhã.
Meus olhos vagaram para as pichações que revestiam o quadro negro de cima a baixo, alegando coisas sobre mim que eram infundadas, mas também expondo meu segredo mais íntimo no processo.
Há alguns passos de distância meus olhos repousaram na pessoa que encarava o quadro igualmente estático. Kim Jongdae tinha o olhar perplexo, enquanto o cenho se franzia em desgosto. Ele se virou e sua atenção se ateve sobre mim, permanecendo ali com o passar dos segundos.
Ao meu redor as pessoas riam e apontavam. Outras tantas, mesmo que houvessem me visto crescer e sempre agissem de forma natural comigo, se afastaram, como se eu houvesse acabado de anunciar uma doença contagiosa. Alguns alunos até arriscavam palavras de baixíssimo calão em meu rosto. Risadas e vozes se misturavam apenas com um intuito: me fazer entender que naquele lugar, onde todos camuflavam segredos, eu não me encaixava mais. Não quando eu havia sido exposto.

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First Time
FanfictionLuhan amava "Primeiras Vezes". Ele sabia que até a mais dolorosa primeira vez, mesmo sendo ela um coração partido, ainda assim era memorável. Aos poucos, ele experimentava cada primeira vez, fascinado com o quão complexas e desastrosas elas poderi...