Uma noite Cinderela

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O quarto estava escuro mesmo que o sol brilhasse do lado de fora da casa. Em meio a muitas cobertas, um Jongin adormecido ressonava baixo, relaxado após chegar sujo e cansado de uma noite insone.

Sentado em uma cadeira ao lado da velha cama, Yixing velava o sono do meu irmão; a cabeça posta entre os joelhos, enquanto as mãos seguravam as madeixas e os olhos se fechavam firmes, parecendo levá-lo a outra dimensão. O vinco em meio as suas sobrancelhas se destacava no rosto jovial, fazendo Yixing transparecer uma maturidade que quase nunca parecia estar lá, mas que havia se moldado no instante que o garoto havia sido forçado a dizer adeus à sua mãe anos antes.

No andar de baixo, eu podia ouvir a conversa abafada de meus pais. Ambos desejavam respostas desde que viram o filho caçula adentrar a porta da casa, parecendo um retrato mal feito do garoto sempre sorridente e brilhante que era Jongin. Talvez por ver a debilidade no rosto do caçula, ou apenas pela seriedade nos olhos de Yixing, eles não o pressionaram por respostas; não naquele momento. Eles sabiam que tudo tinha sua hora, e quando Jongin acordasse — muito provavelmente — eles estariam prontos para ouvir meu irmão.

— Está aí desde quando? — a voz de Yixing me pegou de surpresa, fazendo-me retornar a realidade. Sua postura, antes arqueada, agora estava ereta e virada em minha direção, os olhos negros me perscrutando mesmo em meio ao quase breu total do cômodo.

Desencostei-me do batente da porta em que estivera nos últimos vinte minutos e cruzei os braços em frente ao corpo, os passos hesitantes adentrando o quarto e me aproximando do Zhang.

— Não muito tempo. — menti, enquanto voltava a me encostar, só que dessa vez na cômoda em frente à cadeira que Yixing ocupava.

Os olhos do Zhang, ainda inchados pelo choro de toda uma noite e um começo de manhã ainda pior, me encararam firmes, parecendo me incitar a fazer aquilo que tanto gostaria; a fazer aquela pergunta que estava me incomodando desde cedo, mas que mantive trancafiada em minha boca, desfrutando de seu amargor até o último segundo.

— Gostaria de ouvir da sua boca o motivo disso tudo. — ditei sincero, enquanto via Yixing respirar fundo, parecendo já prever aquela atitude — Eu não falei nada antes porque tínhamos algo mais importante para resolver naquele momento, mas sei que está tudo conectado e gostaria muito que você confidenciasse isso para mim antes que Jongin o faça. Seja o que for, eu conheço meu irmão. Sei que ele é realmente imaturo em algumas questões, então não seria justo de qualquer ponto de vista. Mas você...

— Sou confiável? — sugeriu Yixing com um sorriso triste emoldurando o canto de seus lábios.

Assenti, ainda encarando-o.

Eu conhecia Yixing quase que minha vida inteira. Por mais que Jongin fosse o grande amigo dele, muito mais íntimo e confidente, ainda assim era claro para todos os Kim's o quanto a família Zhang era confiável e, principalmente, Yixing era um rapaz sensato e de boa índole.

E, naquele instante, mesmo vendo a hesitação no olhar do mais novo, ainda assim eu duvidava que minha opinião sobre o mesmo mudaria; seja qual fosse a situação.

Observei Yixing olhar para baixo, sorrindo brevemente antes de levantar o olhar em minha direção mais uma vez, uma coragem instável a sussurrar a chave de todo aquele drama de mais cedo:

— Eu gosto de garotos, Junmyeon. Esse é o problema.

[...]

Qual é, Minseok! Já fazem dois dias! Até quando vou precisar enfrentar essa tempestade de gelo?! — perguntei quase que correndo atrás do baixinho, enquanto ele, mais uma vez, se mantinha calado, me fazendo sofrer por ter a língua sempre solta.

First TimeWhere stories live. Discover now