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— Isso é trapaça das feias! — recriminei, muito embora a risada que soltei junto da reclamação tenha aniquilado qualquer possibilidade da sentença soar repreendedora.

Luhan não me olhava, mas seu sorriso em resposta enquanto mirava o alvo com a arma de brinquedo dizia que concordava veementemente comigo: ele era uma trapaceiro da pior espécie.

— Já ouviu aquele ditado? O que diz "sorte no jogo, azar no amor"? — perguntou, enquanto com um clique do brinquedo em suas mãos o balão da direita — que era meu alvo desde o início — estourou, fazendo com que o senhor que cuidava da barraca cumprimentasse Luhan com um sorriso e se afastasse, indo buscar o prêmio do outro.

— Esse ditado é totalmente fajunto! — acusei ao passo que Luhan se encostava na barraca, os braços cruzados em frente ao peito a me olhar com um sorriso, interessado no desenrolar de minha justificativa — Olha só para mim: tenho azar no jogo, azar no amor e em mais um bocado de outras áreas. Me sinto injustiçado mediante ditados assim e pessoas como você; sortudas!

Os olhos de Luhan se franziram enquanto ele ria, sua cabeça pendendo de lado de um jeito adorável. Ele era um cara legal e extremamente bonito, isso não havia nem o que contestar. Durante grande parte da noite, sempre que ele gargalhava ou era apenas gentil, eu me perguntava como seria se esse Luhan de agora fosse sempre assim; que seu encanto não findasse ao badalar da meia-noite. Poderíamos ser amigos, assim como Baekhyun e eu éramos. Mas mesmo que meu cérebro insistisse em fazer suposições, ainda assim eu sabia — bem lá no fundo — que não poderia acumular esperanças. Luhan seria o mesmo Luhan de antes dali a algumas horas.

— Nem de longe eu sou sortudo. Acredite. — disse o garoto, fazendo uma careta engraçada ao proferir tais palavras.

— Qual é a pior coisa que poderia acontecer com você, então? Se é que ela existe. — eu sabia que deveria brecar minha língua, mas, naquela noite, minha euforia se agigantava e se acalmava tão instavelmente que eu não percebia o que estava falando até já tê-lo feito.

Recebi, enquanto mordia o interior da bochecha, o silêncio de Luhan. Eu sabia que éramos estranhos que apenas estavam passando uma noite em um parque. Estranhos que tentavam fugir da realidade só por algumas horas. Não podia esperar que Luhan apenas me confidenciasse pensamentos íntimos, mesmo que eu mesmo já houvesse feito isso com ele mais vezes do que seria aceitável.

Os olhos castanhos de Luhan se assemelhavam mais a um mel derretido naquela noite do que ao castanho sólido familiar enquanto me encarava com o rosto tranquilo, parecendo ponderar em suas palavras.

— Eu deveria confiar a você meio maior defeito? — sua pergunta parecia não ser direcionada a ninguém em especial, muito embora houvesse saído firme e clara.

Instintivamente, sentindo-me desconfortável pelo clima que eu mesmo criara, dei dois passos sutis para trás, mas me contive em aumentar a distância quando Luhan se desencostou da bancada da velha barraca e se aproximou, me olhando mais de perto, parecendo tentar encaixar peças à minha imagem em busca de um mapa completo. Mas não era preciso. Eu era extremamente decifrável, mesmo que não o desejasse.

— Eu estava só brincando. Você não precisa responder. — soltei baixo, me agarrando a possibilidade que ele apenas fizesse um gesto abrangente com a mão e concordasse; que toda a tensão daquele momento se dissipasse e retrocedêssemos há minutos antes, quando não havia seriedade e apenas uma leveza reconfortante rodeando a ambos.

Para minha surpresa, Luhan riu baixo, se afastando novamente e se voltando para a barraca onde o senhor de meia idade retornava com uma pelúcia de um gato em um tom rosa chamativo em mãos.

First TimeWhere stories live. Discover now