A descoberta de uma amizade

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Ocupando uma das cadeiras dispostas na grande sala, eu o observava com um sorriso contido, sutil demais para chamar a atenção de quem quer que fosse.

Seu terno era limpo e impecável, sem nenhum amassado visível, enquanto seus sapatos estavam lustrosos e seu cabelo penteado de forma correta, indicando que o rapaz acatava todas as normas escolares sem hesitação.

Algumas pessoas apenas o amavam por ser um ótimo aluno e representante de turma tão querido. Outros observavam sua devoção para a música como o grande percussor de sua fama entre os professores e alunos, e ainda haviam os que apenas o idolatravam pela sua beleza irrefutável. Mas eu não me sentia como essas pessoas, completamente cegos por detalhes insignificantes. Kim Jongdae havia marcado meu coração de outra forma, uma que eu duvidava ser semelhante ao de qualquer outro presente.

Observei, tentando ser o menos óbvio o possível, seu sorriso se alargar conforme ria de alguma piada que um dos seus amigos contara. Ele riria mesmo que não houvesse graça, porque esse era o tipo de pessoa que Kim Jongdae tanto se esforçava em ser: perfeito em todos os quesitos, mesmo que soterrado pelos próprios muros que construía ao seu redor.

— O que tanto olha, hein? — a voz conhecida se fez presente, fazendo-me sobressaltar rapidamente, assustando-me mais do que se um meteoro eclodisse bem no meio da sala de aula.

Engoli em seco, desprendendo os olhos da figura do Kim para vidrá­-los nas páginas em branco à minha frente.

O garoto, com seus cabelos rebeldes e camisa amassada, não era de desistir fácil. Um dos seus grandes defeitos era exatamente a curiosidade. Ele não conseguia refreá-­la mesmo que a pessoa a ser observada implorasse de joelhos para que não se metesse nos assuntos alheios.

— Eu não entendo... — ele fez um barulho com a língua, parecendo frustrado, enquanto puxava uma cadeira e sentava nela na posição errada, as pernas abertas de forma despojada, enquanto me encarava de frente, tentando catar qualquer minúcia que o fizesse achar a resposta que tanto ansiava — Você sempre está encarando o nosso representante de turma... — jogou verde, tentando colher algum tipo de informação em minha expressão.

Continuei calado, os olhos devotados para o papel em branco, como se não estivesse passando por um interrogatório desnecessário.

Byun Baekhyun poderia ser uma pessoa extremamente metida na maioria das vezes, mas não era uma pessoa ruim, pelo muito contrário: eu já perdera a conta das vezes que o vi ser levado até a sala da direção por ajudar estranhos a sair de brigas injustas onde eram seis contra um. Mesmo que extrapolasse o limite do aceitável, Byun Baekhyun não era uma má pessoa. Tinha centenas de defeitos, a começar por sua língua solta, sua curiosidade irrefreável e seus maus modos, mas nada se comparava ao seu senso de justiça. Aquele título era de Baekhyun e ninguém poderia contestar o contrário.

— Você não é amigo dele. Quer dizer... — fez uma pausa, parecendo ajeitar os próprios pensamentos — Pelo menos não um amigo próximo. Também não sinto como se odiasse ele. É mais como... — novamente o silêncio nos envolveu, enquanto o Byun chegava perigosamente perto da resposta de um milhão de dólares.

Tentei acalmar meus batimentos cardíacos. Não era como se meu maior problema fosse ter Byun Baekhyun sabendo de minha fascinação amorosa por Kim Jongdae, até porque, mesmo não mantendo uma amizade com ele, sabia que ele nunca sairia gritando aos quatro ventos sua descoberta. Mas não era algo que eu desejasse compartilhar com alguém. Não era necessário ter outra pessoa vendo-­me sofrer pelos cantos calado, incapaz de destruir o medo que insistia em atravessar meu caminho e espantar a coragem cada vez que ela dava o ar de sua graça.

First TimeWhere stories live. Discover now