Transparência

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— Jongin não sabe disso, certo? — foi minha primeira pergunta, enquanto me mantinha encostado em uma das paredes do vestiário, os braços cruzados em frente ao peito inquirindo-o com os olhos.

— Levando em conta a reação dele mais cedo, você realmente acha que ele sabe?! — respondeu retórico, um sorriso triste se apoderando de sua expressão sempre apática.

Suspirei fundo, soltando o ar audivelmente. Aquilo não podia estar acontecendo.

— Não estou querendo pressionar ninguém aqui e nem julgar... — esclareci com cuidado, tendo medo de ser incompreendido por Yixing — Mas você tem que contar para ele. E agora mais rápido do que nunca. Outras pessoas sabem disso e logo Jongin saberá também; é questão de tempo, Xing. — alertei, vendo-o assentir fracamente.

— Não estava planejando manter isso mais em segredo, Luhan. — disse erguendo os olhos, as mãos, antes espalmadas na pia, indo de encontro ao interior dos bolsos de sua calça e ali ficando, enquanto o mesmo me encarava corajosamente, parecendo nada envergonhado perante a nova imagem que minha mente formava de si — Guardei isso tempo demais para mim e, de alguma maneira, esse estranho e sua confissão repentina me fizeram perceber que estou perdendo tempo. O meu tempo de encontrar a felicidade.

Queria poder dar batidinhas fracas nos ombros de Yixing para lhe confortar, mas, de alguma forma, a postura que ele se encontrava — defensiva e alerta — parecia ser um obstáculo que não devia ser pressionado a ultrapassar.

— Você sabe que não vai ser fácil, né? Sabe que...

— Não precisa listar as consequências, Luhan. Tenho ideia de tudo que irei passar. E não digo apenas com o Jongin, mas estendendo o assunto à minha família também. Pensei muitas vezes nisso, mas... — Yixing ergueu os olhos para o teto, fixando-os alguns segundos ali, enquanto tentava evitar que lágrimas traiçoeiras descessem em cascatas pelo seu rosto — Eu não posso mais me esconder.

— Por que não? — antes que tivesse noção do que estava falando, percebi a grande estupidez que tinha posto em palavras e me arrependi assim que vi o olhar decepcionado de Yixing para mim.

— Porque me esconder dói. E mesmo que eu perca todos que são importantes na minha vida... — ele pausou, seu olhar significativo me perfurando como se mil facas o fizessem, a indireta clara naquele simples gesto — Eu preciso tentar não perder a única pessoa que realmente importa no fim das contas. Eu mesmo. — finalizou dando de ombros e fungando alto.

Quando vi Minseok naquela roda gigante, confessando aquilo que provavelmente o destruiria dia a dia, me apiedei do rapaz, porque a batalha que estava prestes a travar ela longa e sem linha de chegada. Mas era apenas isso: um estranho que eu sabia que sofreria, mas que não assistiria de camarote tudo isso acontecer.

Yixing, por outro lado, era um amigo amado que eu desejava manter em segurança, longe dos olhares cruéis e das palavras ásperas que seriam — certamente — dirigidos a si. Saber que agora ele estava na mesma situação que Minseok era como sentir o chão se abrindo lentamente, me engolindo aos poucos em um aviso prévio.

— Eu espero que esteja fazendo a coisa certa, Xing.

Não eram palavras de apoio. Jamais poderia fornecer palavras de apoio ao meu amigo como fizera com Minseok naquela noite, porque, diferente do segundo, Yixing era importante para mim, e mais do que acalentá-lo eu devia aconselhá-lo. Colocar as cartas na mesa e falar as verdades que ninguém o faria.

— Eu estou. Pela primeira vez em anos, eu estou fazendo a coisa certa, Luhan. — insistiu, sem dar brecha para persuasão.

Assenti minimamente, observando-o com cuidado.

First TimeWhere stories live. Discover now