Capítulo 7
Eram as primeiras horas da manhã, recostado em um catre velho coberto por um pano puído estava um homem com um olhar quase doentio. Nas janelas, pesadas cortinas de gorgorão sujas e desfiadas cumpriam seu papel de escurecer o ambiente afastando qualquer possibilidade da claridade do sol entrar. O ar estava rarefeito e infestado de poeira, tinha um cheiro de mofo. De certa forma o ambiente decadente cabia bem ao espírito de Severo Snape, ele que outrora fora um professor, agora era um fugitivo, perdido entre seus sentimentos e suas culpas.
Severo fez como lhe foi pedido por Dumbledore, depois de matá-lo, procurou um local seguro para se esconder e esperar por seu enviado. Havia perguntado ao velho, durante os meses que antecederam a execução do plano, quem ele enviaria a sua procura e só obteve uma resposta "tudo há seu tempo meu rapaz, tudo há seu tempo".
Durante aquela madrugada, vagou perdido em busca de um local apropriado.
Acabou em uma rua escura onde vários bêbados cambaleavam a esmo se esbarrando nas paredes, era visivelmente um lugar mal freqüentado, o que Severo achou bom, pois, ele acreditava que em lugares assim, as pessoas eram menos inclinadas a fazerem perguntas e a bisbilhotarem a vida alheia. Avistou um prédio que tinha uma placa avisando de uma vaga. O bruxo decidiu que aquele serviria, caminhou até lá e subiu os pequenos degraus da frente, parou observando a porta que era empenada. Curvou o nariz desdenhosamente, não pensou muito antes de bater firmemente na madeira velha. Foi atendido depois de alguns minutos pelo senhorio, um homem baixo e atarracado com cabelos vermelhos já misturados com brancos. O ruivo parecia que já estava dormindo, mas não o mandou embora, apenas o olhou de cima em baixo com uma cara entre a assustada e a comedida. Severo achou interessante a reação e pensou "se ele soubesse quem eu sou e o que fiz essa noite com certeza não abriria a porta para mim". O homem mandou Snape entrar no pequeno hall e disse:
- O que o senhor deseja? - Severo respondeu lançando no homem um olhar de desprezo - Eu preciso de um apartamento e pela placa que está em sua fachada o senhor tem um a alugar. - o homem o olhou como se perguntasse se ele não sabia que era de madrugada, mas, resolveu negociar, pois, precisava do dinheiro e um inquilino seria bem vindo. - Eu sou o senhorio do prédio, tenho sim, o imóvel está para ser alugado. Olha, não é grande coisa, fica no sótão, é bem pequeno e tem os ambientes conjugados, o único cômodo separado é o banheiro, se quiser subir para olhar eu espero aqui em baixo. - o senhorio estendendo a chave a seu possível locatário. Severo disse - não precisa - pegando a chave - fico com ele, qual é o preço? - depois de uma rápida conversa sobre valores e condições de locação, o senhorio recebeu o dinheiro do aluguel que Snape lhe ofereceu e o bruxo subiu a escada a passos largos só parando defronte a porta de seu esconderijo, enfiou a chave na fechadura e entrou, olhou pela janela e sorriu ironicamente, estava certo quanto às peculiaridades daquele tipo de lugar, o homem que, agora era seu senhorio, como ele suspeitou que fosse fazer não se preocupou em saber o seu nome ou qualquer outra informação pessoal, apenas lhe avisou que o imóvel era familiar e que não queria confusões com a polícia. Snape achou graça dos receios do ruivo, se ele pensava que a pior coisa que podia acontecer ali, com a presença dele, era uma aparição da polícia, com certeza ele poderia se surpreender, no entanto, Severo esperava passar sua estada sem intempéries. Notou que o apartamento era pequeno e tinha pouca mobília, um velho catre para servir de cama, uma mesa e dois bancos. Em anexo existia um pequeno banheiro e ao fundo uma pia de cozinha e um fogão a gás. Na parede embaixo da única janela estava o radiador do aquecedor que tinha a tinta bege toda descascada. Snape depois de ter feito uma pequena revista no local, fechou as cortinas pondo o ambiente em uma penumbra deprimente. Andou a passos rápidos até o meio do aposento, sacou sua varinha de sua manga e começou a fazer as proteções mágicas básicas, pois, ele não queria que alguém aparatasse bem no meio de seu "distinto" quarto. Dando-se por satisfeito com o resultado de seus feitiços, deitou no catre e começou a lembrar-se das horas anteriores, desde o assassinato do velho até sua chegada junto a Voldemort naquela noite.