Capítulo 4

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Abelar sentia-se traído pelo tempo. Um ano mais novo do que Derek, portanto sentenciado a ser apenas um substituto caso tudo desse errado para seu irmão mais velho.

Após o grande conflito com o feiticeiro Rothbart, Derek e Odette se casaram, unindo dessa forma seus dois reinos. Abelar viu seu desejo de se tornar rei esvair-se por completo à medida que o amor entre seu irmão e a princesa encantada só aumentava e o ápice se deu com o anúncio de que um herdeiro estava prestes a chegar.

Ambos os reinos, agora unidos em apenas um, entraram em uma grande festa. A maior já vista por aqueles lados da floresta encantada. Todas as fadas passaram a concentrar sua atenção nos príncipes, agora rei e rainha afortunados que não perceberam a movimentação no mundo dos duendes.

— Abelar! Abelar! Abelar!

A voz estridente de Rumpelstiltskin cantarolava dentro da cabeça do príncipe invejoso.

— O que quer, ser das trevas? — Abelar colocou as duas mãos sobre os ouvidos, tentando se livrar daquela voz irritante.

— Realizar o seu desejo, caro Abelar!

Apenas a voz dentro de sua cabeça se materializava, enquanto Abelar corria os olhos por todos os cantos de seus aposentos.

— Não fiz nenhum desejo! Para nenhum ser estúpido desse mundo!

— Ah! Fez sim, Abelar!

E, como mágica, a pequena criatura asquerosa se materializou diante de seus olhos. Com asco, Abelar o encarava e era justamente esse o desejo do duende mais temido do mundo encantado.

— Eu posso realizar. Sabes que posso, e por isso me chamou.

— Não o chamei!

— Eu escutei meu nome ser dito em seus pensamentos por três vezes assim que Derek lhe contou sobre o bebê.

Rumpelstiltskin salivou aquela palavra como se já sentisse o gosto de sua carne descendo pela garganta.

— Eu posso fazer o que deseja. Em troca, levarei essa criança.

— Meu irmão jamais o deixará chegar perto desse bebê.

— Se você seguir meus ensinamentos, se tornará ainda mais poderoso que Rothbart e Derek nunca suspeitará do que aconteceu com essa criança. Confio em você, Abelar.

— Suma daqui, criatura das trevas! Como ousas fazer-me uma proposta dessas?

— Apenas realizo os desejos mais obscuros, caro príncipe, e se anseias ser rei um dia, irá selar o acordo. Por ora deixarei aos seus cuidados o anel de poder que fora de Rothbart. Quando sentir o poder que ele tem, assinará o acordo sem hesitar.

Rumpelstilskin estendeu sua pequena mão no ar e fez materializar o objeto. Um anel de aço escuro com uma gema amarelada. Os olhos capciosos de Abelar encaravam o objeto dançando no ar vindo em sua direção e, sem saber como, estendeu a sua mão e assim que ele tocou sua pele, o duende sumiu e apenas a voz permaneceu dentro da mente de Abelar:

— Amanhã, com o pôr do sol, voltarei e o acordo assinará!

Abelar podia sentir o poder do anel lhe puxando para a escuridão. Rumpelstilskin tinha razão, assim que seu irmão rompeu as portas da biblioteca à sua procura lhe dando a notícia sobre a chegada do seu herdeiro, diria o nome do duende três vezes dentro de sua mente. O seu inconsciente sabia que somente aquele ser poderia acabar com a felicidade daqueles dois e com muita sorte os levaria ao declínio, e assim ele ascenderia como o verdadeiro rei.

O anel em seu dedo criara toda a fantasia em mente. Abelar se viu com as vestimentas do soberano sentado ao trono de ouro, um presente que seu pai havia ganhado do rei Midas há muitos e muitos anos. Conseguir uma esposa seria fácil, qualquer donzela serviria ao seu propósito; depois, com o poder em suas mãos, também se livraria dela. E no final da tarde, com o plano todo traçado, selou o acordo com o duende das trevas.

As Fadas só Podem Estar de BrincadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora