— Maldição!
Um estampido alto ecoou pela biblioteca, quando vários livros foram jogados no chão em um ataque de ira de Abelar.
Desde que seu sobrinho fora para o colégio das fadas, ele enviara seu corvo espião para vigiá-lo e agora saberia que o que mais temia acontecera. Seu sobrinho encontrou o amor verdadeiro e sua ascensão ao trono estava comprometida em definitivo.
— Isso não deveria acontecer! Devia ter mandado matá-lo no caminho para essa escola ridícula! Mas como eu poderia imaginar que aquele desengonçado ia encontrar uma princesa que o quisesse?
Abelar encarava o corvo, que nada lhe respondia.
— Saia daqui, animal inútil!
A ave alçou voo assim que um livro fora jogado em sua direção e ali, sozinho, Abelar seguia em seu desespero. Derek havia limitado suas visitas, de alguma forma o feitiço que lançara no irmão estava perdendo o efeito.
Caminhava sem parar, de um lado para o outro, tentando encontrar em sua mente alguma solução para atingir seus objetivos. Foi quando encarou o objeto alojado em seu dedo anelar. O anel de poder que já fora de Rothbart e que agora lhe pertencia. E no seu desespero, não conseguiu pensar em outra solução senão esta:
— Rumpelstinskin. Rumpelstinskin. Rumpelstinskin!
Abelar evocou o duende do mal, não como da primeira vez, em silêncio e apenas nos seus pensamentos. Dessa vez ele diria o nome três vezes em alto e bom som. O que indicava todo o seu ódio.
Muitos anos haviam se passado desde o seu último encontro com o duende, no dia em que ele levou a primogênita de Derek com Odette, porém não foram suficientes para Abelar esquecer o som daquela risadinha sinistraça.
O céu azulado com o sol radiante mudaria para cinza tempestivo. A brisa suave se tornaria uma intensa ventania. O cantarolar dos pássaros cessou, apenas a risada podia ser ouvida. E no breu da biblioteca, o pequeno duende se materializou.
— Ora, ora, ora! Quem me invoca senão o preterido irmão do rei!? Ainda penando para ocupar o trono!
— Por causa da sua traição, duende maldito!
— Não tenho culpa alguma se não soube realizar seu desejo direito. Por que me invoca?
— Preciso fazer um novo pacto.
— Hum! Rumpelstinskin aprecia muito! O que deseja, príncipe?
— Me tornar rei! E dessa vez para valer! Não me venha com ensinamentos de feitiços, isso não me ajudou da outra vez.
— Porque é um aluno relapso!
Abelar olharia para o duende com mais ódio no olhar e era justamente isso que deixava o duende mais e mais animado. Ele sabia que suas vítimas lhe dariam o que pedisse quando estavam possuídos por esse sentimento.
— O que está lhe impedindo de ser rei?
— Hanelor! Quero que o mate!
— O príncipe herdeiro? Aquele menino feio e esquisito? O príncipe que todos detestam e menosprezam? Rá! Rá!
Rumpelstinskin pulava de um sofá para o outro, deixando Abelar cada vez mais irritado.
— Abelar, você é uma completa decepção! Rothbart deve estar se revirando no submundo que foi lançado. Como esse príncipe insignificante pode lhe ser um obstáculo?
— Ele encontrou seu amor verdadeiro!
Abelar gritaria a plenos pulmões aquelas palavras, fazendo Rumplestinstink parar de zombá-lo. Ele sabia que não tinha como derrotar a força do amor verdadeiro, apenas a morte de um dos envolvidos possibilitaria essa quebra.
— Seu idiota! Como deixou isso acontecer?
— Justamente por ele ser tão insignificante, nunca passou por minha mente que ele encontraria seu amor verdadeiro. — Abelar voltou a andar em círculos pela sala, parando diante do retrato do irmão. — Ele sabia. — Apontou para o retrato. — Derek sabia.
— Onde está o príncipe?
— Na escola das fadas. Maldito Derek!
— Maldita Fada Azul! Estamos com um problemão. Meu poder não é suficiente para transpor a proteção delas naquele lugar.
— Está me dizendo que é impossível? Que porcaria de ser das trevas és??
— Não disse que é impossível, apenas que minha magia não penetra a escola das fadas, mas ele não ficará lá para sempre. Pense, Abelar!
— Isso quer dizer que aceita o acordo?
— Tudo tem seu preço...
— Eu aceito! Escolha qualquer bebê...
— Não irei levar um bebê dessa vez.
— Então o que deseja?
— O seu primogênito.
Abelar pararia de andar. E de costas para o duende, ele tentava entender o que aquelas palavras significavam. Seu primogênito. O único filho que teve em uma tentativa desesperada para conseguir o trono de Derek. O filho que teve com a mulher que nunca amou e que nunca mais tocou depois que ele nasceu. O filho que somente manteve perto para atender às suas necessidades e anseios. O filho nunca amado, mas necessário.
— Está feito, duende das trevas. Poderá levá-lo. — Abelar caminhou para perto da mesa onde o duende estava em cima e o encarou nos olhos. Eram parecidos com os dos crocodilos, ou seja, repulsivos. — Quando a coroa de Derek estiver na minha cabeça e o povo aclamando meu nome, meu primogênito será seu!
E com o estrondo do raio, o barulho do trovão ensurdeceria Abelar por um momento. Com o riso sinistro se dissipando, o duende desapareceu diante de seus olhos e o sol voltaria a brilhar no reino do Rei Derek.
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As Fadas só Podem Estar de Brincadeira
FantasyQuem disse que é mágico, lindo e perfeito na terra dos contos de fadas não sabe de nada! A princesa Marabel só queria ficar de boas e o príncipe Hanelor só quer curtir seu mau humor pelos corredores de seus castelos, porém existem regras nessas terr...