Capítulo 10

209 36 14
                                    

O alojamento onde as princesas ficavam na escola das fadas estava vazio. Os pertences de Marabel permaneciam lá. Hanelor segurava firme em uma de suas mãos o laço que ela havia usado na noite do jantar. Havia cheiro de rosas contido ali, o mesmo cheiro que ele sentiu quando o beijo aconteceu. Apenas de fechar seus olhos ele conseguia reviver todas as sensações.

— Hanelor! — Babi se aproximou, segurando em uma de suas mãos. — O que vai fazer?

— Preciso encontrá-la. Só não sei como. — Ele encarou com ternura a princesinha ao seu lado, que lhe dava apoio. — Não sei nada sobre ela. Mal conversamos. Se soubesse quais eram suas aspirações, teria um ponto de partida.

— Marabel queria desesperadamente atravessar o portal para o mundo real! — Babi correu até uma das janelas e encarou a floresta encantada. — Ela deve estar atrás do portal.

— Ninguém sabe onde ele fica.

— Talvez as fadas saibam.

— Talvez...

— Precisamos falar com Fada Azul.

Babi pegou na mão de Hanelor e saiu correndo com ele até encontrarem Fada Azul no pátio de entrada do castelo de cristal. Antes que eles pudessem perguntar qualquer coisa, ela disse:

— O portal não fica sob nossos domínios. Apenas os duendes sabem da sua localização exata e se Marabel conseguiu encontrá-lo, talvez esteja correndo perigo.

— O que fazemos? — Hanelor se desesperou mais ainda.

— Siga até o lago perto do seu reino, Hanelor. Vá com o coração aberto e com o pensamento em sua mãe, a Rainha Odette.

— Não sei se vou conseguir. Eu nunca conheci minha mãe. — Os olhos de Hanelor encheram de lágrimas, ele sabia que a morte dela era a responsável pela ausência e falta de amor por parte de seu pai para com ele. Durante muitos anos, se culpou e depois passou a culpar a sua mãe por deixá-los daquela forma. — Ele nunca fala nada sobre ela. Não posso pensar em alguém que nunca conheci nem através de palavras.

— Engano seu, Hanelor. — Fada Azul posicionou-se à sua frente, colocando a mão sobre seu coração. — Ela sempre esteve aqui com você. Bem aqui. Agora vá! Ela irá lhe ajudar.

— Vou chamar Precioso...

— Não, Babi! Essa batalha é de Hanelor. Ele deve ir sozinho.

Fada Azul girou sua varinha de condão no ar e um belo cavalo branco apareceu. Hanelor subiu nele e sumiu a galope no horizonte. Ele não precisava fazer mais nada, o animal sabia exatamente para onde deveria ir. Hanelor só precisava limpar seu coração e manter a mãe em sua mente. A floresta em instantes ficaria para trás, passaria por colinas, depois pradarias, algumas vilas, plantações, mais colinas. Sentia que estava cada vez mais perto do seu reino. Sabia disso porque seu coração passou a bater acelerado e sua mãe já dominava seus pensamentos e ele não sabia como aquilo estava acontecendo. Podia jurar que sempre a conheceu mesmo nunca estando com ela. Primeiro vieram os arbustos para logo depois árvores tomarem conta da paisagem. Iam ficando cada vez maiores, a claridade rareando e então o barulho da água. O lago estava próximo. A brisa fresca dele já era sentida em sua pele. Hanelor desceu do cavalo, seguindo o resto do caminho a pé.

O sol iluminava a clareira onde o lago se escondia naquela floresta mágica. Respirou fundo com os olhos fechados e em pensamento chamou por ela. Rainha Odette, sua mãe.

— Mãe, me ajude a encontrar Marabel!

Nada aconteceu. Apenas a calmaria. A brisa suave e alguns pássaros em seu canto faziam com que aquele lugar permanecesse com vida. Hanelor, cansado e sem esperança, deixou seu corpo escorregar ao chão de cascalho e ajoelhou-se. E com os olhos fechados, chorou o choro que deixou guardado por anos dentro do seu peito. O choro da rejeição misturada com a solidão.

As Fadas só Podem Estar de BrincadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora