Capítulo 5

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Os raios do sol apareciam como feixes de luz por entre as copas das árvores, iluminando toda a floresta encantada. Os animais silvestres corriam pela relva alegres e saltitantes, e dentre eles um casal seguia serelepe.

Encontravam-se às escondidas havia quase um ano e a cada dia que passava sentiam a necessidade de estarem cada vez mais próximos. Fora na grandiosa festa de casamento de Florebel que Lindabel e Galante sentiram que pertenciam uma ao outro e também souberam que havia um empecilho a ser ultrapassado: Marabel.

— Ela é muito esquisita e chata, meu amor! Não sei como vamos fazer.

— Precisa pensar em algo, minha doce e encantadora princesa, já não aguento mais ficar longe dos seus braços, quanto mais dos seus beijos!

Galante enlaça Lindabel, colando-a em seu corpo alto e atlético, mais do que seu irmão Charmoso. Era considerado o príncipe mais bonito dessa geração e Lindabel sentia-se a princesa mais sortuda por ter conseguido fisgá-lo. Se Marabel fosse próxima de sua irmã mais nova, teria revirado os olhos ou até mesmo lhe dado algum cascudos. Marabel achava repulsivos tais comportamentos de certas princesas que colocavam esses príncipes como centro de suas atenções e salvadores.

Deitados na grama macia perto do lago, o casal avançou com seus beijos, acrescentando carícias impróprias, até que os passarinhos, coelhos e esquilos se colocaram entre eles, impedindo que algo irreversível acontecesse. E no outro dia acontecia e as cenas se repetiam, até que já estava difícil disfarçar o desejo que levavam no olhar.

Rumores chegaram aos ouvidos do grande e imponente rei Seal. Algo deveria ser feito. Pediu conselho à grande fada Azul.

— Me chamou, grande soberano. — Fada Azul apareceu diante dos olhos ávidos do Rei Seal, com seu semblante compassivo, que raramente mudava.

— Preciso lhe fazer uma pergunta, fada.

— Pois a faça!

— Teria Lindabel encontrado seu verdadeiro amor?

Fada Azul o encarou pensativa. Não havia resposta correta para aquela pergunta, apenas o casal podia sentir essa conexão.

— Rei Seal, essa é uma pergunta sem resposta. Apenas podemos guiá-los, a verdade permanece dentro deles.

— Tenho medo daquilo ser apenas fogo de palha. Os tempos estão mudando e eles andam trocando de pretendentes como trocam de vestes.

— Entendo a sua preocupação, Rei Seal. Até na escola das fadas não é 100% eficaz o casal que formamos. Terás de confiar em sua filha. Somente ela poderá lhe dar essa resposta.

E era justamente isso que Rei Seal temia. Diferente de Florebel, que sempre se mostrou sensata, pacata e obediente, Lindabel era afoita e ansiosa. Se quisesse muito algo, não se intimidava em mentir.

— Mandou me chamar, meu pai?

— Sim, minha filha, sente-se.

Lindabel sentou-se diante da grande mesa da biblioteca do castelo, local onde o pai passava a maior parte do seu tempo.

— Precisamos falar sobre Galante.

— Oi? Galante?

— Não se faça de dissimulada comigo, menina! Já sei de tudo!

— O que esses fofoqueiros vieram lhe contar?

— Que andas passando dos limites aceitáveis para uma donzela. E pior! Para uma princesa!

— Ah! Pai, nos amamos tanto!

— E por que não me procurou? Por que que raios aquele príncipe não veio lhe pedir a mão em namoro?

— Porque o senhor não iria deixar!

— De onde tirou isso?

— Ué! Simples. Uma das leis do reino encantado é que uma princesa só pode se comprometer quando a mais velha se casar, e como Marabel não mexe um pauzinho sequer eu ficarei sozinha para todo o sempre! — Lindabel colocou-se a chorar, mas nenhuma lágrima caía de seus olhos. Puro drama para convencer seu pai que a irmã era um martírio em sua pobre vida. — O senhor precisa fazer alguma coisa! Marabel precisa se casar para que eu possa viver o meu amor verdadeiro, porque é sim amor verdadeiro o que eu e Galante temos e nem precisamos ir para escola das fadas para descobrir!

Rei Seal encarou a filha com ressalvas, porém concordava com alguns pontos. Já havia passado da hora de Marabel ser desposada. Como pôde permitir aquilo por tanto tempo? Talvez para não entrar em conflito com a sua filha do meio, que o desafiava apenas com o olhar e aquilo o enervava, e por conta disso simplesmente a ignorava.

— Fedora, minha esposa e rainha, precisamos fazer algo a respeito de Marabel. Já passou da hora de se casar.

— Meu amado esposo, temo que não seja uma tarefa fácil. Eu já tentei persuadi-la inúmeras vezes. Levo-a sempre que posso comigo nos chás da tarde em outros reinos e a menina só arruma confusão com seus pensamentos absurdos sobre mulheres estarem sendo oprimidas. Olha isso!

Rei Seal nada disse à esposa; por mais absurdos que parecessem, os discursos da filha lhe causavam muito orgulho, mas jamais poderia apoiá-los. Certamente todos os outros reis lhe virariam as costas, o que reforçava seu distanciamento da filha.

— Então não vejo outra opção senão mandá-la para o colégio das fadas. Marabel precisa se casar, senão teremos problemas maiores com Lindabel e Galante.

No jantar do dia seguinte, Rei Seal informou para Marabel que ela deveria se casar e, como esperado, a princesa se negou. Uma discussão aconteceu com quase a promessa de colocá-la presa na torre como aconteceu com Rapunzel, mas aquilo não resolveria o problema de Lindabel. Não vendo mais alternativas, encaminhou a filha para o colégio das fadas no meio da floresta encantada.

Na despedida nas escadarias do seu grande Palácio de Mármore, Rei Seal viu desprezo e frustação no olhar da filha do meio e felicidade e entusiasmo na filha mais nova. Sacrifícios devem ser feitos, foi o que pensou.

Lindabel, assim que o pai se distraiu, saiu correndo para o encontro de todo dia perto da cachoeira com seu príncipe; precisava lhe contar a grande novidade.

— Galante! Galante!

— Minha linda princesa, por que estás tão eufórica?

— Meu pai mandou Marabel para a escola das fadas!

— Oi?

— Isso, meu amor! Meu pai mandou Marabel para a escola das fadas. Lá ela vai encontrar seu par e se casará e assim poderemos ficar juntos finalmente!

O olhar de Galante mudou. Algo como um: "fodeu"! Ele gostava de Lindabel, mas certamente não era com ela que gostaria de se casar, a verdade é que ele gostava desses momentos às escondidas, detestaria ter alguém lhe controlando no dia a dia e Lindabel seria dessas princesas pegajosas. Ficou com ela justamente porque sabia do gênio forte e atribulado da irmã e a sua negativa em se casar o ajudaria a apenas ter momentos divertidos e felizes com Lindabel sem precisar firmar um compromisso. Por conta disso, não conseguia comemorar a ida de Marabel para a escola das fadas.

Lindabel na sua euforia ignorou o sinal claro como cristal do seu amado príncipe e o envolveu em seus braços, lhe ofertando naquele momento muito mais do que seus lindos e doces lábios. Dormiria feliz e esperançosa naquela noite estrelada. Em breve seria dele. Única e inteiramente dele. Já o príncipe Galante tinha outros planos e em nada envolviam Lindabel.

As Fadas só Podem Estar de BrincadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora