Capítulo 9

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Os lábios se distanciavam. Os olhos abriam vagarosamente, saindo do transe em que se encontravam quando o beijo genuíno aconteceu. As trombetas e os fogos cessaram e Marabel, em sua confusão de sentimentos, fez a única coisa racional que sua mente processou: saiu correndo dali.

Hanelor permaneceu estático em seu lugar, ainda sentindo o gosto adocicado dos lábios de Marabel e o calor do corpo dissipando do contato com o seu. Conforme as sensações se distanciavam junto com Marabel, o vazio tornou a lhe preencher.

— O que foi aquilo? — Babi, com os olhos arregalados, encarava Precioso.

— Acho que foi a conexão que Fada Azul nos disse. — Precioso respondeu, incrédulo com tudo aquilo.

— Isso só pode ser brincadeira mesmo! — Bananéia se soltou de Esdron e caminhou para o centro da sala de dança, totalmente revoltada. — Esses dois serem o casal genuíno é ultrajante!

— Basta, Bananéia! — Fada Azul a repreendeu. — Hanelor... estás bem?

— Ele tá perplexo! — Esdron caminhou até Hanelor, estalando seus dedos diante do seu rosto. — Viu? Nem se mexe.

— Esdron! Para com isso!

Precioso puxou Esdron pelo braço, o tirando de perto de Hanelor. Fada Azul se aproximou do príncipe, segurando com carinho em seu rosto.

— Hanelor! — O olhar dele encontrou o dela. — Muito bem. Aconteceu, querido. Vocês foram destinados um para o outro, não há mais dúvidas. Porém...

— Marabel não concorda com isso. — Bananéia se intrometeu novamente.

— Não dê atenção a ela... — Fada Azul seguiu sob o olhar atento de Hanelor. — Ela está tão confusa quanto você, e terás de ter paciência. Agora vá atrás dela.

— E se ela não quiser mais me ver? — Hanelor sentia o medo entrar em seus ossos como se os quebrasse.

— E quem disse que o caminho para o amor verdadeiro seria fácil?

Fada Azul o soltou e Hanelor, ainda hesitante, encarou todos os seres ali presentes. Havia olhares de cumplicidade vindos de Babi e Precioso, de incentivo das fadas, de esperança dos animais encantados e de desprezo de Bananéia e Esdron. Respirou fundo e seguiu pelo mesmo caminho que momentos antes Marabel passou correndo apressada.

Marabel corria sem saber para onde ia. Apenas desejava estar longe daquilo tudo. Aqueles sentimentos a estavam deixando confusa. Não acreditava que o amor verdadeiro poderia acontecer daquela forma, era cética demais para deixar-se levar pelo destino.

O controle dos sentimentos deveria ser racional e não havia nenhuma racionalidade naquilo. Na dança, no contato, nas batidas dos corações, nos olhares e principalmente naquele beijo escandaloso em demasia. E pior. Gostou muito daquele beijo. Ainda sentia o toque macio nos lábios de Hanelor contra o seu à medida que seguia em direção à floresta encantada. Marabel não sabia o quão longe estava do colégio das fadas quando finalmente parou para descansar na clareira de um riacho. O que ela sabia é que jamais voltaria para aquele lugar.

— Isso não deveria ter acontecido! Não comigo! — Marabel encarava as copas das árvores em súplica. — Principalmente comigo, que não desejo me render a essa regra idiota sobre casamentos!

As lágrimas tomaram sua face e o desespero, seu coração, e isso não era um bom sinal. Vibrações assim não atraem coisas boas, nem seres bons, e ali, longe dos domínios das fadas, longe da magia de proteção, qualquer um ficaria à mercê dos seres obscuros. Eles conseguem sentir o cheiro do temor, do pavor, do desespero e sabemos que uma criatura em particular selou um pacto e Marabel poderia ser sua solução.

As Fadas só Podem Estar de BrincadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora