"Ain't this your time of need?
You're turning to the light
You have just begun to explore the dark
In the urban night"- Deus In Absentia, Ghost
A Festa Junina era tempo de celebração. A tradição introduzida as terras brasileiras por portugueses católicos, tinha em seu tema principal o agradecer a santos como São Pedro, São João Batista e/ou Santo Antônio, por graças pessoais alcançadas ou sucesso na época chuvosa dos meses de Abril e Maio, onde as lavouras cresciam e a colheita era fértil.
Não diferente do resto do país, a Festa Junina em Barrinha Bambú era um evento e tanto onde todos na vila e seus arredores se reuniam em peso aos finais de semana. Muitos dos comerciantes locais traziam seus produtos para venda em pequenas barraquinhas ao redor do parque que se dava decorado por bandeirinhas e outros símbolos temáticos da festa e época.
A maioria dos frequentadores estavam fantasiados de "caipira". Alguns realmente eram e com muito orgulho de suas raízes, não precisando de fantasias para participar. Tranças e chapéus de palha, calças e vestidos com retalhos de panos diferentes, camisas quadriculadas e botas de couro eram vistos em todos. Alguns até pintavam suas faces com exagerados círculos vermelhos nas maçãs de seus rostos e as cobriam com visíveis e temporárias sardas.
Algumas das senhorinhas que frequentam a igreja vendiam seus crochês e bordados, em cachecóis ou véus dos quais usavam tradionalmente nas missas dominicais, enquanto outras que traziam quitudes e bebidas se aglomeravam numa improvisada área de alimentação conversavam entre si ao vender seus feitos culinários.
Crianças corriam para lá e para cá comendo pé-de-moleque ou paçoca. Adultos se deliciavam com doses de vinho-quente ou quentão. Quando a famigerada canjica finalmente começou a ser servida, uma fila se formou em questão de minutos, mal dando para servir a todos que entraram nela.
"Calma, calma meus filhos!" O Padre Joaquim que alegremente ajudava a servir a todos, exclama por trás da mesa de plástico, elevando suas mãos. "Já traremos mais canjica! Ninguém sai daqui hoje sem provar da maravilhosa receita da nossa irmã Felícia!" A notícia faz com que a fila que começa a se dispersar fique intacta.
Ao outro lado da área de alimentação estava o pequeno parque de diversões que sempre vinha de Diamantes montar sua velha e enferrujada ferraria em forma de máquinas de médio porte que mesmo com sons que deveriam preocupar alguns saíndo delas, a fila ainda se formava as frentes das mesmas.
Barracas de pintura de rosto também era um sucesso. Oferecendo as opções de ter seu rosto pintado como o de um palhaço ou com borboletas, arco-íris e oncinha, as Professoras do Centro Mirim Janaína e Carina pintavam rostos de todas as idades, e adoravam a chance que tinham de rever seus alunos, tantos os que avançaram para outras séries como os que neste ano estavam em sua classe.
Assim como a ex-aluna de Carina, Viviana Amadeus.
Carina acena de sua cabine de pintura para a garotinha com um sorriso fraco pela culpa que a ainda atormentava desde o dia em que aquilo que as duas mantinham em segredo acontecera. Viviana, que estava na fila para comprar cachorro quente acena de volta para a ex-professora que não via há tempos quando é chamada pela vendedora.
"O cachorro quente é dois reais." A mulher que masca chicletes diz.
"Mas eu não tenho dinheiro, tia."
"Cadê os seus pais menina?" A mulher faz uma careta impaciente e olha ao redor de sua barraca.
"Morreram." Viviana responde já sabendo o que aquela resposta faria. Sempre que dizia as pessoas que nçao tinha pais, por algum motivo do qual não entendia, sentiam pena dela e mais propensos a dar-lhe o que queria. Viviana aprendeu isso e usava o truque sempre que podia.
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HARESIS DEA
ParanormalEmbalada pelo calor da madrugada de Barrinha Bambú, cidade interiorana de São Paulo, uma garotinha decide ir até o quarto ao lado do seu e se aninhar ao corpo em decomposição de sua irmã mais velha, numa forma de escapar da estranha presença que per...