Nocturnal Me

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"Whatever burns, burns eternally
So take me in turns internally
When I'm on fire
My body will be
Forever yours... "

- Nocturnal Me, Ghost (cover) 

"Você só poderá ir se cumprir com suas tarefas, mocinha!" Jacinta repete firmemente a cláusula imposta a neta. 

"Mas vó..." A menina faz cara de choro e bate o pé. "Eu quero ir agora! Eu faço tudo amanhã, eu prometo!" Viviana barganha esperançosa.

Jacinta cruza os braços, quase perdendo a paciência com a neta que está prestes a completar dez anos de idade e a cada dia que passa crescia em tamanho e rebeldia. "Você disse isso ontem e antes de ontem, Viviana. Essas são as regras! Se quer ir a Festa Junina, só vou te levar quando terminar de arrumar seu quarto e fazer as tarefas da escola." 

Viviana bufa e com uma careta vira as costas para a avó num claro sinal de birra. Sem paciência ou vontade de continuar um confronto desnecessário, Jacinta apenas fecha a porta do quarto da pequena, duvidando de que sua palavra final seria ouvida pela neta.

Viviana cresce rápido demais. De todas as Amadeus que Jacinta cuidara, Viviana apesar de muito amorosa, definitivamente era a mais teimosa e ficava cada dia mais afrontosa. Obedecia quando queria. E quando não queria, Jacinta se via forçada a ter que tirar os poucos mimos que entretiam a mente fértil e ativa da neta que parecia viver eternamente em lépidas frequências. 

Apesar de fazer a maioria das coisas que era ordenada, Viviana se queixava toda vez que tinha que fazer os afazeres da escola. Por ser uma menina muito inteligente, a grade escolar a entediava profundamente. Ás vezes até escondia o fato de que tinha lição de casa para entregar durante a semana até que a avó, ao colocar o lanche escolar na bolsa da garota, encontrava na mochila os papéis com as tarefas que deveria cumprir: todos amassados e incompletos. 

E ao invés de respostas aos problemas matemáticos ou as questões de interpretação de texto, os papéis tinham em si desenhos deveras peculiares. 

Jacinta estudava o quão boa a garotinha era em desenhar, ao menos para aquela idade. Viviana dominou a arte de delinear um homem numa silhueta quase perfeita em preto e branco, com ricos detalhes em um chapéu e bengala. A figura estava na grande maioria dos papéis e cadernos que a menina tinha. "Cardinal" uma praticada escrita dizia em alguns deles. Mesmo admirada com o aparente talento, a avó acabava por perder a paciência com a menina por gastar tanto material escolar com o mesmo desenho ao invés das lições escolares.

Preguiça era outro mal de sua neta da qual Jacinta se via no dever de cortar pela raíz. Diferente de sua mãe Lucia que sempre se apresentava em prontidão para ajudar nas tarefas pesadas do rancho, Viviana se arrastava para não fazer as mais leves como por exemplo, cuidar do coelho qual insistiu em ganhar no seu aniversário de sete anos. 

Jacinta sempre conversava com a garota sobre a responsabilidade de se cuidar de um bichinho, especialmente um a quem se clama amar. Viviana brincava com o bicho dia e noite mas se esquecia dos cuidados básicos que tinha que ter com o animal, até que ele sumiu há um mês atrás, fruto da netinha esquecer a portilha da jaula do bicho aberta. Jacinta insistia com a menina que se houvesse mais cuidado, isso não aconteceria.

Carinhosa, porém respondona. Esta é Viviana Amadeus. Levava uns puxões de orelha aqui e ali, daí se redimia com os avós logo em seguida com um meigo sorriso mas depois aprontava de novo. Dona Jacinta não sabia se esse comportamento era influência dos tempos modernos através da televisão que a deixava ver com certa frequência ou se vinha da convivência com outras crianças de gênio difícil e mimadas frutos de pais ocupados demais para dar educação á elas. De qualquer forma, tinha que pôr certos limites para que a neta crescesse com dignidade e caráter. 

HARESIS DEAOnde histórias criam vida. Descubra agora