"Pathetic humans in despair
Defaced, deflowered, now to death devout
A fallen angel in his glare
In midst of sinners kneeling down before His clout"Majesty, Ghost
(eu amo essa música demais kct!)
Com todas as suas forças.
Com pesada pá em mãos.
Entre pesadas investidas e doloridas arfadas que talham sua caixa toráxica.
Viviana cavava.
A terra parecia querer lutar contra ela. Mesmo assim, a garota não parava. Febril em sua missão de chegar abaixo dos sete palmos onde sua parte do contrato estava, usava vigorosamente o metal imbuido na madeira em sua mão para retirar o barro fétido e pesado que cobria o corpo que prometera á Rainha.
Viviana era pura força, apesar dos finos braços do corpo magro que suava abundantemente na noite quente. Quente como o inferno que queimava em seu peito, ao redor do seu coração. Quente como o sangue pecaminoso e viscoso que corria suas veias. Cruélmente, este fervia. Fervia, pois ela nunca esteve tão próxima de conseguir o que queria.
E o que queria era vê-lo novamente.
A cada minada, um pouco de terra finalmente se movia. Terra na parte metálica da pá, ela jogava para o lado e repetia o processo. Cada centimetri de terra movido, mais próxima dele ela estava. Ao menos mais próxima do que esteve todos esses anos nos quais ele nunca mais lhe pagara uma única visita.
Faz exatos seis anos que ele não aparece.
Ela não mais podia aguentar.
Faltava poucos. Viviana levanta novamente a pesada pá que pegara (sem permissão) do Rancho Amadeus, toma todo o ar que seus pulmões podem estocar e a desce contra o sólo. A lua lhe oferecia de bom grado toda a luz que ela precisava para ver o que fazia. A grande bola branca no céu parecia até sua aliada, assistindo e assistindo a garota na tarefa que lhe fora dada.
Não havia mais nada nem ninguém a seu redor. E mesmo se alguém aparecesse, ela não pararia.
Viviana não percebera, mas o esforço fazia com que algumas lágrimas descessem sem querer por seu rosto. Seu corpo todo já não mais aguentava a intensa atividade física, nem o suor que fazia seu vestido azul-claro florido grudar-se a pele de seu corpo a refrescava mais. Assim como saliva escapava o canto de seus lábios e coriza, suas narinas. Mesmo assim não pararia, mesmo com seus urros de esforço passeando pelo ar por onde quisessem ir e chamando a atenção de que quer que ousasse passear por perto naquele cemitério a noite.
Sua pura ira a fazia encontrar forças para cavar o sacho reprisadamente. Seus pés descalços estavam cobertos de barro, grudava-se a seu corpo até a borda de seus joelhos, subindo mais e mais conforme ela se afundava na terra. Algumas minhocas, agora sem casa, podiam ser vistas perscrutando a pele da menina com o leso arrastar de seus corpos flacidos.
Após o que pareceram horas, finalmente a ponta de seu instrumento alcança algo que se sente e soa mais sólido que o barro. O suscinto som de madeira a faz sorrir brevemente. Eufórica, larga a pá por um momento e se póe de quatro dentro da pequena cratera que fez, e com risadelas cavouca com as próprias mãos, não se importando com o barro que se prende sob suas unhas e agora se agarra por seu corpo todo.
Avistando mais da madeira escura, passa a mão suja sobre esta com um movimento circular.
Um toque carinhoso.
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HARESIS DEA
ParanormalEmbalada pelo calor da madrugada de Barrinha Bambú, cidade interiorana de São Paulo, uma garotinha decide ir até o quarto ao lado do seu e se aninhar ao corpo em decomposição de sua irmã mais velha, numa forma de escapar da estranha presença que per...