Mummy Dust

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You are the possessée of avarice
I am the ruler of the Earth
I will smother you in riches
Until you choke on sordid mirth

-Mummy Dust, Ghost

A imagem a frente do espelho de seu quarto a alegrava. 

Decidira vestir o que sua mãe Lucia vestiu para se casar com seu pai. Sempre imaginou que aquele vestido tinha um significado especial se fora usado numa data romanticamente importante. E ao colocá-lo, não conseguiu evitar imaginar seus pais felizes e amorosos um com o outro, ou no que poderia aprender deles sobre relacionamentos, torcendo os lábios toda vez que ponderava a lástima que era eles não viverem dias suficientes para ensiná-la sobre essas coisas.

Olhando-se no espelho nesse momento, coberta pelo vestido branco e simples de cetim que Jacinta não deixara o tempo amarelar, imaginara o que mais herdara de sua mãe Lucia além da vestimenta e alguns traços físicos. 

Viviana nunca falava muito dos próprios pais ou expressava sentir falta deles, mas lembra bem de como Lucia adorava se adornar antes de sair quando a deixava sob os cuidados de sua irmã Juliana muitas das noites em que viveu em Diamantes. Era inegável que sua mãe fora muito bonita.

Após pentear os despontados cabelos castanhos que chegavam quase a altura de seu umbigo de tão longos, colocou uma fita de renda branca ao redor da cabeça e fez um bonito laço no topo, aprovando como este destacava seus olhos escuros. 

Sorri para si mesma e sai arrastando a cauda comprida do vestido pelo chão de madeira do casebre Amadeus. Sua avó não estaria ali naquela noite, pois participaria da vigilia da igreja no centro de Barrinha Bambu como sempre fazia aos sábados a noite. 

Vai até a cozinha e coloca numa pequena cesta o que preparara para o encontro: bolo de fubá, café, maçãs e as flores frescas que colhera para a ocasião. 

Tudo estava pronto. Já tinha as palavras necessárias para invocá-lo, mantê-lo aonde queria. Em sua mente, diferentes imagens e possibilidades de como a noite poderia acontecer. Usaria tudo que a Rainha Elizabeth lhe contara, e manteria Cardinal para si.

É disso que a Amadeus era feita, de ferrenha vontade e inocente soberba. 

"Ghuleh." Diz a palavra para si. Nunca, nunca se importou com o que isso significava, nunca quis que isso significasse algo. Mas esta era ela: a renovação da linhagem de Cardinal. Um cavaleiro do apocalipse. Talvez não fosse bom prender um destes em seus celeiros, o pensamento adentra a mente da menina por um instante. De todo conhecimento religioso que ela tinha -e confessa com certa preguiça que não era muito apesar das insistentes tentativas de Jacinta- lembra-se que nunca ouvira nada bom a respeito deles. "Vão destruir o mundo, ou algo do tipo." Múrmura para si, dando de ombros com a irrelevância da informação.

Mas se nunca ligara para avisos divinos através de livros antigos, decidira que não ligaria também para informes de uma defunta qualquer. Sabia em seu cerne que Cardinal foi feito para ela, com ou sem contos apocalípticos. 

Uma onda de excitação a toma, e ela não consegue segurar o sorriso bobo. Ali mesmo da cozinha do casebre vazio, corta a pele do dedo com uma mordida profunda e dolorida, extraindo sangue em seguida, erguendo o vestido e a perna. Começa a recitar as palavras que aprendera com Elizabeth, enquanto desenhava com seu próprio sangue na pele de sua coxa, o símbolo de seu vínculo com o cavaleiro da pestilência. 

A garota tem a leve impressão de que o chão tremeu. Mas sua pele queima com tanto vigor que ela deixa o pequeno terremoto para lá;  Uma fome súbita e aguda por carne vermelha e banhada em sangue ainda quente a toma, forçando-a a fechar seus olhos e morder o lábio inferior para terminar de falar as palavras cabalisticas. 

HARESIS DEAOnde histórias criam vida. Descubra agora