You are cast out from the heavens to the ground
Blackened feathers falling down
You will wear your independence like a crown-From The Pinnacle To The Pit, Ghost
A água era fria e densa. O mergulho no poço foi mais profundo e demorado do que imaginou que seria.
Podia sentir a ossada flutuando a seu lado, apesar de não poder abrir os olhos devido a água, agora espessa e vermelha, fruto do primeiro sangue da ghuleh. Sem poder abrir muitos os braços devido a largura do poço antigo, espera em um flutuar paciente que as palavras diretrizes de seu rito surtissem o efeito ordenado por sua boca e gestos.
Os ossos se alinham a ela, movendo-se sozinhos por entre as águas, colando-se a pele da rainha um a um em cada parte exata de onde deveriam pertencer em um corpo humano. Um quebra-cabeças litúrgico e preciso, que se deslocava solitário obedecendo apenas a quem os mandou se coordenar.
Tangentes a rainha, a conjunção destes com seu apodrecido espírito estava mais dolorido que previu. O fundir de velho e novo, concreto e abstrato, vivo e morto amolgavam-se com barulhos não só do ato em si, mas também do subsolo que envolvia o momento aquático.
Suportando até o fim, a mulher bate os pés até a superfície do poço sem medo de gastar suas forças, já que mover-se sempre consumiu-lhe energias espirituais demais, e sempre teve que reservá-las, ainda que ficasse imóvel nas noites que passara no quarto da criança Amadeus. Mesmo em abismado silêncio, aquilo lhe exauria. Porém, precisava fazer aquilo. Precisava estar perto o suficiente quando o sangue que a traria de volta a vida finalmente descesse.
E tudo o que fez trouxe resultado! Todos os séculos de espera, todas as ânsias e trocas de favores, informações com quem pudesse ao longos dos séculos, tentando se esconder em sombras dos malditos irmãos que não lhe deram nada do que prometeram.
Agora verdadeiramente revivia!
Pisava fora do poço e já pode sentir suas fibras, carnes, ossos. Formada estava uma nova Elizabeth Bathory. Mesmo que tivesse que ficar no corpo da rhalveh que precedia a ghuleh, não importava-se com a aparência a nova aparência, e sim com o fato de que agora poderia viver para sempre.
Como sempre quisera.
Contudo, mesmo com alegria afobada do feito, não podia deixar de perceber que uma suspeita sensação se alastrava por seu novo corpo.
Virando-se para o poço ainda cheio de águas vermelhas, exclama palavras para que estas fiquem cristalinas novamente; Aproveitando a chama do fogo que ainda brilha fortemente na capacidade refletiva do líquido, observa naquele espelho natural sua nova face.
O grito amaldiçoador que saiu de sua garganta espantou em ecos dezenas de pássaros que dormiam em seus ninhos, causando um farfalhar de folhas e galhos que embora sonoros e próximos, não puderam ser ouvidos no Rancho Amadeus.
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"Me desconjure imediatamente, criança. Isso é uma ordem." Cardinal comanda de dentro do círculo.
"Não! Você é meu. MEU! E vai ficar aí até entender isso." Viviana proclama. "Eu estou cansada de suas ordens. Obedeci até agora e o que eu ganho em troca? NADA!"
"Ganha sua própria proteção. Sua infantil soberba não lhe permite ver isso, mas imagino que entenda que entre seus iguais um rastro de corpos humanos por onde andasse chamaria muito atenção, não concorda?" A voz do cavaleiro era calma e baixa. Por um momento não acreditava que estava a barganhar com uma garota obtusa ao mundo que a cerca, mas ao mesmo tempo, sabia que era necessário. A garota estava certa. Cardinal precisava dela para viver e sem continuar sua linhagem, suas tentativas de reverter o fim de todos os caídos iriam para o ralo.
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HARESIS DEA
ParanormalEmbalada pelo calor da madrugada de Barrinha Bambú, cidade interiorana de São Paulo, uma garotinha decide ir até o quarto ao lado do seu e se aninhar ao corpo em decomposição de sua irmã mais velha, numa forma de escapar da estranha presença que per...