3.0 - Smoke and mirrors

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“Então a porta se abriu e o vento apareceu
As velas foram assopradas e então desapareceram
As cortinas voaram e então ele apareceu (dizendo 'não tenha medo')
Venha, querida (e ela não temia)
E ela correu para ele (então eles começaram a voar)”
— Don’t Fear (the Reaper), Blue Öyster Cult

QG da UNIT, Inglaterra, 1973.

O barulho de teclas dentro daquela sala era quase infernal. Clara já estava cansada de tanto ouvir o “tec tec” das máquinas de escrever, que apostava que quando fosse embora para casa, aquele barulho ainda estaria ecoando em seus ouvidos. E também tinha certeza que os seus dedos estariam doloridos de tanto afundá-los naquelas teclas duras. E pensar que ela ainda teria ao menos mais uma meia dúzia de relatórios para digitar... Fora as pausas que ela fazia vez ou outra para atender uma ligação.

Em um breve segundo de distração, olhando para sua colega de trabalho que colocava tachas em um mapa fixado na parede — aliás, o que Sharon estava marcando naquilo mesmo? Aquele dia estava tão movimentado, que Clara até chegava a confundir os chamados —, acabou errando uma linha no texto que digitava. Praguejando, arrancou a folha da máquina e jogou-a no lixo, junto de mais algumas bolas de papel largadas no cesto. Com um bufar, pegou outra folha limpa e começou a encaixá-la na máquina, rodando o mecanismo para deixá-la na linha desejada.

Estralando os dedos, olhou ao redor, vendo que todos naquela sala estavam mais ocupados em seus trabalhos, fosse digitando relatórios iguais a ela, falando ao telefone — que nunca paravam de tocar — ou pregando tachinhas em mapas na parede. Com um suspiro profundo, sentindo uma dor no pulso e em toda a extensão da mão, decidiu que precisava de um café. Cinco minutos, apenas isso.

Levantou-se e atravessou a sala, sendo ignorada por todos, que estavam mais preocupados em seus próprios trabalhos. Pegou um dos pequenos copos e encheu de café. Levou-o até a boca e fez uma careta, sentindo o sabor amargo causar-lhe um arrepio. Quem preparou aquilo?!

— Senhorita Oswin — Sargento Benton a cumprimentou, parando ao lado da morena e pegando um copinho descartável.

— Sargento Benton — ela devolveu o cumprimento tentando esboçar um sorriso, mas o máximo que deve ter conseguido foi fazer uma careta, ainda sentindo o amargo do café impregnado na boca. — Que dia movimentado hoje — continuou puxando conversa com o sargento. Distraída, acabou tomando outra golada de café, fazendo mais uma careta. Ela devia atirar aquilo no lixo...

— Nem me fale — o homem soltou como em uma risada soprada. — O Brigadeiro está quase soltando fogo pelas ventas com o Mestre atacando novamente. — Benton encheu o copinho de café e tomou, fazendo uma careta logo em seguida. — Nunca acertam no ponto desse café — reclamou e Clara assentiu em concordância, jogando seu copo plástico na lixeira. O sargento ao seu lado fez o mesmo.

Decidido a beber algo, encheu dois copos plásticos com água, dando um à secretária. Ela agradeceu e bebeu, aliviada por tirar um pouco daquele gosto da boca.

— Ele de novo? — retorquiu a informação. Devia ser pelo menos... A segunda ou terceira vez que aquele tal de Mestre atacava a Terra. Só naquela semana.

O sargento assentiu, terminando de beber a água em um gole só e descartando o copo.

— O Doutor está trancado no laboratório dele, tentando inventar algo para reverter a máquina que o Mestre criou — ele explicou a situação por cima, talvez um pouco com pressa.

Clara abriu a boca para continuar a conversa, quando a voz do Brigadeiro Lethbridge-Stewart trovejou na sala, alarmando a todos:

— Benton! — Na mesma hora, o sargento se virou, de prontidão ao chamado. — Chame Yates e reúna alguns homens, o Mestre está no prédio. Rápido, homem! — ordenou e, de prontidão, Benton saiu o mais rápido para cumprir o que lhe fora designado.

Memento MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora