5.0 - Shatter me

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“Hoje eu me apresentei
Para meus próprios sentimentos
Em silenciosa cerimônia, depois de todos esses anos
Eles falaram comigo, depois de todos esses anos.

Talvez eu sempre soubesse
Que meus sonhos frágeis se quebrariam por você.”
— Fragile Dreams, Anathema

Planeta Zyta-4, colônia terrestre, 2078.

Clara fechou as pontas do robe de seda fina e cara sobre o vestido leve que usava por baixo. O mordomo havia se retirado, deixando que sua senhora atendesse o visitante. Clara desceu as escadas do casarão com graça e delicadeza, adentrando a sala guardada por um silêncio pacífico.

— Oh, olá — o estranho de cabelos loiros e roupas claras cumprimentou com um sorriso educado assim que Clara adentrou a sala suntuosa de sua própria casa. — Ouvi dizer que seu marido ainda não está em casa, certo? Muito simpático o mordomo de vocês, a propósito — ele de pronto começou a falar, aparentando não estar intimidado frente a uma mulher tão importante como ela.

A jovem aristocrata analisou-o de cima a baixo, ponderando que assuntos aquele sujeito poderia ter com Geoffrey, seu marido. Não que ela fosse questionar que tipo de pessoas ele deixava ou não de falar, afinal, o braço direito do primeiro ministro possuía inúmeros contatos diferentes.

— Ele devia ter chegado há mais de uma hora... — Clara soltou pensativa. Era de certa forma curioso ela estar se sentindo à vontade naquela conversa, revelando suas próprias dúvidas.

Geoffrey andava realmente estranho, frívolo, de certa forma, havia cerca de duas semanas até ali. Passando mais tempo que o normal fora de casa, entrando e saindo em horários incomuns... Ele afirmava ser o trabalho no governo, que estava mais pesado com o objetivo de organizar uma recepção para os representantes do planeta vizinho, Pyton, tendo em vista o firmar de novos negócios entre as duas civilizações. Tudo devia ser pensado nos mínimos detalhes, ele dizia, para impressionar os convidados. Porém, Clara sentia que havia algo a mais. Geoffrey andava distante, arredio até. Sua intuição dizia para suspeitar de algo errado.

— Geoffrey tem agido um pouco diferente nas últimas semanas, se me permite perguntar? — O convidado soltou logo sua pergunta, revelando o porquê de sua visita. A aristocrata deixou um silêncio pairar no ar brevemente, sequer conhecendo aquele sujeito para ir logo falando de sua própria vida. — Oh, me desculpe, esqueci de me apresentar. Sou o Doutor. — O loiro esticou a mão e cumprimentou-a com um aperto de mão suave e gentil, ainda sorrindo com simpatia. — Eu sou um... Colega de parlamento de Geoffrey.

Os dois terminaram o aperto de mãos e logo o Doutor colocou as próprias mãos dentro dos bolsos de seu casaco de críquete. Aquilo era um aipo pendurado na lapela dele? Bem, cada um com suas manias, Clara pensou. Não que os outros membros do parlamento de Zyta-4 fossem grandes exemplos de moda.

— Ele... — O olhar de Clara cruzou com o do Doutor e a jovem sentiu-se, de alguma forma, à vontade para conversar e contar da própria vida. — Ele tem andado um pouco estranho nos últimos tempos, sim. — Ela cruzou os braços e balançou um pouco a cabeça, lembrando-se da última noite, de quando avistou, pela janela do quarto, Geoffrey saindo do prédio em plena duas horas da manhã. — Vem e vai em horários estranhos, de madrugada, tem retornado cada vez mais tarde do trabalho... Falando nisso, como anda essa recepção de vocês? Geoffrey diz que precisa ficar até tarde para cuidar de tudo... — Clara questionou com curiosidade, sentindo o seu instinto investigativo aflorar. Desde a última noite e a saída na madrugada ela se sentia assim, como se pressentisse algo.

— Bem... — O Doutor pareceu um pouco desconcertado, tirando as mãos do bolso e cruzando-as atrás das costas. Ele limpou a garganta antes de começar a falar. — Temos tido bastante trabalho com a recepção, mas está tudo dentro dos conformes, não precisa se preocupar. — Ele devolveu um sorriso para ela e começou a caminhar lentamente em direção à saída, sem dar as costas para a aristocrata. — Há quanto tempo seu marido tem agido de forma estranha? — O Doutor parou na soleira da porta, pronto para sair daquele prédio e partir logo para a ação.

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