13.0 - Forever

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“Não há chance para nós
Está tudo decido para nós
Esse mundo tem somente um doce momento
Reservado para nós
[...]
Afinal, quem espera para sempre?”
— Who Wants to Live Forever, Queen

França, século XIX.

A Doutora tentava caminhar por entre a multidão, se esquivando de tantas pessoas que parecia que nunca iriam acabar. Seus ouvidos eram preenchidos por conversas e risadas altas, gritos de “extra!” a anunciar as notícias que corriam pela cidade, vendedores que tentavam competir entre si por quem gritava mais alto e conseguia conquistar o cliente... Parecia que estava presa em uma cacofonia que não acabaria nunca mais e por entre uma multidão de pessoas que parecia não ter mais fim.

A senhora do tempo viu-se obrigada a parar quando esbarrou com força contra o corpo de alguém. Ela se recuperou em um instante, olhando para a outra pessoa que estava no chão com inúmeras caixinhas ao seu redor.

— Desculpe, desculpe, sou muito desastrada — pediu amena, com um sorriso que era transparente pela sua voz. Ela se abaixou, segurando o braço daquela mulher pequenina, com o rosto quase todo oculto pela cortina de seus cabelos castanhos. — Tudo b...

A pergunta morreu nos lábios da Doutora assim que a jovem desconhecida ergueu o rosto em sua direção, revelando os grandes olhos castanhos parcialmente ocultos pelos fios escuros. A senhora do tempo encontrou-se sem palavras ao deparar-se com aqueles mesmos olhos que estavam presentes em inúmeras memórias que haviam retornado para sua mente não havia tanto tempo. Inúmeras memórias com aquele rosto que se tornara misterioso em sua mente por anos. Aquelas mesmas memórias que lhe foram devolvidas na forma de um presente de natal.

— Não precisa desculpar-se, senhora, sou eu quem deve fazer isso — a moça devolveu-lhe com um sorriso simpático, enquanto a Doutora permanecia sem saber o que dizer ou como proceder, apenas segurando o braço magro daquele eco de Clara Oswald. — Era eu quem estava no meio do caminho — ao final da frase, ela soltou um riso baixo, trazendo de volta incontáveis lembranças à mente da senhora do tempo, de momentos onde aquele mesmo som doce esteve presente.

— Ah, não tem necessidade disso. Aqui, deixe-me te ajudar. — A Doutora finalmente tomou de volta seus movimentos, soltando o braço da jovem e abaixando-se para ajudá-la a recolher as várias caixinhas que estavam caídas aos pés das duas.

Ao redor, o mundo continuava com as pessoas caminhando sem parar e o vilarejo preso na mesma cacofonia de sempre, enquanto aquela dupla estava presa em uma pequena bolha em um momento somente delas.

Em poucos instantes, as caixas de fósforo retornam para a cesta de vime que também se encontrava pelo chão.

— Obrigada, senhora — a vendedora de fósforos agradeceu a gentileza da outra, devolvendo para ela um sorriso que chegava aos olhos castanhos cheios de vida.

A Doutora acabou-se perdendo por entre as palavras, apenas retribuindo o sorriso, mais perdida em analisar aquele rosto com as mesmas feições que conhecia tão bem. O sorriso em uma mistura de alegria e mistério, os olhos grandes e sempre curiosos, os traços suaves, os cabelos escuros a tampar-lhe parte do rosto, o corpo pequeno e delicado... Tudo lhe remetia à Clara Oswald, exceto... Exceto que aquela jovem não a conhecia, ela nunca conheceu alguém chamado Doutor, ou Doutora. E quando conhecesse...

— Deseja comprar fósforos? — a vendedora ofereceu, aproveitando a breve oportunidade em que alguém finalmente prestava atenção nela no meio daquela multidão. Ela sempre era ignorada com tanta coisa acontecendo ao redor.

— Obrigada, mas eu... — O que tinha que fazer mesmo? Estava na ponta da língua... — Preciso encontrar alguns amigos meus, eles estão perdidos por aí. — Algumas coisas nunca mudavam, entre elas, seus companheiros de viagem sempre perambulando por aí, com a aventura sempre ao seu encalço.

— Bem, boa sorte — a jovem desejou com sinceridade, ajeitando a cesta com as caixas de fósforo debaixo do braço. — É difícil encontrar alguém no meio dessa multidão.

— Realmente... — a Doutora murmurou, com seus olhos presos em analisar aquele rosto por uma última vez, querendo guardar aquela visão com os novos olhos de sua regeneração. — Bem, tenho que ir. Boa sorte para você. Só tome cuidado por aí... Clara — ela alertou, sabendo qual seria o destino daquele eco com o qual conversava.

— Como você sabe o meu nome? — Clara questionou, arregalando os olhos em surpresa. Até mesmo os mínimos detalhes eram idênticos entre elas...

A Doutora engoliu em seco, finalmente notando aqueles pequenos detalhes que suas encarnações sempre deixavam passar. Ao menos, esse tipo de coisa não aconteceria nunca mais. Ela nunca mais deixaria que um eco de Clara passasse por si sem ao menos vê-la. Clara jamais seria ignorada novamente.

— Você tem cara de Clara — respondeu, gerando um riso espontâneo na outra. Seus lábios formaram um sorriso, enquanto seus olhos e sua mente perdiam-se em observar aquela mulher por um último instante.

— Eu nunca tinha pensado que eu tinha cara de algum nome — devolveu ainda achando graça, encarando a senhora do tempo com um par de olhos brilhantes.

Apesar de tentador, ainda não era hora. Aquela vida ainda tinha muito o que aproveitar, a Doutora esperava. Sabendo disso, forçou-se a ir embora, lembrando que tinha coisas importantes com o que se preocupar.

Ela se repreendeu mentalmente, pois Clara nunca deixaria de ser importante. Ela apenas... Tinha que esperar a hora certa. Quem sabe mais tarde se encontraria novamente com aquela vendedora de fósforos? Só o tempo diria.

— Tenho que ir. Foi um prazer conhecê-la, Clara. — Dando um último sorriso para aquele rosto delicado, a senhora do tempo começou a se afastar, enfrentando novamente a multidão que continuava seu ritmo por entre as duas.

— Um bom dia para você! — Clara gritou por entre a cacofonia de vozes, sendo perfeitamente ouvida pela Doutora.

A senhora do tempo sorriu, deixando para trás a vendedora que se perdia novamente por entre a multidão.

Mais um eco que se perdia entre o tempo. Mas a Doutora não se importava, pois sabia que a encontraria novamente. Clara sempre a encontraria novamente.

XXX

Bem, é isso. Aqui terminamos a Memento Mori. Agradeço a todos vocês que acompanharam a fic até aqui :D Gostou? Deixa um votinho na história. Quer bater um papo comigo? Sintam-se à vontade nos comentários, amo conversar com vocês <3
Até mais ver, povo o/

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