12.0 - Live & let it die

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A música que aparece no capítulo é a mesma da epígrafe e o link para ela está nas notas finais. Eu intercalei entre a letra original e a tradução, porque ela é realmente importante no texto. Caso a formatação não tenha ficado muito boa, me avisem que eu mudo.

Boa leitura ;)

XXX

“Dentro de seu coração, uma história para ser contada,
Este é o momento de apenas deixar ir.”

— Life Eternal, Ghost

O caminho mais longo para Gallifrey, em algum lugar no tempo.

Clara pressionou os dedos no tronco da árvore que a ocultava, sentindo entrar pequenas lascas de madeira debaixo de suas unhas, que permaneciam do mesmo tamanho de sempre e com a mesma cor de sempre. Tudo em seu corpo era o mesmo de sempre. Exceto seu espírito.

Mesmo com a pressão que fazia no tronco, tentando permanecer escondida, Clara sentiu-se impelida a caminhar até aquele banco de madeira. Assim como a maioria naquele campus, não estava vazio. Este, contudo, era ocupado por uma única pessoa, sozinha e perdida em sua própria música e pensamentos.

O Doutor tocava os acordes com suavidade, fazendo com que as notas se perdessem com o vento de fim de tarde, deslizando de forma precisa os dedos pelo braço da guitarra, transformando aquela canção em uma versão única, contendo seus sentimentos.

Clara tentava manter-se oculta o máximo que podia, portanto, parou a alguns passos de distância do banco, às costas do senhor do tempo. Com as conversas e outros sons no ambiente a céu aberto, achava difícil que alguém ouvisse seu caminhar sobre a grama.

Tentando controlar-se, torcia os dedos de forma nervosa, quase girando sob os calcanhares e dando meia volta para sua própria Tardis. Era arriscado demais, ela sabia, pois, assim que o visse, sua maior vontade seria abraçá-lo, chorar, rir e contar suas histórias, cada coisa de uma vez e com todo o tempo que possuía ao alcance de suas mãos. Ela possuía o universo inteiro ao alcance de seus dedos, bastava apenas apertar um botão ou puxar uma alavanca. Ela tinha tudo, menos o seu melhor amigo.

— É uma bela música, não acha? — Clara sobressaltou-se ao ouvir a voz do Doutor, embalada pelas notas aleatórias que saiam de sua guitarra após o findar da música que tocava anteriormente.

Ele tinha percebido sua presença parada ali atrás. Ele sempre a perceberia, Clara se esquecera. Mesmo que não se recordasse ou reconhecesse o seu rosto, o Doutor sempre perceberia quando ela estivesse por perto, mesmo que fosse a sondá-lo de longe.

— Ela é mesmo... — Clara conseguiu achar alguma voz do fundo da garganta, cortando os últimos passos de distância entre ela e o banco onde estava sentado o Doutor. — Você toca muito bem. — Apoiou o cotovelo sobre a madeira e o queixo sobre a mão, tentando mostrar uma postura descontraída. Ela estava tudo naquele momento, menos descontraída. Porém, sempre fora boa em fingir e mentir, por que não agora?

O Doutor fez um gesto de cabeça, simbolizando um “obrigado”, em seguida, fixou seus olhos azuis no rosto daquela mulher que chegou de repente trazendo um sorriso triste nos lábios. Ela mal parecia dar-se conta da expressão que tomava seu rosto.

— Está tudo bem com você? — o senhor do tempo questionou em um leve tom de preocupação, vendo aqueles olhos castanhos começar a se encherem de lágrimas.

O Doutor virou-se no banco, tentando ter uma visão melhor da desconhecida, ela, entretanto, deu-lhe as costas, secando duas lágrimas fujonas que escapavam de seus olhos. Limpando a garganta, procurou pensar em algo para puxar assunto, afinal, não fora até ali para se desmanchar em lágrimas na frente de seu melhor amigo. E pensar que teria as emoções sob controle depois de tanto tempo... Tanto tempo que até tinha perdido as contas.

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