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O dia amanhece cinzento, como se o mundo soubesse que ele se foi. Minha mãe entra no meu quarto, me acordando de um cochilo que acabei por tirar quando o cansaço e o choro venceram. Ela me diz que o enterro de Jake será as 11. Balanço minha cabeça e ela me dá um beijo na testa, se retirando. Respiro fundo e me arrasto, levantando da cama. Tomo uma chuveirada rápida e coloco um vestido preto, que existe para essas tristes ocasiões. Olho para meu rosto inchado que reflete no espelho, o cabelo solto eu faço um prendo em um rabo de cavalo. Calço um tênis e é isto.
Desço as escadas, mas não antes de pegar o papel com as coisas que escrevi nessa madrugada. Meu pai me dá um abraço consolador. A tensão na casa pode ser sentida. Todos estão prontos, então vamos para o cemitério. Ao chegar lá, quase não há ninguém. Isso parte meu coração mais ainda. Anna chega logo em seguida de mim, Sam e Logan junto com ela. Eles me abraçam calorosamente e se sentam nas cadeiras posicionadas perto do caixão. Ainda não fui lá. 10:40 e ainda poucas pessoas haviam chegado. Minha mãe me olhava com olhar de tristeza. Então, faltando 10 minutos para as 11, várias pessoas da escola começam a chegar. Alunos, professores... Isso faz meu coração até se alegrar um pouco. Algumas me abraçam, algumas só me desejam condolências sem muito contato físico.
   A cerimônia fúnebre tem início e consigo ouvir algumas pessoas fungar. Minha mãe também se emociona e seguro a mão de Anna que está ao meu lado. Deixam aberta a palavra pra quem se sentir tocado e eu me levanto.

— Bem.. ontem eu escrevi uma carta para o Jake, e gostaria de ler para ele e para vocês. Meu amor, daqui a mais ou menos dois meses faria 1 ano que nos conhecemos, porém parece que nos conhecemos há anos. O que nós vivemos foi intenso, foi mágico, foi paixão, foi carnal, foi espiritual, foi amor. Você me mostrou coisas que eu jamais pensei que poderia sentir, eu tentei te ajudar a sentir coisas que você jamais sentiu. Nossa jornada foi conturbada mas o que é um parque de diversões sem uma montanha-russa, não é mesmo? Durante esses 9 meses de idas e vindas, eu percebi uma coisa: não sou boa sem você. Em todos pequenos detalhes eu te vejo, em toda música, toda frase eu te sinto — agarro o medalhão que ele me deu— O seu toque, seu cheiro, sua habilidade de me fazer rir e de sentir raiva segundos depois. Como vou fazer sem isso agora? Você sempre tentou me proteger e hoje eu reconheço isso. Sempre quis ser meu príncipe quando em toda sua vida todos te chamaram de vilão até que você mesmo passou a acreditar nisso. Planejamos nossa vida de uma forma que não vai se cumprir — paro para engolir a bola de choro que se forma em minha garganta — porque eu não fui capaz de te proteger na única chance que tive. Mas, apesar disso, eu não vou dizer adeus. Não estou preparada pra dizer adeus ainda. Eu sei que aonde quer que você esteja, você está me ouvindo agora e está me esperando para que um dia possamos retomar com nosso amor. Meu primeiro amor.  Eu te amo Jake Wood. Me desculpa por todas as vezes que você possa ter duvidado disso, me desculpa por todas as vezes que eu não estive ao seu lado por achar que você não merecia. Você merece. Você merece muito mais do que o amor que eu te dei. Antes de morrer você disse que eu sou tudo, mas não. Você é tudo. Você é tudo o que eu internamente sempre desejei. E eu sinto muito que eu não tenha percebido isso antes. Descansa, meu amor. Eu vou te guardar em mim pra sempre.

Quando acabei, olhei para frente e as pessoas aplaudiram. Muitas choravam, algumas soluçavam até. Fui até o caixão e acariciei o rosto sereno dele. A mesma feição que ele tinha quando estava dormindo.

— Eu amo você.

O diretor da escola também fez um breve pronunciamento e então o enterramos. Disse aos meus pais que iria andar um pouco pra arejar a cabeça. Eles concordaram e foram embora.  Andei um pouco pela cidade e acabei por ir na casa do Jake. O cheiro de cigarro ainda era forte, e sorri ao lembrar das vezes que fingia querer fumar e ele ficava bravo. Sorri ao conseguir vê-lo ali perto da janela, encostado com um braço e fumando. Fui até o quarto dele e abri seu guarda-roupa. Peguei uma de suas camisas e a cheirei. Como eu amava aquele cheiro. Peguei uma bolsa e coloquei todas nela. No criado-mudo uma coisa me chamou atenção. Uma foto nossa do dia do nosso aniversário de namoro. Simplesmente linda. Guardei-a também. Já não haviam mais lágrimas no meu corpo para que eu chorasse. Não sabia o que seria feito daquela casa. Mas ali haviam muitas lembranças.

A Droga do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora