Capítulo 5

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A noite foi caindo, e no final da tarde, quando seu pai já havia sido apresentado ao trabalho e conhecido muito dos "servos", a família finalmente se reuniu, não havia tido tempo para uma boa conversa desde que chegaram à Jordânia.

-Finalmente! - exclamou Rodrigo.

-E então, pai. O que achou do palácio? Caraca é grande pra caramba aqui dentro, né não? - disse Caio.

-É filho. Aqui dentro é tudo enorme. Conheci tanta gente. Falar árabe tá enrolando minha língua toda, mas eu me acostumo. O que vocês acharam da família real?

-Ah, eu amei a rainha - disse Beatriz - ela é muito simpática. Depois que fomos apresentadas, nos encontramos à tarde para conversar. Achei eles tão... amigáveis. A idéia que eu tinha de família real era outra. Em primeiro lugar, nunca imaginei que eles cumprimentassem os funcionários, muito menos que eles tomariam chá com eles.

-Concordo querida. Achei que eles foram bastante simpáticos. Ainda ofereceram seu palácio para morarmos. Muito gentil da parte deles... fora que aqui é enorme né? Acho que vamos nos adaptar.

-É pai, eu sabia desde o começo que aqui seria melhor para a gente. Não vejo a hora de ir para escola, fazer novos amigos... quero aprender Árabe, quer me ensinar? - disse Sarah

-Querida, prefiro que aprenda na prática.

-Por quê? Para me ver sofrer? - disse rindo.

-Claro que não, meu amor. Mas, quero que você aprenda o idioma como ele é. Eu aprendi Árabe dentro de uma sala, e estou encontrando um monte de dificuldades pra me comunicar com o pessoal... vai ficar mais fácil pra você.

-Tá bom, pai. - disse dando um beijinho.

-Que carinhosa você tá minha filha. Quanto quer?

-Que isso pai, tá me chamando de interesseira? - todos começaram a rir.

-Filha, não é por nada não, mas sempre que vem um "Tá bom, pai" acompanhado de um beijinho é porque vem bomba por aí... - disse sua mãe.

-Ih, eu hein, nunca vi família mais desconfiada, só estava querendo agradar - disse fazendo biquinho.

A família ficou conversando até tarde. Na hora de dormir, todos acharam um tanto... diferente. Apesar da idade de Caio, o menino fez questão de passar para o quarto da mãe, estava com medo de dormir naquele quarto sozinho, era tudo muito novo. Sarah nem pensou muito, estava exausta, a viagem tinha sido muito longa, e tirar todas as roupas e "cacarecos" da família de dentro das malas mais ainda. Mas antes de dormir, ficou um pouco de olhos abertos, pensando na tarde no jardim. Mas, a lembrança mais forte da tarde no pomar, era a dos olhos azul esverdeados do príncipe. Esse pensamento veio acompanhado de um sorriso no canto da boca de Sarah.

No dia seguinte, Sarah acordou com três batidas na porta de seu quarto - desde pequena tem um sono muito leve. Quando abriu a porta, viu um funcionário com um daqueles carrinhos usados para cafés da manhã em hotéis, com comidas de todos os tipos. Então, o "criado" começou a dizer o que lhe havia sido pedido.

-Bom dia. O príncipe Hussein Peter II pediu para que eu lhe trouxesse essa bandeja com o café da manhã, e esse cartão.

-Ah... - disse passando as mãos nos olhos, ainda acordando - muito obrigada.

-Às ordens. - disse simpático, e foi embora.

Quando o empregado foi embora, ela empurrou o carrinho para perto da cama, ainda meio assustada abriu o cartão. Nele dizia "Bom dia Sarah. Pedi para que levassem essa bandeja com nossas comidas típicas para que você começasse a conhecer melhor nossa cultura. Afinal, não tem jeito melhor de conhecer a Jordânia. Assim que terminar, me encontre no pomar que comecei a te mostrar ontem, tenho que te mostrar o principal ainda. Beijos, Príncipe Hussein". Depois que acabou de ler o cartão, não apareceu apenas "um sorriso no canto da boca de Sarah", mas um sorriso bem maior, que iluminou todo o seu rosto.

Assim que acabou de tomar seu café da manhã - um bom tempo depois, pois tinha muuuuuita comida - Sarah não foi ao encontro do príncipe, como ele pedia no cartão. Foi primeiro dar bom dia a sua família, e contar o que o príncipe tinha feito. Sentou para conversar com a sua mãe e ficaram duas horas falando sobre o jardim, o café da manhã, o palácio, enfim, coisas de mãe e filha. Quando ela se deu conta, já tinha passado quase três horas que o príncipe pedira para que ela se encontrasse com ele. Saiu apressada, e foi correndo para o pomar. Quando chegou lá, não se deparou com a cena que... esperava. O que ela pensou que fosse encontrar lá era um príncipe em pé ao lado de uma árvore olhando em seu relógio de dois mil dólares os segundos passarem, mas encontrou um príncipe em cima de uma árvore comendo laranja, de bermuda e com uma camisa normal. Mas, mesmo assim, o sorriso dela não conseguia sair de seu rosto.

-Você demorou - ele disse.

-Eu sei - disse ela olhando para cima com um olhar que falava por ela, como quem dizia "o que um príncipe faz em cima de uma árvore"? - me desculpa pela demora, entrei para conversar com a minha mãe e acabei esquecendo da hora.

-Tudo bem, o que eu tenho pra te mostrar não irá sumir por causa de umas horinhas de atraso.

-Ótimo. Me sinto melhor agora.

-Quer uma? - pegou uma laranja e ofereceu a ela.

-Se eu comer uma laranja vou explodir - disse rindo - a Vossa Alteza mandou comida à beça pro meu quarto.

-À beça? - perguntou sem entender a expressão.

-Quer dizer comida demais. Mas estava muito boa, nunca tinha provado nada parecido.

-Eu sei, as pessoas que vêm visitar nosso reino ficam maravilhadas com a nossa comida, principalmente aqui do palácio, que temos ótimos cozinheiros.

-Olha, sua comida estava boa. Mas acho que as pessoas ficam tão maravilhadas assim porque nunca comeram uma boa comida brasileira - disse rindo para "provocar". Agiam como se já se conhecessem há muito tempo.

-Passei três anos no Brasil, já comi tudo quanto foi comida de lá, e NENHUMA chega aos pés da comida daqui. - disse "revidando" num tom de brincadeira.

-"Tudo quanto foi comida", realmente, aprendeu muito bem nosso idioma. Mas me diga, você já comeu a comida da minha mãe?

-Eu n... - disse sendo interrompido.

-Exatamente! - respondeu brincando - Você diz isso porque nunca comeu a comida da minha mãe. Você tem que experimentar um dia desses.

-Eu adoraria. Mas nunca deixaria sua mãe preparar algo para eu comer, seria uma falta de educação enorme.

-Que isso. Tenho certeza que ela cozinharia com muito prazer. Quase certeza, para falar a verdade. Mas até que não seria má idéia, tenho certeza que sua família iria adorar uma boa feijoada...

-Feijoada?

-Você nunca comeu feijoada?

-Não. O que é uma... feijoada?

-Poxa! Não acredito que "o senhor" morou três anos no Brasil e nunca comeu uma boa feijoada mineira.

-Senhor? Não chamam nem ao meu pai de Senhor. Me chame de Hussein, é melhor. Ou se preferir, de Peter. Poucas pessoas me chamam assim...

-Hoje quando seu empregado trouxe o café da manhã para mim, disse que o príncipe Hussein Peter II havia mandado. Alguém da sua família é americano?

-Minha mãe veio de descendência americana, não é muito comum aqui no Oriente Médio. Mas poucos sabem. Minha mãe deu um "jeitinho" de esconder esse sobrenome dela e passou só a mim, porque as pessoas não gostam muito da idéia. Então, quando me anunciam, sempre usam os sobrenomes do meu pai, que são mais comuns aqui, e aceitos.

-Ah, entendo. É um pouco complicado mesmo. Mas então - disse animando-se - do que devo que te chamar? Hussein ou Peter?

-Vamos fazer o seguinte. Como quase ninguém me chama de Peter, me chama assim. Aí, quando eu ouvir esse nome, vou saber que é você falando - disse de um jeito carinhoso.

-Olha que você pode ouvir esse nome muitas vezes, aí todos saberão que você tem Peter no sobrenome - disse sorrindo.

-Vão pensar que você está falando com o Peter, o porteiro. Ele é americano e fica bem ali - disse rindo. Então os dois começaram a rir. Quando pararam, ele voltou ao assunto pelo qual ela estava ali.

-E então, senhorita - disse num tom irônico - venha, quero te mostrar a parte principal do palácio.

Sarah e um príncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora