-Príncipe? Você fala português? Não estávamos falando inglês há pouco?
-Bom, falar eu sei, não muito bem, mas consigo me comunicar no seu idioma. Fiz três anos do meu Ensino Fundamental numa escola do Brasil. Na cidade de São Paulo.
-Ah... puxa, um príncipe em São Paulo. Que honra para a cidade. Para o país.
-Obrigado.
-Mas, o que a Vossa Alteza deseja?
-Vossa Alteza? Por favor, não precisa me chamar assim. Minha família me chama só de Hussein, e agora que você está morando no palácio, pode me chamar assim também.
-Tudo bem Hussein. O que deseja? Posso fazer alguma coisa por voc...?
-Na verdade, vim para te conhecer. Te achei bastante simpática. Não quer dar um passeio pelos jardins do palácio? Posso te mostrar, é tudo bastante lindo.
-Bastante lindo? Aprendeu bem meu idioma, parabéns. - disse ela entre risos - é claro que eu adoraria conhecer os jardins com você. Será que o... senhor poderia esperar eu me trocar? Colocar uma roupa mais apropriada.
-O "senhor" pode esperar, estarei no salão ao lado.
O príncipe usava um terno preto e sapatos sociais. Seus cabelos eram castanhos, bem arrumados, e seus olhos verdes, esses ele herdou de sua mãe. Enquanto ele esperava lendo um livro, Sarah não conseguia decidir qual roupa vestir. "Que roupa é apropriada para dar um passeio com o príncipe?", e outras dúvidas surgiam em sua cabeça, enquanto jogava as roupas todas para o alto a fim de achar uma logo. "Eu devo avisar minha mãe?" "Será que eu posso, e devo passear com um príncipe?" "Será que ele tem o hábito de mostrar os jardins a todos?" "E se brigarem comigo?" "Será que podem demitir meu pai por causa disso...?".
Assim que finalmente escolheu sua roupa - um vestido branco florido, bem leve - foi ao encontro do príncipe. Quando entrou no salão, fez um "U-hum" com a garganta, a fim de que ele notasse que ela já estava pronta.
-Já está pronta? - perguntou ele.
-Sim - respondeu
-Então, vamos.
Assim que saíram do palácio, encontraram um jardim imenso, todo florido e com árvores enormes, com mais de cem anos.
-Está vendo aquela árvore?
-Sim.
-Foi meu tataravô quem plantou.
-Nossa, e ela está lá firme e forte até hoje.
-É... essas árvores duram mais de quatrocentos anos, são o tesouro do nosso palácio.
-Imagino - disse ela apreciando a paisagem.
-Está vendo, lá na frente um pomar cheio de árvores verdinhas? - perguntou o príncipe
-Sim - disse ela com um sorriso tímido que não conseguia sair do rosto.
-Aquele é o pomar é do meu pai, as pessoas chamam de "Pomar do Rei II". Vamos, quero te mostrar a beleza das árvores e as flores que eu estou plantado para embelezar o lugar.
-Estou admirada com seu português corretíssimo. E nunca pensei que um príncipe se interessasse por pomares, flores...
-Sabe... as pessoas tem uma visão errada dos príncipes!
-Ah é? - disse ela rindo, com um sorriso meigo, num tom de brincadeira - então me diga Vossa Alteza, qual seria a visão correta de um príncipe?
-A verdade é que os príncipes são pessoas que se interessam por coisas que as pessoas não imaginam - disse sorrindo - como flores. Posso garantir que a maioria deles.
-Curioso. Por que a maioria dos príncipes se interessa por flores? - respondeu com outro sorriso radiante.
-Acho que independente do país e da cultura, seus pais e mães, ensinam seus pequenos príncipes a apreciarem as pequenas coisas.
-Sempre imaginei que eles quisessem que os príncipes casassem com "donzelas" que cavalgam em cavalos brancos, que são muito bem educadas, e que os príncipes tivessem que aprender a cuidar de seu país, não tendo tempo para as pequenas coisas, como... flores - disse levantando as sobrancelhas, como se estivesse discordando do príncipe em brincadeira.
-Em parte você está certa. Nós precisamos casar com "donzelas", que hoje em dia, andam em BMW e não mais em cavalos brancos - disse rindo - mas preferia que elas andassem em cavalos. Esse mundo moderno acabou com o romantismo, não concorda?
-Quer dizer então, que nosso príncipe é romântico? - disse sorrindo.
-Pode-se dizer que sim.
-Se já não fosse um príncipe, te coroaria, porque a "Vossa Alteza" está entrando em extinção.
-Quer dizer então, que no Brasil os homens não são românticos? - disse encostando-se numa árvore.
-Poucos. O mundo hoje não quer mais saber de romantismo, isso virou coisa para os livros.
-É verdade, a mesma coisa com as mulheres. Outro dia, veio uma princesa ao nosso palácio, devia ter uns quinze anos de idade, nem deixou que eu a cumprimentasse, e já veio perguntando se eu já estava noivo de alguma princesa de um Reino próximo.
-Nossa, para uma princesa, até que é bastante ousada, não?
-Sim, pode apostar.
-Quer dizer então - disse ela andando e segurando seu vestido para não o encostar no chão - que príncipes são obrigados a casar com princesas? Eles não podem fazer de uma menina comum - então, começou a olhar nos olhos verdes de Hussein e a falar num tom meigo - uma princesa?
-Não... - disse ele desviando o olhar - venha! Olhe que linda essa flor, plantei há um mês e está tão bela...
-Eu vi Alteza. Preciso ir, minha mãe está contando com a minha ajuda para desarrumar as malas e guardar as coisas, ela deve estar preocupada. Espero que não se importe... -disse querendo sair dali o mais rápido possível.
-Tudo bem, eu posso te acompanhar.
-Está bem - ela respondeu para não contrariar o príncipe que acabara de conhecer, mas tinha a sensação que já o conhecia, olhando em seus olhos.
Voltaram até o palácio no maior silêncio possível, a verdade, é que algo estranho havia acontecido naquela troca de olhares, no momento em que ela fez aquela pergunta, nos seus olhos inocentes e ingênuos brilhava algo como a esperança de alguma coisa. Hussein acompanhou Sarah até a porta de seu quarto e se despediu com um "até mais", e ela retribuiu com um olhar de agradecimento pelo passeio, então ela fechou a porta. Dentro do seu quarto, o único pensamento que teve sobre esse passeio foi "O que aconteceu?". Essa pergunta era a respeito de tudo.
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Sarah e um príncipe
Roman d'amourEssa aventura acontece com uma menina completamente inocente das malícias do mundo, uma menina que só quer ser ela mesma, que está cansada de ser rotulada pela sociedade, e muitas vezes não ser aceita por não querer fazer coisas que os outros querem...