Capítulo 4

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-Príncipe? Você fala português? Não estávamos falando inglês há pouco?

-Bom, falar eu sei, não muito bem, mas consigo me comunicar no seu idioma. Fiz três anos do meu Ensino Fundamental numa escola do Brasil. Na cidade de São Paulo.

-Ah... puxa, um príncipe em São Paulo. Que honra para a cidade. Para o país.

-Obrigado.

-Mas, o que a Vossa Alteza deseja?

-Vossa Alteza? Por favor, não precisa me chamar assim. Minha família me chama só de Hussein, e agora que você está morando no palácio, pode me chamar assim também.

-Tudo bem Hussein. O que deseja? Posso fazer alguma coisa por voc...?

-Na verdade, vim para te conhecer. Te achei bastante simpática. Não quer dar um passeio pelos jardins do palácio? Posso te mostrar, é tudo bastante lindo.

-Bastante lindo? Aprendeu bem meu idioma, parabéns. - disse ela entre risos - é claro que eu adoraria conhecer os jardins com você. Será que o... senhor poderia esperar eu me trocar? Colocar uma roupa mais apropriada.

-O "senhor" pode esperar, estarei no salão ao lado.

O príncipe usava um terno preto e sapatos sociais. Seus cabelos eram castanhos, bem arrumados, e seus olhos verdes, esses ele herdou de sua mãe. Enquanto ele esperava lendo um livro, Sarah não conseguia decidir qual roupa vestir. "Que roupa é apropriada para dar um passeio com o príncipe?", e outras dúvidas surgiam em sua cabeça, enquanto jogava as roupas todas para o alto a fim de achar uma logo. "Eu devo avisar minha mãe?" "Será que eu posso, e devo passear com um príncipe?" "Será que ele tem o hábito de mostrar os jardins a todos?" "E se brigarem comigo?" "Será que podem demitir meu pai por causa disso...?".

Assim que finalmente escolheu sua roupa - um vestido branco florido, bem leve - foi ao encontro do príncipe. Quando entrou no salão, fez um "U-hum" com a garganta, a fim de que ele notasse que ela já estava pronta.

-Já está pronta? - perguntou ele.

-Sim - respondeu

-Então, vamos.

Assim que saíram do palácio, encontraram um jardim imenso, todo florido e com árvores enormes, com mais de cem anos.

-Está vendo aquela árvore?

-Sim.

-Foi meu tataravô quem plantou.

-Nossa, e ela está lá firme e forte até hoje.

-É... essas árvores duram mais de quatrocentos anos, são o tesouro do nosso palácio.

-Imagino - disse ela apreciando a paisagem.

-Está vendo, lá na frente um pomar cheio de árvores verdinhas? - perguntou o príncipe

-Sim - disse ela com um sorriso tímido que não conseguia sair do rosto.

-Aquele é o pomar é do meu pai, as pessoas chamam de "Pomar do Rei II". Vamos, quero te mostrar a beleza das árvores e as flores que eu estou plantado para embelezar o lugar.

-Estou admirada com seu português corretíssimo. E nunca pensei que um príncipe se interessasse por pomares, flores...

-Sabe... as pessoas tem uma visão errada dos príncipes!

-Ah é? - disse ela rindo, com um sorriso meigo, num tom de brincadeira - então me diga Vossa Alteza, qual seria a visão correta de um príncipe?

-A verdade é que os príncipes são pessoas que se interessam por coisas que as pessoas não imaginam - disse sorrindo - como flores. Posso garantir que a maioria deles.

-Curioso. Por que a maioria dos príncipes se interessa por flores? - respondeu com outro sorriso radiante.

-Acho que independente do país e da cultura, seus pais e mães, ensinam seus pequenos príncipes a apreciarem as pequenas coisas.

-Sempre imaginei que eles quisessem que os príncipes casassem com "donzelas" que cavalgam em cavalos brancos, que são muito bem educadas, e que os príncipes tivessem que aprender a cuidar de seu país, não tendo tempo para as pequenas coisas, como... flores - disse levantando as sobrancelhas, como se estivesse discordando do príncipe em brincadeira.

-Em parte você está certa. Nós precisamos casar com "donzelas", que hoje em dia, andam em BMW e não mais em cavalos brancos - disse rindo - mas preferia que elas andassem em cavalos. Esse mundo moderno acabou com o romantismo, não concorda?

-Quer dizer então, que nosso príncipe é romântico? - disse sorrindo.

-Pode-se dizer que sim.

-Se já não fosse um príncipe, te coroaria, porque a "Vossa Alteza" está entrando em extinção.

-Quer dizer então, que no Brasil os homens não são românticos? - disse encostando-se numa árvore.

-Poucos. O mundo hoje não quer mais saber de romantismo, isso virou coisa para os livros.

-É verdade, a mesma coisa com as mulheres. Outro dia, veio uma princesa ao nosso palácio, devia ter uns quinze anos de idade, nem deixou que eu a cumprimentasse, e já veio perguntando se eu já estava noivo de alguma princesa de um Reino próximo.

-Nossa, para uma princesa, até que é bastante ousada, não?

-Sim, pode apostar.

-Quer dizer então - disse ela andando e segurando seu vestido para não o encostar no chão - que príncipes são obrigados a casar com princesas? Eles não podem fazer de uma menina comum - então, começou a olhar nos olhos verdes de Hussein e a falar num tom meigo - uma princesa?

-Não... - disse ele desviando o olhar - venha! Olhe que linda essa flor, plantei há um mês e está tão bela...

-Eu vi Alteza. Preciso ir, minha mãe está contando com a minha ajuda para desarrumar as malas e guardar as coisas, ela deve estar preocupada. Espero que não se importe... -disse querendo sair dali o mais rápido possível.

-Tudo bem, eu posso te acompanhar.

-Está bem - ela respondeu para não contrariar o príncipe que acabara de conhecer, mas tinha a sensação que já o conhecia, olhando em seus olhos.

Voltaram até o palácio no maior silêncio possível, a verdade, é que algo estranho havia acontecido naquela troca de olhares, no momento em que ela fez aquela pergunta, nos seus olhos inocentes e ingênuos brilhava algo como a esperança de alguma coisa. Hussein acompanhou Sarah até a porta de seu quarto e se despediu com um "até mais", e ela retribuiu com um olhar de agradecimento pelo passeio, então ela fechou a porta. Dentro do seu quarto, o único pensamento que teve sobre esse passeio foi "O que aconteceu?". Essa pergunta era a respeito de tudo.

Sarah e um príncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora