Capítulo 10

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Ao chegarem ao palácio, Sarah foi direto procurar Peter. Ela perguntou a alguns funcionários, mas eles não sabiam onde ele estava. Então ela se lembrou do jardim, e do que ele havia dito sobre ir pra lá quando estava com vontade de pensar sobre a vida. Então, ela foi ver se estava certa. E ao chegar ao jardim viu um menino sentado na árvore comendo laranjas. De novo. Ela abriu um lindo sorriso sincero e disse:

- Ei, menino das laranjas! - Chamou. E como era bom falar português com alguém que não fosse da sua família novamente.

- Sarah! - Disse abrindo um sorrido radiante. - Me conte como foi na escola!

- Ah, na escola! Eu preciso mesmo te contar como foi.

- Então me conte tudo e não esconda nada. - Ele disse fazendo uma cara cômica.

- Onde foi que você aprendeu esses ditados brasileiros? - Disse ela levantando uma das sobrancelhas.

- Ah, eu andei pesquisando na internet. - Sorriu.

- Você me surpreende a cada dia mais, sabia? - Ela disse sincera.

- E eu gosto de ver o seu rosto quando te surpreendo. Você fica linda, sabia?

Sarah corou. Ela não acreditava que ele havia dito aquilo. Sim, eles já eram muito amigos, mas receber um elogio de um príncipe não era uma coisa comum, e parar pra pensar naquilo a fez corar mais ainda.

- Não me entenda mal, por favor. Não sei se as pessoas do Brasil costumam elogiar os amigos, mas aqui nós fazemos bastante isso. - Cortou os pensamentos da garota. - mas então, você não ia me contar como foi na aula?

- Ah, claro, desculpe. Eu cheguei à escola e ajudei o meu irmão a achar a sala dele e depois procurei a minha. As salas lá são bem espaçosas, deu pra perceber. Então eu achei a minha sala. Eu acabei sentando ao lado de uma menina chamada Keiko. Ela veio do Japão pra cá.

- Ah, Keiko... Eu conheço esse nome de algum lugar. Eu tenho a impressão de que ela é a filha de um diplomata que trabalha para o embaixador do Japão. Já veio jantar aqui no palácio algumas vezes. Se for quem eu estou pensando, ela é uma menina muito legal.

- Ah, então vocês se conhecem? - Ela se surpreendeu.

- É... Como esse mundo é pequeno, não é mesmo?

- É sim. Eu gostei bastante dela, no fim, acabamos passando a manhã inteira juntas. No intervalo também fiz amizade com um menino, que se chama Charlie. Veio da Inglaterra há mais ou menos três anos. É bom ter alguém nas aulas pra me explicar o que eu não consigo entender. O ensino daqui é muito diferente do Brasil.

- Verdade? - Ele perguntou com interesse enquanto chupava uma laranja e olhava nos olhos de Sarah.

- Sim. Os professores também são legais, todos muito simpáticos. Mas a escola é um bom lugar pra passar vergonha. No Brasil temos uma gíria pra isso. Chamamos de "pagar mico".

- Mico? Mas por que mico?

- Eu não sei o porquê exatamente. Mas é a gíria mais usada para dizer que uma pessoa passa vergonha. Engraçado, eu sei.

- Eu gostei da gíria. - Riu, desviando agora, o olhar dos seus. - Eu já percebi que quando estou com você, aprendo constantemente coisas novas.

- E eu também sinto a mesma coisa em relação a você. - Abriu um sorriso tímido. - Mas estive pensando, acho que você até tem sorte de não ter que freqüentar a escola.

- Mas por quê? O que eu mais sinto vontade é de freqüentar uma escola. Saber como é ter os seus amigos, saber como é ter aulas. Digo aulas de verdade, sem serem particulares.

- Isso é bom. Mas é tão ruim ter a obrigação de fazer tudo certinho, independente da sua vida pessoal. É como se não importasse se você teve tempo na sua semana para fazer as tarefas e trabalhos.

- Mas é pra ser assim, não é? Comigo já é assim. Eu tenho as minhas tarefas de príncipe e tenho que fazer independente se eu tenho tempo ou não. - Ele sorriu.

- Acho que no fim, é essa a intenção mesmo, nos ensinar a ter responsabilidade e compromisso com as coisas.

- Olhe a hora! - Peter assustou-se olhando o relógio. - Vamos Sarah, ou vamos acabar perdendo a hora do almoço.

Peter puxou Sarah pela mão e saiu correndo em direção a sala de jantar. Eles foram abrindo a porta afobadamente e quando viram, tinham entrado na sala errada. De repente, todo mundo parou e olhou para a porta. Peter tentou disfarçar dizendo:

- Desculpem atrapalhar o jantar. Entramos na sala errada. Mil perdões, nós já estamos de saída.

- Você confundiu mesmo a sala ou quis passar vergonha? - Disse Sarah dando gargalhadas ao saírem da sala.

- Ei, uma loucura de vez em quando faz bem, sabia? E eu nem preciso da escola para "pagar meus micos". - Disse de maneira surpreendente.

- Olha, esse é um lado que eu não esperava que existisse em você, sabia?

- Então quer dizer que agora só porque sou príncipe não posso cometer algumas loucuras? - Disse levantando uma sobrancelha e fazendo Sarah rir.

Peter e Sarah encontraram o resto da família de Sarah para o almoço. Estavam todos só esperando Sarah. Ele despediu-se da garota e foi encontrar com a sua família para o almoço. Eles não almoçariam juntos, já que não é um costume que empregados almoçassem com a família real. A conversa com a família na hora do almoço rendeu boas duas horas. Ao voltar para o quarto, encontrou com Peter no corredor.

- Como foi o seu almoço? - Perguntou ele com um sorriso e esticando o braço para que ela o acompanhasse.

- Foi muito bom, passamos boas horas conversando. Eu adoro o tempo de conversa entre família. E o seu? - Perguntou meigamente.

- O meu foi muito bom também. - Sorriu. - Só que esta tarde, tenho alguns compromissos que o meu pai quer que eu compareça. Tarefas de príncipe, sabe como é. - Disse fazendo graça, de um jeito lindo. Isso fez Sarah dar seu sorriso mais espontâneo.

- Tudo bem, então nos vemos depois? - Disse já não gostando da idéia de estar longe dele.

- Pode estar certa que sim. - Ela pensou que depois disso ele fosse dar meia volta e ir embora. Mas como ele nunca dispensava um gesto de cavalheirismo, foi levar Sarah até a porta do quarto.

- Bem, então é isso. - Disse Sarah - É melhor você ir, antes que se atrase e leve uma bronca por minha causa.

- A gente se vê mais tarde, o que você acha? - Ele sorriu.

- No jardim? - Ela perguntou.

- No jardim ás sete.

- Combinado. Até daqui a pouco, Peter. - Ela disse.

Ele deu um beijo no rosto de Sarah e saiu. Ela fechou a porta do quarto e encostou-se à porta fechada.

Suspirou. Ela foi até a cama e deitou-se. A menina estava pensativa depois de tudo aquilo. Pra ela, aquilo soava como um sonho. Era maravilhoso demais. Ela se sentia dentro de um filme. E era um filme. O filme da vida dela, que de clichê não tinha nada. Ela pensava no dia que havia se passado. Ela pensava no que sentia quando estava com Keiko, Charlie, o que sentia quando estava com Peter. Os dias pra ela têm sido tão alegres, tão bonitos. Era bem diferente da vida antiga dela. E se ela contasse o que se passava, ninguém acreditaria.

Sarah e um príncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora