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kαηησρυs
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A̷quela era Maçuna. Uma cidade relativamente pequena, localizada no interior do que era Briméa. São tantas lembranças desde que eu saí daqui que me causavam dor, arrependimento, felicidade, saudade, tristeza, alegria e alguns sentimentos que nem sei se realmente tem nome. Porém, continuavam nessa dinâmica, um sentimento bom e dois sentimentos ruins. É, pode se dizer que aquela volta estava me causando um mau pressentimento, mas, faria de tudo para agradecer mamãe, e no momento o que ela queria, era que eu ficasse junto dela.
Depois de ser promovida a capitã e entrar em êxtase com todas aquelas comemorações recebi uma ligação do coronel e resumidamente ele dissera que eu estava dispensada por não ter tirado férias nos últimos cinco anos. Ou seja, o vagabundo do Guilherme me dispensou por telefone com a desculpa de que eu não tirava férias logo após de eu ter sido promovida a capitã do comando sudeste! Desconfio que seja por vingança de uma certa vez em que não vale a pena mencionar aqui, mas eu tenho certeza de que foi vingança. Logo após isso, o cretino ainda teve coragem de ligar para a minha mãe dizendo que eu estava dispensada e que não tinha mais nada que me prendesse no comando.
A merda estava feita, mamãe me ligara aos berros me acusando de não ligar pra ela, de que nem avisei pra ela que estava dispensada e aquele velho drama que toda mãe faz.
No fim, eu estava aqui. Natasha Kannopus retornando à cidade natal, às raízes caipiras e ao mesmo tempo nordestinas. É quase impossível conter o suspiro quando me lembro do que eu passei aqui, estar naquelas ruas novamente, olhar as casas, as pessoas, até o cheiro da cidade era nostálgico. Tudo estava como antes, tirando o fato de que hoje em dia eu tinha um meio de transporte que não se resumia em minhas pernas. Era estranho e ao mesmo tempo extasiante voltar, era meio óbvio de que depois de doze anos as coisas haviam mudado, tinha mais comércio e mais pessoas, mas era como se a aura do lugar não tivesse mudado. Ao longo do caminho para a casa da minha mãe viajei nos meus pensamentos e me senti como se tivesse 15 anos novamente.
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DOZE ANOS MAIS CEDONós estávamos em pé, eu e mais um punhado de jovens parados em fileiras paralelas, prontamente para cantar o hino. Como sempre, um garoto e uma garota eram convocados para segurar a bandeira da nação enquanto nós, os “Cabecinhas de Prego”, cantávamos aquela bobagem toda com maestria. Não me interprete mal, eu apenas não via sentido algum naquele ato em toda sexta feira, na verdade eu não via porra de sentido algum em quase nada, exceto numa coisa.
Em meio ao meu olhar vago e distraído, a boca se movendo roboticamente no ritmo da canção. Pelo canto dos olhos vi um jato ruivo se colocando numa das fileiras e assim se aprontando militarmente para cantar a tal canção. Sorri de imediato discretamente pois era até engraçadinho como ela se atrapalhava toda envergonhada quando chegava atrasada. Olhei para trás num movimento súbito e deixei que os olhos dela me encontrassem, lancei um sorriso de canto e pisquei o olho lançando um beijinho.
Ela apenas conteve o riso e pronunciou surdamente a palavra “idiota”. Depois disso, com um sorriso grandioso no rosto, pus me a frente novamente para terminar a canção. Guilherme me distraíra algumas vezes pois estava tentando inutilmente estapear uma mosca, ele era daquele tipo que se distraia por tudo e quando algo o incomodava não conseguia ignorar. Assim que seu punho fechou segurando a pobre mosca, aplicou uma pequena força para dar fim a vida do inseto, e assim jogá-lo no chão sem mais nem menos. Por fim me lançou um daqueles sorrisos mongoloides dele e continuou cantando.
Suspirei revirando os olhos e temendo pelo seu futuro.Depois de acabar de cantar aquela coisa estúpida. Sem que houvesse tempo para que eu pudesse agir, Stella pulou nos meus braços metralhando o meu rosto de beijos, no meio daquela multidão se dissipando.
—Hey! Calma – falei aos risos, segurando-a por reflexo. - Parece que você sentiu a minha falta.
—Um pouco. - Disse afundando o rosto no meu pescoço. - Ultimamente eu to querendo ficar com você 25 horas por dia.
Stella e eu estávamos namorando a pelo menos 2 meses, mas já convivíamos a mais tempo. Gostaria de dizer que conquistá-la foi fácil, rápido e lindo, mas, na verdade, foi trágico mesmo. Em resumo ela namorava uma coisa grotesca babaca, cujo nome não vale a pena ser mencionado por consequência da minha parte, já que eu não sabia o que sentia por ela, então foi eu que arranjei a coisa grotesca e babaca pra ela (pode me dar um soco). E por nove meses eu experimentei a gostosa sensação de dor e sofrimento até ela se dar conta de que a coisa grotesca babaca era uma coisa grotesca e babaca e que não adiantava ela ficar com ele pra me esquecer. Eles se separaram e depois de meses de conquista (tive de conquistá-la duas vezes). Ela me aceitou como sua namorada.
Típico drama adolescente de novela.
Apesar de tudo o que eu passei, não tem nenhum dia que eu me arrependa por tudo o que eu fiz por ela, e pela minha decisão de esperá-la, pois eu sabia que no fundo valia a pena. Sabe quando você olha pra alguém e enxerga muito mais do que uma casca de pele bonita. Quando eu olhava pra ela conseguia ver os sentimentos mais profundos e mais ocultos. Conseguia ver o que ela era de verdade e não o que fingia ser. Havia momentos em que ela era descuidada e deixava escapar o que tinha de verdade dentro do seu coração, e foram exatamente esses momentos que fizeram com que eu me apaixonasse. Não vou mentir, foi difícil, mas valeu a pena
Stella tinha longos cabelos ruivos que caiam sobre os seios em ondulações. Tinha um corpo atlético, medindo seus poucos 1,65 metros de altura, apesar de sua saúde aparentar ser frágil. Continha problemas respiratórios, Miopia e Astigmatismo o que fazia com que a mesma usasse grandes óculos redondos a frente das lindas íris castanha esverdeadas. Sardas pelo rosto, seios pequenos, e a minha parte favorita: Uma bunda excepcionalmente grande no ponto certo. Boa de apertar, Boa pra bater.
—Vocês me dão ranço. - Guilherme se pronunciou revirando os olhos.
Já Guilherme era meu amigo de infância, aquele tipo de amigo que às vezes você chega a se perguntar “Por que diabos eu sou amiga desse traste?”. Mas aí você lembra que ele tá lá desde que você se entende por gente e que ele participou dos momentos mais difíceis da sua vida. Pode parecer estranho, mas juro que tenho uma vaga memória de quando estava na incubadora e ele do meu lado um pouco mais velho me dando aquele sorriso mongoloide.
Era alto, tinha lá seus 1,80 mas não era muito forte. Tinha cabelos negros, pele branca e olhos excessivamente maldosos na cor negra. As garotas pareciam gostar desse contraste, e os garotos também.
—Se é assim não ande com a gente, besta. - respondi num tom divertido.
—É assim, começa a namorar e esquece de tudo o que a gente passou. - Esse comentário fez com que eu revirasse os olhos. - Se me dão licença, vou pra aula de humanidades. - Assim, ele empinou o nariz, girou os calcanhares e saiu andando.
—Acho que você deve dar mais atenção pra ele. - disse a ruivinha se afastando.
—Que nada, ele sempre faz esse tipo de drama, além disso, Guilherme está ocupado agora jogando no time oficial da escola, Não se preocupe…
- Ah… Bem, Okay. Eu não sei que aula tenho agora… - Dizendo isso, ela logo apertara o botão de projeção no seu dispositivo de pulso e abrira o horário de aulas. A projeção azul no ar iluminara seu rosto. - Hum… hoje eu tenho de…
Enfiei a minha cabeça no meio da projeção interrompendo seu raciocínio e disse:- Você tem aula de beijo, com a professora Natasha.. - A puxei pela cintura.
- Tenho? - Perguntou com um fino sorriso enquanto eu me aproveitava para passar os lábios pelo seu pescoço.
- Tem… - Sussurrei ao pé do ouvido.- E eu não gosto de faltas.- Hum… - Suspirou contendo a voz. - Mas agora… todos foram para a aula e não temos mais a multidão para nos escondermos dos monitores.
Mirando ao redor pude ver realmente que não sobrara mais tantas pessoas e haviam dois monitores de plantão, olhando como se fossemos duas depravadas, não que não fossemos. Respirei fundo me afastando e analisando as opções até me lembrar de um lugar.
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2222 - O CÉU NÃO É O LIMITE
General FictionNo ano de 2222, Natasha Kannopus capitã da divisão aeroespacial brimeriana tem a missão mais temida de toda sua carreira militar: As Férias. Voltando a sua cidade natal, sem qualquer escolha, a jovem terá de enfrentar as terriveis memórias que assom...