Amigos?

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A primeira parte que eu cortei foi a minha coxa esquerda e depois fui para a direita, e não parei por aí, cortei a minha barriga, porém, apenas do lado direito, e depois cortei o meu braço esquerdo um pouco fundo. Eu fui cortando, cortando e cortando.

Se eu estava sentindo dor?, não, eu não estava, se cortar para mim não dói, o que dói são os motivos que me levam a fazer isso, as decepções, as frustrações.... tudo.....

Eu já ía cortar o meu braço direito também, mas fui interrompida por Fernando que se aproximou de mim em total desespero.

Fernando: Maraisa — Ele se ajoelha e pega a gillette da minha mão — O que você está fazendo, minha vida?, você se cortou toda, meu amor!.

Eu: ME DEIXA EM PAZ, VOCÊ DESTRUIU A MINHA VIDA. VOCÊ TINHA QUE TER CUIDADO DE MIM E NÃO ME ABANDONADO — As lágrimas dele escorriam silenciosamente, ele passa a mão no meu cabelo — TIRA SUAS MÃOS DE MIM E VAI EMBORA, SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE QUE ESTÁ ME FAZENDO MAL? — Eu não falava, eu simplesmente gritava com ele.

Ficamos alguns minutos sem falar nada, eu simplesmente me encolhi alí e chorei de soluçar, ele chorava também mas em silêncio. Quando consegui me acalmar, levantei, fui para o quarto e sentei na cama, e ele veio atrás de mim.

Fernando: Você está sangrando muito!.

Eu: Aah você jura?, eu nem tinha notado — Reviro os olhos.

Fernando: Deixa eu te ajudar a limpa isso aí, deve está doendo muito!.

Eu: Não está doendo, isso não dói, só vai arder depois mas só se encostar e isso é o de menos, o que está doendo mesmo são os motivos que me levaram a fazer está merda e você é um dos motivos — Ele vai até o guarda roupa e pega uma maletinha de primeiros socorros e vem até mim se ajoelhando na minha frente.

Fernando: Deixa eu cuidar de você, dos seus machucados, deixa?.

Eu: Agora você quer cuidar de mim? — Levanto, saio de perto dele e ele levanta também — Você não acha que já é tarde demais para isso, não?.

Fernando: Nunca é tarde para cuidar de quem ama, minha vida — Acabo dando risada.

Eu: Não vem com essa frase clichê para o meu lado não, Fernando, você me tinha todinha para você e não me valorizou, bem feito, a culpa foi toda sua, não adianta chorar mais, okay?, acabou, aceita isso!.

Fernando: Não, eu não aceito isso — Ele diz com convicção — Você vai voltar a ser minha e eu vou cuidar de você para sempre!.

Eu: Blá blá blá, que papo chato — Sento na cama e as lágrimas silenciosas rolam.

Fernando: Tá saindo muito sangue, deixa eu secar isso aí, por favor?.

Eu: Anda logo, não quero você me tocando — Acabo deixando ele cuidar dos ferimentos porque eu estava toda suja de sangue.

Fernando: Tá bom, vai ser rapidinho!.

Ele vai até o banheiro, pega um pano úmido e passa em mim só para me limpar mesmo porque até onde não estava cortado tinha sangue. Depois de me limpar, ele pega um algodão com álcool e passa alí, acabo soltando uns gemidos de dor pois ardeu muito. Por fim, ele conseguiu estancar o sangue e depois queria colocar faixas nas minhas coxas e no meu braço por conta das marcas mas eu não deixei, até porque isso já é exagero.

Ele vai até o guarda roupa, coloca a maleta de volta e pega uma blusa para mim, e depois de vestida, eu finalmente falo alguma coisa.

Eu: Obrigado, mas agora você pode ir embora, daqui a pouco eu volto para o Brasil e deixo a chave embaixo do tapete!.

Fernando: Vamos conversar com calma, por favor, deixa eu explicar as coisas!.

Eu: Eu acho que não tem muito o que explicar, você me traiu, simples assim, e me traiu com a pessoa que eu tanto te pedi para ficar longe, com a pessoa que você me prometeu que iria manter longe de você — Ele desvia o olhar — Sério que você ainda quer explicar o quê aconteceu?.

Fernando: Sim — Diz em um sussurro — Eu quero sim!.

Eu: Pois então estou te ouvindo, não deveria mas estou te ouvindo, fala logo — Me sento na cama e ele senta ao meu lado.

Fernando: Quando eu vi aquela foto sua beijando outro, sei lá, eu fiquei perdido e desesperado, triste, não sabia nem o que pensar, aí eu te mandei as mensagens — Eu fixei o meu olhar em um ponto qualquer — Eu queria que você me explicasse o que aconteceu, mas você não me respondia e aí que eu me estressei!.

Eu: Você tem que aprender a ser mais paciente — Digo, mas nem eu sigo o meu conselho.

Fernando: Passei o dia trancado e sem comer nada, quando anoiteceu, umas oito horas assim, eu liguei para a mãe dela e pedi para que ela preparasse alguma coisa e mandasse lá para mim, e assim ela fez, só que eu pensei que ela iria pedir para algum entregador de aplicativo entregar a minha comida — Encaro ele — E enquanto eu esperava a comida chegar, peguei as bebidas e enchi a cara, e quando ela chegou já era onze horas da noite e eu estava podre de bêbado, ela entrou e colocou a comida lá!.

Eu: E depois disso?.

Fernando: Depois disso eu não lembro de mais nada, eu estava muito bêbado, não tem como eu lembrar!.

Eu: O que você tinha na cabeça?, por que você mesmo não fez a comida?, a mulher não estava mais em horário de trabalho e outra, ela nem trabalha na sua casa, Fernando, ela trabalha aqui na pousada!.

Fernando: Ela se dispôs a cozinhar para mim sempre que eu precisasse, Independente se está em seu horário de trabalho ou não, e eu não cozinhei porquê eu não estava com vontade de fazer nada. Acredita em mim, por favor, não me afasta de você não — Solto um longo suspiro.

Eu: Eu acredito em você!.

Fernando: Sério?, acredita em mim? — Ele vem e pega na minha mão, porém eu solto e me afasto.

Eu: Acredito, você deve estar falando a verdade mesmo e eu acredito, mas eu acreditar não muda o fato de que VOCÊ me traiu com aquela lá, pode ter acontecido tudo isso aí mas você me traiu, nada muda isso!.

Fernando: Você me perdoa?.

Eu: Sim, eu te desculpo. Eu não sou do tipo que guarda rancor no coração, Fernando, e não vou me afastar de você!.

Fernando: Bebê, não brinca comigo, cê vai mesmo voltar para mim?.

Eu: Não, espera aí — Levanto da cama — Você está entendendo errado, te perdoar é uma coisa, voltar para você é outra e eu não vou voltar para você!.

Fernando: Então, por que disse que não vai se afastar de mim?.

Eu: Lembra daquela promessa que eu fiz a gente prometer?, que não importa o que acontecer, a gente vai continuar sendo amigos, porque nós sempre fomos amigos — Ele confirma — Anos de amizade não se joga fora assim, entendeu?.

Fernando: Acho que sim, nossa amizade prevalece firme, né?.

Eu: Não vai ser a mesma coisa que antes mas a nossa amizade continua. O que eu prometo, eu cumpro, Fernando — Ele abaixa a cabeça — Você queria o seu perdão, você tem o perdão. Agora se puder me deixar sozinha, eu vou te agradecer!.

Fernando: Bebê, não solta a minha mão, fica comigo. Vamos ser feliz, por favor!.

Eu: Eu larguei o mundo para segurar a sua mão e você largou minha mão para segurar o mundo, não fui eu que soltei!.

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