Menino

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João e eu almoçamos em meio a risadas e xingamentos, é divertido demais essa cumplicidade que temos, João não me deixa ficar triste nem por um segundo e eu amo isso nele. É raro encontrar um grande amigo como o João, ele é único.

Eu: Mais tarde vou ao cinema, vamos? — Ele pergunta quem vai — Bom, de importante apenas eu. Tava pensando em chamar a minha irmã, mas não sei se quero tumulto!.

João: Ah não quer tumulto e está me convidando? — Ele nega com a cabeça.

Eu: Amo o tumulto da minha irmã, porém, você nunca sai comigo, seria legal ter a sua companhia!.

João: Eu vou ver se a Monique quer ir e te aviso, mas Carlão, não acha que seria legal ter um momento a sós com o Fernando? — Sugere — Assim, vocês dois tão sempre arrastando alguém para as saídas de vocês, está na hora de curtir um momento a dois!.

Eu: Digamos que você tenha razão — Ele assente — Aí João, é o fim da safada — Me jogo no chão.

João: Ai Carlão, é o fim do safado — Se joga ao meu lado — Quem nos viu, quem nos ver agora. Os dois extremamente apaixonados por pessoas incríveis e formando família, logo a gente!.

Eu: Primeiro, quando foi que eu passei de amiga linda para Carlão? — Ele gargalha — Juro, amiga linda é melhor — O acompanho na risada.

Nossas gargalhadas altas preencheram aquela sala, não sabia de fato o motivo pelo qual estávamos rindo, mas sei que estava sendo bom demais poder dar risadas de coisas bestas que o meu amigo dizia. O momento genuíno e isso era um detalhe importante. Quando as gargalhadas foram se acalmando, notei o João com o rosto virado para o meu e então eu o olho de volta.

Eu: Se o meu noivo ver você me olhando de tão perto assim, ele te arrebenta — Sorrio novamente, porém, noto os olhinhos dele brilhando — O que foi, Joãozinho?.

João: Não é nada, eu só estou feliz — Ele deixa uma lágrima escapar.

Eu: Está feliz mas está chorando — Levo a minha mão até o rosto dele para secar a lágrima — Não te entendi, amigo!.

João: São lágrimas de felicidade. Eu estou muito orgulhoso de você, Carla Maraisa, você não tem noção do tamanho do orgulho que sinto de você. Mulher, você é foda demais — Sorrir — Poder ter o privilégio de acompanhar de perto a sua evolução é algo único, ser o escolhido como o seu melhor amigo é único. Fazer parte da sua vida é extremamente único. Você passou por várias coisas e confiou contar a mim cada momento ruim, você me escolheu como o seu confidente fiel — Ele acaricia o meu rosto — Eu olho pra você e vejo uma irmãzinha linda, a minha irmãzinha que preciso cuidar e proteger, a pessoa por quem eu enfrento qualquer um para deixar a salvo!.

Agora era ele quem secava as minhas lágrimas, cada palavra dita me emocionava ainda mais.

João: A tempestade finalmente passou, o céu se abriu e você agora pode ser completamente feliz. Você vai casar, Maraisa, vai casar. Você cresceu demais e agora vai voar, vai brilhar como nunca, um brilho que sempre esteve preso dentro dentro de você — Ele beija a minha testa — Você vai casar e eu vou estar lá para te ver entrar maravilhosamente linda e impecável, eu vou estar lá para te prestigiar, para te apoiar e para ver você se entregar a alguém que te merece, para o amor da sua vida. Vai ser um lindo dia!.

Depois dessa declaração, eu apenas me sento vendo ele se sentar também e dou um abraço apertado nele sentindo o choro me dominar. João me conhece de olhos fechados, teve um tempo em que ficamos afastados por conta da correria na estrada, mas nada afetou a familiaridade que temos, nada afetou o nosso companheirismo. Ele sabe tudo sobre mim e eu sei tudo sobre ele, somos cúmplices e isso nunca vai mudar.

João me acalmou em seu abraço, beijou o meu rosto e me olhou com carinho, um verdadeiro irmão. Nosso dia foi assim, sorrimos, brincamos e choramos, tudo equilibrado. No fim da tarde ele acabou tendo que ir embora, mas antes me deu a ordem de ir ao médico, sim, ele me deu ordem e sem direito de protestar.

Fernando chegou a noite e aparentemente com a feição cansada e estressada pois nem um selinho me deu, ele jogou a chave do carro na mesinha e sentou no sofá retirando o tênis. Cheguei de fininho e me sentei ao seu lado no sofá, Fernando nem me olhou, então eu puxo assunto.

Eu: Quer me contar o que aconteceu para você estar com essa carinha de bravo? — Ele não responde — Amor, olha pra mim — Peço de forma manhosa e ele me olha — O que aconteceu no trabalho?.

Fernando suspira cansado e passa as mãos no rosto bufando.

Fernando: Não é nada, não precisa se preocupar!.

Eu: Fernando, como não é nada?, você está estressado e eu sei que algo está te afetando, nem um beijo você me deu quando chegou. Se for para a gente casar mesmo então eu quero fazer parte de cada parte da sua vida, até mesmo nos problemas mais difíceis, eu quero participar de tudo — Seguro em sua mão — Me conta, por favor!.

Fernando: Eu não fui trabalhar hoje como eu disse que iria — Automaticamente largo sua mão — Eu menti pra você sobre isso!.

Eu: Pra onde você foi?, como assim mentiu pra mim? — Agora quem estava ficando estressada era eu — Fernando!.

Fernando: Hoje de manhã eu recebi um mensagem de uma antiga namorada minha, não sabia que era ela e por isso abri a mensagem — Me levanto já sentindo o meu corpo esquentar — Ela jogou uma bomba em mim, em uma única mensagem ela me pediu para encontrá-la no hospital que tem perto da casa dela alegando que já estava na hora de eu assumir a minha responsabilidade!.

Eu: Qual responsabilidade?.

Fernando: Meu filho — Sinto meus olhos se inundar e a minha voz sumir — Ela me contou que na nossa última noite ela acabou engravidando, porém nunca me contou pois estava com medo da criança não ser aceita por mim. No hospital foi feito um exame de DNA e o resultado foi positivo, mas nem precisava ter feito já que o menino é a minha cara. Ela decidiu me contar porquê o menino anda perguntando pelo pai!.

Eu: O menino — Acabo sorrindo de nervoso — O menino deve ter nome, não?.

Fernando: O nome dele é Antônio, ele é um garoto tão lindo — Sorrir em meio as lágrimas e por fim se levanta para me olhar — Eu sei que nesse momento você deve estar morrendo de raiva de mim e sei que não quer ter essa criança perto de você, pois é filho de outra!.

Eu: É isso que pensa de mim?, tem certeza de que me conhece, Fernando? — Encaro ele com desprezo.

Fernando: Não é o que eu penso, é o que eu imagino só por ver esse olhar de ódio e desprezo sendo direcionado a mim. Até ontem eu não sabia que tinha um filho, não pode me culpar por isso, mas entendo se ficar com raiva, assim como entendo você ficar com raiva por eu ter dito que iria trabalhar — Ele se aproxima de mim — Me perdoa por ter mentido, mas eu não fiz por mal, eu só queria ter a certeza antes de te contar essa situação que mudaria as nossas vidas. A gente estava tão bem e eu não queria te jogar a bom assim de cara como ela jogou em mim. Amor, eu só tentei não machucar você. Me desculpa, por favor!.

Assim que ele termina de dizer eu viro as costas e vou para o quarto trancando a porta, por fim me jogo na cama a passo a chorar de soluçar. Estava me sentindo enganada, não pelo filho pois como ele disse, ele não tem culpa já que não sabia da existência do menino, mas sim por ter escondido de mim para onde iria e por ter me tirado dessa parte tão importante que foi a descoberta de um filho.

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