Ovelha negra

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Ela saiu correndo e nós corremos atrás dela, mas ela acabou se trancando dentro do quarto e começou a quebrar as coisas, mas do nada tudo ficou em silêncio e já imaginei o pior.

Eu: Metade, abre essa porta pra gente conversar, por favor — Ela não me respondia e a gente só escutava os soluços de choro dela.

Marília: Pudim, sabemos que está mal, mas você não pode tentar tirar a sua vida por causa de homem não, nem vale a pena Maraisa, reage por favor!.

Maraisa: NÃO É SÓ POR CAUSA DELE, É POR TUDO, VOCÊS NÃO ENTENDEM — Ela grita do quarto.

Eu: Então explica pra gente, metade, deixa a gente te ajudar — Eu estava desesperada.

Marília: Mai, cê tem a cópia da chave desse quarto? — Ela pergunta sussurrando.

Eu: Ah é, tenho sim — Me lembro de onde ela fica — Vou lá buscar!.

Fui até onde estava e peguei a chave reserva do quarto dela, quando abri, meu coração terminou de se despedaçar, Maraisa estava se cortando todinha, cheia de sangue no corpo.

Marília: Pudim — Ela sussurra abismada e com lágrimas nos olhos.

Eu: Irmã — Comecei a chorar — Não se machuque desse jeito, não faça isso com você!.

Maraisa: EU ODEIO A MINHA VIDA, EU NÃO QUERO MAIS FICAR AQUI, EU QUERO MORRER!.

Marília: Desabafa vai, chora — Ela pega a gillette da mão dela.

Maraisa: EU NÃO AGUENTO MAIS TUDO ISSO, MINHA VIDA É UMA MERDA, EU NÃO SOU FELIZ E NUNCA FUI — Ela para de falar, respira fundo e depois volta a falar de novo — Ninguém me ama, nem a minha própria mãe me ama!.

Eu: Como assim?, nossa mãe te ama sim e muito!.

Maraisa: Isso é o que você acha, ela me acha uma inútil que não serve para nada — Ela puxa o próprio cabelo arrancando ele e chora mais ainda — EU SOU A PORRA DA OVELHA NEGRA DA FAMÍLIA — Aquilo era como uma facada no meu peito — Eu me corto desde os quinze anos, sabia?.

Eu: Mas por que eu nunca soube de nada e nunca vi um corte seu?

Maraisa: Porque eu nunca quis que você soubesse ou visse alguma coisa!.

Marília: Mas por que cê nunca contou isso para ninguém?, por que cê quis sofrer sozinha?.

Maraisa: Não queria dar esse desgosto para vocês, a minha mãe sabia mas ela nunca se preocupou comigo, ela fala que isso é drama, digam a ela que ela não vai mais precisar saber dos meus "dramas"!.

Eu: Você não nos dar desgosto, só ficamos triste por você não deixar a gente te ajudar, nunca te julgaríamos, muito pelo o contrário, iriamos te estender as mãos e dizer que estamos aqui por você sempre!.

Maraisa: Cês não vão dizer que é drama ou palhaçada minha para chamar a atenção?.

Marília: Claro que não — Ela diz com uma voz meiga — Maraisa, depressão é caso sério e não brincadeira, mas não se corta mais não. Essa lâmina não é a sua amiga, isso tudo é uma furada — Ela segura a mão da minha irmã — Para de arrancar esse cabelo!.

Ajudamos a Maraisa a tomar banho e depois colocamos ela para dormir um pouco porque ela não dormiu nada. Ficamos lá velando o sono dela um pouco, depois a Lila desceu para preparar alguma coisa para a gente comer, quando Maraisa acordou, o céu já estava escurecendo.

Eu: Irmã, vem comer um pouco!.

Maraisa: Não estou com fome — Ela diz séria.

Marília: Mas cê vai comer, você está muito magra e percebi que você não anda comendo, né?.

Eu: Metade, desde quando você não come?, você hoje de manhã falou que iria comer mas não comeu foi nada, não é?, anda, fala logo e não mente para mim!.

Maraisa: Sei lá, acho que desde Portugal!.

Eu: Desde quando você foi? — Pergunto abismada.

Maraisa: Sim, não consigo comer nada!.

Marília: Pudim, é por isso que você está magra, vem comer isso aqui agora — Ela faz a minha irmã se sentar — Tudinho hein, quero você fortinha!.

Ela solta um sorrisinho triste e fechado, o corpo dela estava todo cortado, me bateu uma vontade de chorar mas eu me segurei porque estou na frente dela. Terminamos de comer e fomos escovar os dentes, e de novo Maraisa se trancou no quarto.

Eu: Irmã, abre aqui — Ela abre para mim.

Maraisa: Calma, eu não vou fazer nada — Ela deita na cama.

Eu: Podemos conversar? — Ela balança a cabeça que sim — Me conta o que a mãe falava para você!.

Maraisa: Mai, deixa isso quieto, okay?, não quero falar sobre isso!.

Eu: Tá bem, não irei te forçar a falar nada. Mas irmã, por que você tentou tirar a sua vida?.

Maraisa: Porque eu não aguento mais, todo mundo mente para mim, me usa e depois me abandona, eu estou cansada de ser trouxa, estou cansada de sofrer, de apanhar da vida, cansada de ser humilhada e cansada de ser sempre a dramática aos olhos da minha mãe, cansada de não fazer nada certo, eu queria ser como você, sabia?.

Eu: E eu queria ser como você, pelo menos a cara igual eu tenho — Ela revira os olhos e rir.

Maraisa: Palhaça, é sério, nem a minha mãe sabe o motivo da minha existência, talvez se eu fosse como você ela me amasse mais — Vejo ela forçar um sorriso — Você é tão linda, doce, carismática, alegre e de bem com a vida, todos te amam, é casada com um homem que faz de tudo por você, você é perfeita aos olhos de quem ver, mas e eu?, eu sou um lixo!.

Eu: Não, você não é — Digo firme — Irmã, você é um máximo, é a minha menina super poderosa, tem várias pessoas que te ama e você também é super carismática. Você é alegre mas só você não enxerga isso, e se não deu certo com o Fernando é porquê não era para dar certo, tem pessoas que realmente não foram feitas para estar com a gente!.

Maraisa: Eu nunca faço nada certo, eu não me encaixo na sociedade, talvez eu tenho que mudar meu jeito para agradar as pessoas!.

Eu: Você não tem que mudar o seu jeito coisa nenhuma e muito menos para agradar as pessoas, se você for mudar, tem que ser porque VOCÊ quer mudar e se sinta bem com a mudança, quem tem que gostar é você, não é ninguém!.

Maraisa: Tá bem, chega desse assunto, deita aqui comigo — Ela foge da conversa.

Eu: Tá bom — Me deito abraçada nela — Eu amo você, estrelinha!.

Maraisa: Eu também amo você, minha neném preocupada — Ela beija a minha cabeça.

Marília: Licença, será que tem espaço pra mim aí? — Ela pergunta com uma carinha de cachorro abandonado.

Maraisa: Claro que tem!.

Eu: Vem logo — Dou risada.

Deitamos as três naquela cama e tivemos conversas aleatórias, eu e a Lila estávamos fazendo de tudo para distrair a mente da minha metade, e parece que estávamos conseguindo.

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