Ai, Amor

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Impossível tirar essa música da cabeça desde que vi o filme.
Marcada por choro, por identificação, por risa.
Risa esa siempre presente, cómo me gusta esconder y mostrar todo con ella.

"E uma característica que eu admiro muito nela é que pode estar caindo o mundo e a Paloma vai estar lá, sempre com um sorriso no rosto"

A sonrisa é falsa ou é crônica? É defesa ou arma? É disfarce ou realmente expõe minha calma? (Ríe, chinita, y cierra tus portales del alma)

A fragilidade da taquicardia, a emoção da produtividade de mãos vazias
O que sente ao encarar tudo isso?
O que sente, ao não sentir nada?.
Por que é que você insiste em tentar se encaixar em um peito que nunca foi seu lar?

Nunca vai ser.

~

Sinceramente, não sei se prefiro o azul ou o cinza. A eletricidade da presença, a excitação da expectativa, o coração, a cor favorita, o som da sua voz. Ou a certeza de que a mensagem chegou ao lar, o nem branco nem preto, a ambiguidade, a mescla, o equilíbrio? The calm before the storm. Before the blues.

~

Hoje coloquei algo estragado na boca.
Como sempre fiz, o mastiguei, ruminei, tentei sacar algo de bom dali, mas não adiantou. Continuava amargo, azedo.

E sabe o que eu sempre fiz? Eu engolia. E não sei nem bem o porquê.

Eu achava que tinha que aguentar. Que tinha que tragar pra dentro de mim todo o mal, e ver só o lado bom de tudo. Tragar, tragar, tragar. Uma espécie de estação de compostagem que destilaria algo bueno de todo lixo engolido, de todo veneno injetado, toda brasa marcada. Engolindo até a garganta doer de tão cheia, de nunca colocar pra fora, de continuar aguentando mesmo sabendo que nada iria mudar se eu só continuasse abaixando a cabeça.

Malditos masoquismo e síndrome de Pollyana.

Se eu só aguentar um pouco mais...já vai passar, nem tá doendo tanto, vai doer mais nelx do que esse nada que você tá sentindo. Ei, essa falta de ar não é nada, sempre tem um espacinho pra mais, dá para encaixar, essa não é a gota d'água.

Foi a gota d'água. Muitas vezes, muitas gotas. Muitos choros, engolidos também, enforcados na garganta, bloqueando a fala, o riso, o respirar. Me paralizava toda. E eu sorria. E fechava os olhos. E perdia o contato.

Perdi o contato desde muito, muito cedo, com tudo que meu corpo dizia. Fui petrificando e protegendo, encouraçando e enrijecendo, até que me tornei a bonequinha perfeita. "Que menina boazinha", diziam. "Não faz barulho, não faz bagunça, brinca sozinha... Não precisa de nada". Não precisa de nada?

~

E viva a projeção! A raiva, a injustiça e a frustração. O não reconhecimento, a falta de pagamento, a inevitável comparação. Rima simples pq a raiva é simples. E está a tona, a toda. Tá no cheiro, na respiração chiada e cortada, rápida. E também na longa, profunda. Rotunda. Parei.

Tá no espasmo involuntário, que eu sigo odiando, um pouco menos de cada vez. Tá no pescoço que não confia, que não deposita o peso da cabeça na presença amiga. Tá nas costas tensas, prontas pra se defender de mais um ataque. Tá em cada gatinho feito e que me dá tontura, e que puta nome de gatinho ao caralho do exercício. Ahmm..tá na fala. Na falta dela também. Respira fundo de novo. Você não vai engolir mas também não vai socar a cara de ninguém (muito menos dela né non?). Responde racionalmente, ou se não nem responde.

Faz o que tem que fazer. E mais um pouco. E mais outro. E sempre vai ter mais.

Towers of gold are still too little
These hands could hold the world, but it'll
Never be enough
Never be enough
For me?


(en)cajaWhere stories live. Discover now