Capítulo quatro

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Julia

Duas semanas se passaram desde o passeio no parque com Liza e Lucas, nada de novo aconteceu na minha vida, só muito trabalho para fazer. Os dias livres ficava por conta do meu devocional pela manhã e o resto do dia era só para garimpar os romances clichês da Netflix.

Sempre que encontrava Lucas pela igreja nos falávamos normalmente, mas nada de mais aconteceu. Eliza ficou ainda mais ligada a mim, nos meus dias de escala na escolinha bíblica era a primeira criança a chegar e a última a ir embora. Nós nos divertimos juntas.

Rafaela depois que soube do meu "dia com Lucas" não me deixou mais em paz, na sua cabeça de adolescente de 17 anos de idade, tudo é fácil e tranquilo. É só chegar, falar e pronto, tudo resolvido. Mas não, não é assim, a vida adulta é complicada, e pessoas com passados tão devastadores não conseguem seguirem em frente do dia para noite.

***

Decidi que iria passar aquele final de semana na casa de meus pais, precisava do carinho e aconchego deles. Arrumei uma mochila com algumas peças de roupa e dirigi até a casa deles.

Eu amava demais meus pais, eles eram o meu referencial de pessoas, de cristãos, de casal. Se um dia tiver um relacionamento um pouco parecido com o deles sei que serei muito feliz. Eles estão juntos a mais de 30 anos e ainda parecem um casal de adolescentes apaixonados.

Abri a porta de casa e encontrei meus pais na sala, mamãe com os pés no colo de papai que fazia massagem enquanto eles conversavam algo divertido, pois ambos estavam sorrindo. Era lindo de ver eles dois.

-Oi ! -Falei deixando a mochila no canto do sofá e indo até eles.

-Meu amor, está tudo bem? -Minha mãe perguntou. Ela me conhecia tanto que era impossível esconder algo dela, sempre foi.

-Tudo bem mãe! -Falei apertando ela num abraço. Eu ia contar tudo para ela , mas não na frente do meu pai.

-Oi, papai! -Falei beijando seu rosto e lhe abraçando.

-O que te trouxe aqui, garota independente? - Falou sorrindo. Ele me chamava assim, por eu ter saído de casa para morar sozinha.

-Saudades de casa. -Me sentei entre eles no sofá.

-Então vem cá! -Disse me puxando e me aninhando a ele. Eu poderia ficar ali o dia inteiro ali.

-Eu amo vocês!

-Nós também amamos você! -mamãe beijou meu rosto.

Conversamos um pouco sobre a vida e logo eu subi para o meu antigo quarto. Deitei na cama e imaginei como tudo seria diferente se no passado eu tivesse ficado com Lucas ou se Victor não fosse um babaca e nós tivéssemos nos casado.

Eu havia me acostumado ao fato de não estar em um relacionamento, eu conseguia viver bem com a solteirice. Mas daí me vi apaixonada por um homem 6 anos mais velho, com um passado, com bagagens e sem nenhum sentimento por mim. Embora sonhasse com tudo se ajeitando entre eu e Lucas, eu não mentia para mim mesma e acreditava que isso fosse se tornar real.

Ele era um homem viúvo com um passado, com marcas, com feridas abertas, ele era pai, ele era líder, era meu líder. Eu? Eu só era uma moça virgem, que foi abandonada por um ex-noivo babaca.

Eu não tinha metade das experiências que ele tinha, não tinha metade da maturidade que ele tinha, não era capaz de ajudá-lo sarar suas feridas. Eu não tinha nada a oferecer. Mesmo que esse sentimento que eu tenho a seu respeito fosse algo recíproco, eu jamais seria o que ele precisa. E isso doía muito, machucava demais o resto do meu coração, o que tinha sobrado depois de toda dor que já vivi.

-A princesa-fada-bailarina , está bem? -Mamãe falou sorrindo ao me chamar pelo mesmo apelido que eu me dei na infância.

-Não!-Falei já chorando abraçando minha mãe.

-O que está acontecendo meu amor?

-Tanta coisa, Mamãe!

-Me conte!

-Eu amo o Lucas, amo o irmão da minha melhor amiga , o meu pastor. E isso é tão ridículo quanto tudo que sinto.

-Nos fale isso Julia, seus sentimentos não são ridículos. Como assim ama o Lucas? Quando isso tudo aconteceu.

-Eu não sei mãe, foi tudo tão de repente. Num dia eu era só uma ovelha que admirava o caráter e personalidade de seu pastor, no outro eu já não conseguia olhar para ele sem ter uma arritmia cardíaca. Achei que não fosse sentir isso por mais ninguém, mas eu não consigo mais olhar para ele sem imaginar minha vida ao seu lado. Me imaginar cuidando de Eliza, sendo a figura de mãe que ela precisa, me imaginar cuidando dele e sendo o apoio que ele necessita... -Chorei ainda mais aí declarar tudo aquilo.

-Me amor, eu não posso diminuir o que você está sentindo, nem dizer que isso não é amor, pois é. Mas você não pode ficar alimentando tudo isso se não for recíproco, você vai se machucar de novo.

-Eu já estou machucada mãe, nenhuma ferida que Victor me causou se fechou, todo tempo passado só fizeram elas aumentarem. Eu sou uma pessoa machucada que é incapaz de ajudar alguém a sarar suas feridas.

-Nós não curamos feridas filha, não temos essa função. Isso é trabalho do Espírito Santo, mas só quando damos espaço a Ele. Você precisa se libertar dessa culpa pelo que passou, Victor foi babaca e não você. Não foi culpa sua amar e confiar nele, foi culpa dele não dar valor a você e aos seus sentimentos.

-Eu sei...

-E sobre Lucas, não é culpa sua se apaixonar por ele. Ele é um homem incrível, me lembra muito Pedro quando era mais jovem, é praticamente impossível não admirá-lo. Você precisa orar sobre tudo isso, precisa descansar em Deus.

-Eu estou tentando mãe.

-Você não pode se deixar desanimar ou ficar triste. Tudo isso vai se ajeitar.

-Amém!

Logo meu celular vibrou e eu peguei para ver a mensagem, não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo.

Julia, tudo bem?

Tem como eu te encontrar hoje? Preciso muito falar com você.

-Lucas

Aí meu Deus, fica no controle de tudo!

CONTINUA...

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