Capítulo seis

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Nenhuma pessoa na vida merece se apaixonar por alguém e não ser correspondida. Não existem palavras que possam expressar o tamanho da dor que é ver quem você ama sequer ter o mínimo de sentimento por você.

Eu me apaixonei por Lucas no passado, quando era só uma adolescente magricela sem graça enquanto ele era um universitário promissor. Eu sonhava com o dia que ele simplesmente acordaria e perceberia que eu era a mulher da sua vida, mas isso nunca aconteceu.

Eu vivia na casa dele por ser melhor amiga de sua irmã, sua mãe era como uma segunda mãe para mim. Nós nos víamos quase todos os dias e era um martírio guardar esse sentimento em mim, pois eu sabia que era errado. Eu só tinha 15 anos e ele já tinha 22, ele estava prestes a se formar na faculdade e eu nem tinha concluído ainda o ensino médio. Éramos mundos opostos, ele era toda explosão, falante, divertido, brincalhão, eu era só a melhor amiga de sua irmã, a menina meiga e tímida.

Confesso que sou um pouco fechada, que embora meus pais e irmãos sejam falantes, divertidos e espontâneos, eu não sou. Eu era uma pessoa diferente, um pouco tímida, retraída e séria. Eu e Luiza éramos o oposto uma da outra, talvez isso tenha nos ajudado a sermos tão unidas, uma completava a outra , uma era o equilíbrio da outra, já que ela era igualzinha ao irmão.

Luíza vivia me dizendo para esquecer o irmão dela, que ele era mais velho, que tinha planos diferentes, etc. E eu juro, juro que eu tentei esquecer Lucas.

E do dia para noite sem que eu tivesse me preparado para isso, ele apareceu com Gabriela. Ele estava namorando, estava apaixonado e feliz, incrivelmente feliz e mesmo que o meu coração estivesse esmagado, partido e doendo como uma ferida profunda eu me sentia feliz por ele. Essa era a felicidade mais esmagadora que senti na vida.

Quando Lucas casou com Gabi eu me forcei a esquecer que um dia fui apaixonada por ele e eu pensei ter conseguido quando me apaixonei por Victor. Mas eu estava redondamente enganada, depois de anos, lá estava eu, completa e loucamente apaixonada pelo mesmo homem.

Lucas me trouxe para casa depois do jantar e eu preferia ter pego um uber assim eu não precisaria esconder as lágrimas que eu estava segurando há tempos. Eu estava feliz por poder ajudá-lo a cuidar de Eliza enquanto ele viajasse, mas estava ao mesmo tempo angustiada e triste por saber que a nossa relação de restringia apenas a Eliza, ela era o nosso elo, no entanto ele não me olhava como mulher, como uma possível companheira e isso me destruía.

-Está entregue! -Lucas falou estacionando o carro na casa dos meus pais.

-Obrigada, foi um ótimo jantar.

-Obrigado por tudo, você não sabe o peso que tirou das minhas costas.

-Eu imagino, acho que se tivesse um filho não conseguiria ir e deixá-lo.

-Toda vez que tenho que deixar minha pequena meu coração fica minúsculo, eu gostaria de poder levá-la em todas as viagem.

-Deve ser horrível mesmo, ainda mais porque ela é tão apegada a você.

-Verdade, mas fico feliz dela ficar com você. -Ele falou sorrindo, o sorriso mais lindo que já vi na vida.

-Será um prazer.

- Tenho que ir, obrigado mais uma vez.

-Por nada!

-Tchau, Julia! - Falou beijando minha bochecha.

-Tchau, Lucas! -Falei olhando em seus olhos antes de sair.

***

Lucas

Assim que Julia saiu do carro eu consegui respirar novamente. Aquele olhar que ela me deu antes de sair foi como se ela pudesse ler minha alma e foi tão intenso que fez meu coração falhar uma batida.
Ela era tão linda, gentil, carinhosa, uma moça de Deus, amava minha filha e minha família, era tudo que um homem gostaria de ter, tudo que eu queria ter. Mas eu não podia, não podia fazer isso com Gabriela, não podia fazer isso com Julia e muito menos com minha filha.

Julia era uma mulher incrível, eu sempre a admirirei e cheguei a respirar aliviado quando ela terminou o noivado, pois Victor poderia ser qualquer coisa menos um homem que merecesse ela, ele era imaturo, indeciso, infantil, ela teria sofrido bastante.

Mas eu não podia corresponder aos sentimentos que eu sabia que ela tinha por mim, que eu via nos olhos dela toda vez que ela me encarava, na respiração irregular, na voz nervosa, nas mãos que se contorciam enquanto conversávamos. Julia era um sonho de mulher e mesmo com sua pouca idade ela seria uma esposa maravilhosa eu não tinha dúvidas disso.

Mas não, ela não merecia que eu correspondesse a esse sentimento, pois não seria verdadeiro e intenso como ela merecia ser amada. Julia esperou a vida inteira por um homem que fosse como um príncipe e eu era tudo menos um príncipe, eu era um viúvo, pai de uma menina, um homem cheio de problemas e bagagens que não seria justo ela carregar, ela merecia mais do que eu, mas do que eu poderia oferecê-la.

Eu ainda amava minha falecida esposa e não sei se algum dia eu conseguirei ao menos me apaixonar de verdade por alguém, amar alguém como eu amei Gabriela é algo que eu não consigo imaginar acontecendo.

Eu precisava conversar com alguém, tinha ido da casa dos pais de Julia até a minha falando com Deus, mas eu precisava do colo de um pessoa que eu sei que estaria me esperando quando chegasse em casa.

Quando cheguei minha mãe me esperava na sala tomando seu chá, ela nunca perdia essa mania de esperar todos estarem em casa para poder dormir. Eu sempre achei desnecessário, mas eu precisava do colo da minha mãe.

-Já pediu ela em namoro?

-O quê?

-A Julia, eu sempre soube que ela era apaixonada por você. Me lembro como ficou tristinha quando você apareceu lá em casa com Gabriela.

-Mãe, eu não tenho nada com Julia.

-Mas deveria, você já viu a forma como ela te olha? -Perguntou me encarando.

-Já Dona Diana, mas eu não mereço ela.

-Claro que merece, vocês se merecem. Ela já te ama, ama sua filha como se fosse sua própria mãe, só falta você corresponder e pronto! - Falou sorrindo.

Eu sorri também, quem dera tudo fosse fácil assim, quem dera a gente pudesse controlar os sentimentos tão facilmente. Eu tenho consciência de que nós podemos agir pela razão e domar as emoções e eu tenho certeza que Julia faz isso muito bem, pois em nenhum momento ela se ofereceu ou tentou me mostrar o que sente.

Mas esconder um sentimento que existe é muito mais fácil que fingir um que não existe. Eu amava Gabriela e eu não estava disposto a abrir meu coração para outro relacionamento.

-Eu ainda amo minha esposa Mãe e odeio o fato dela não estar mais aqui, ódio também o fato de machucar Julia com a minha falta de reciprocidade.

-Eu entendo meu filho, mas faça um esforço para abrir espaço em seu coração. Você precisa ser feliz de novo, precisa se apaixonar novamente, Gabriela te amava o suficiente para odiar vê-lo sofrendo por ela.

-Eu vou orar mais sobre isso. Agora eu preciso de um colo. -Falei deitando minha cabeça nas pernas de minha mãe que estava sentada no sofá.

CONTINUA...

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