Capítulo oito

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Lucas

Preciso dizer que essa semana pré viagem foi bastante cansativa, tive que deixar a empresa organizada, tive algumas reuniões na igreja e Eliza ficou ainda mais grudada em mim. Porém, eu conversei bastante com Julia por mensagens, era engaçado como ela podia ser divertida, sarcástica e amável, tudo ao mesmo tempo. Pessoalmente ela era mais fechada e inibida, mas suas mensagens durante a semana foi o que fizeram meus dias serem um pouco mais leve.

Hoje durante o almoço, enquanto conversava com Bento meu melhor amigo, percebi o quanto ela fazia parte da minha família, o quanto minha filha a amava, minha irmã a tinha como irmã, meu cunhado como uma amiga, meus pais a tinham como filha e até meus amigos que até hoje não tinha tido um contado mais íntimo com ela já se mostravam apaixonados por ela.

Ela não fazia ideia do quanto era incrível, do quanto sua doçura e gentileza cativa as pessoas. Carol esposa de bento, parecia ser melhor amiga de infância dela num piscar de olhos, Andrea e Junior, meus amigos também comentaram em alguns momentos o quanto ela era uma menina legal.

-Daqui a pouco a baba vai cair!-Bento falou tocando meu ombro enquanto eu observa Julia com Eliza no colo e conversando com minha família e amigos .

-O quê? -Falei encarando ele.

-Pode ser sincero comigo, você não sabe esconder nada de mim, está gostando dela né?

-Não, não posso nem cogitar essa ideia. Ela é uma menina.

-Falando assim parece que você é um idoso, não dever ter mais de 5 anos a mais que ela.

-Tenho sete anos a mais que ela, e essa não é a questão.

-O que é então?

-Eu ainda amo minha esposa, e além disso tenho bagagens demais para ela carregar.

-Eu entendo que Gabriela tenha sido a mulher da sua vida, a melhor esposa que poderia ter tido, a pessoa mais importante da sua vida, mas ela não está mais aqui. Tenho certeza de que ela não gostaria de te ver infeliz. -Falou segurando em meu ombro. -Essa menina pode ser mais nova que você, mas é mais madura que muita mulher mais velha por aí, todos nós presenciamos ela se reerguer depois do término do noivado. Todos sabem o quanto ela é compromissada com a obra de Deus, como ela cumpre a escala da sala das crianças, que vai para todos os cultos, que faz uma célula incrível em sua casa. Eu nem tenho intimidade com ela e sei tudo isso ao seu respeito...

-Ela é mesmo maravilhosa Bento, eu não posso mentir quanto a isso. Mas eu não posso entrar num relacionamento pensando no passado, ela não merece ter meios sentimentos de ninguém.

-Eu espero que você não se arrependa de dispensar essa moça da sua vida, espero que não apareça um cara incrível e roube ela de você.

-Talvez isso seja o melhor para ela .

-Você é muito burro Lucas, depois não venha chorar no meu ombro.

Depois do almoço, me despedi dos meus amigos e fui tomar um banho rápido antes de ir para o aeroporto, assim que desci as escadas com a mala vi que Julia estava me encarando, vi tristeza em seus olhos e sem querer imaginei estar casado com ela e se já não aguentava me despedir só de Eliza seria ainda mais doloroso ter que me despedir das duas.

Quando comecei a pregar fora, em outros estados e países, Gabriela já não estava entre nós, isso me ajudou bastante a superar sua perca. Tenho certeza que ela não me deixaria ir em metade das viagens e pelo visto se algum dia viesse a ficar com Julia teríamos o mesmo problema.

-Vamos? -Perguntei.

-Sim. -Sorriu fraco enquanto se levantava e arrumava o vestidinho de Liza.

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Chegamos no aeroporto faltando poucos minutos para o embarque, Eliza estava grudada em meu pescoço, Julia e Luíza tinham ido comprar água, só Eduardo ficou para me fazer companhia. Meus pais ficaram na minha casa, minha irmã os levaria para o rancho no dia seguinte.

-Não sei se teria coragem de deixar um filho meu para fazer uma viagem tão longa. -Edu falou.

-Com certeza essa será minha última tão longa, me dói demais vê-la assim. -Apontei com a cabeça para minha menina que estava deitada em meu colo com os pequenos braços agarrados ao meu pescoço.

-Julia vai cuidar bem dela e nós estaremos presente também.

-Eu sei, fico feliz em saber que posso contar com vocês. Mas a saudade certamente irá me consumir.

-Voltamos, e acabaram de chamar seu voo! -Luíza falou.

-Meu amorzinho, o papai precisa ir. -falei beijando seus cabelos.

-Eu não quero que você vá.

-Liza, lembra do que a gente conversou? Você vai ficar uns dias com a tia Julia enquanto o papai vai fazer a obra de Deus.

-Pra Ele ficar feliz?

-Sim, para Deus ficar feliz. -Beijei sua bochecha tentando controlar o choro que queria cair.

-Vai com a tia Julia, o papai já vai. -Falei me levantando e entregando ela para Julia que assistia toda cena com os olhos marejados.

Me despedi de minha irmã e cunhado, e voltei para me despedir da minha princesinha.

-Eu te amo muito, o papai promete voltar logo! - Beijei seu rosto. -Se comporte com a tia Julia e cuida bem da Bel ! -Falei sorrindo ao lembra da boneca que ela dizia ser mãe.

-Amo você, não vai demorar né?

-Não, prometo que você nem vai senti saudades. Tchau meu amor! -Beijei sua testa.

-Tchau papai! -deixou um beijo molhado em minha bochecha.

-Obrigado por tudo, meu coração está apertado, mas sei que ela ficará muito bem com você.

-Pode ir tranquilo! -Falou me dando um sorriso singelo. -Faça a obra de Deus com o coração em paz, Ele vai cuidar dos seus, Eliza vai ficar bem.

-Sei que sim. -Sorri enquanto encarava seus olhos. -Fiquem bem! -Falei antes de deixar um beijo em sua testa.

-Papai! -Eliza olhou nos meus olhos. -Te amo!

-Eu amo muito mais. -Beijei seus olhos. -Mas eu tenho que ir, tchau princesinha! Tchau Julia!

-Tchau! -Respondeu enquanto tentava acalmar Eliza que tinha voltado a chorar, deixando meu coração destroçado.

Peguei minhas malas e segui sem olhar para trás, não aguentava mais ver minha filha sofrendo.

-Lucas! -Ouvi a voz de Julia e virei para olhá-la.

Ela estava com Eliza grudada em seu pescoço e caminhava apresada em minha direção.

-O que foi? -Perguntei preocupado. Mas surpreendentemente ela não respondeu, só me abraçou com o braço que não segura minha filha e afundou o rosto na curva do meu pescoço. Eu abracei as duas.

-Boa viagem! -Falou com os olhos marejados ao se separar.

-Obrigado! -Falei beijando sua testa.

Virei novamente e caminhei apressado para o portão de embarque. Ou eu com certeza voltaria com elas para casa.

CONTINUA...


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