Capítulo dez

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Julia

Depois de passar o sábado no rancho, eu decidi passar o domingo na casa dos meus pais, Eliza queria muito ver a vó Manu e o Vô Pedro, pois meus pais quase a obrigaram a chamá-los de avós. Mesmo distante de Lucas cada dia que passava me sentia mais próximo a ele, nossas conversas não giravam mais em torno de Eliza, nós já tínhamos uma certa intimidade que eu achei que nunca teríamos.

Apesar disso eu não estava totalmente feliz, Victor depois de mais de quatro anos decidiu voltar e atormentar minha vida. Numa manhã depois de deixar Eliza na escola, eu voltei para casa e estava preparando o almoço quando ouvi a campainha tocar, Rafaela tinha dormido lá em casa e foi atender enquanto eu conversava com meu irmão na cozinha.

Percebi a voz da minha irmã exaltada e não demorei a chegar na sala e ver a última pessoa que queria ver na vida. Lá estava o homem que destruiu mais da metade dos meus sonhos, que me fez sofrer e chorar por meses. Victor estava parado na porta segurando um envelope enquanto minha irmã dizia em plenos pulmões que ele não era bem-vindo ali, que ele nem deveria ter ido me procurar. Ela tinha razão, ele não tinha mais esse direito. Porém, os meus vizinhos não precisavam presenciar uma briga na minha casa.

Victor se mudou para o interior logo depois que terminou o noivado comigo, a empresa que ele trabalhava ofereceu uma ótima vaga em uma das regionais e ele foi junto com seu mais novo amor, e seis meses depois recebi a notícia de que haviam se casado.

-Chega Rafa, vai lá para dentro ver o almoço, eu não vou demorar aqui. –Falei segurando ela pelos ombros.

Henrique me encarava se mostrando solicito a ficar e me apoiar naquele momento, mas eu não precisava, aquela conversa era só entre eu e Victor.

-Oi, você está linda!

-Obrigada! O que está fazendo aqui?

-Vim visitar minha família e te trazer isso. –Falou me entregando um convite.

Chá de bebê do Heitor...

-Você não espera que eu vá não é?

-Pensei que seria uma ótima ocasião para me perdoar e sermos amigos.

-Eu já te perdoei há muito tempo, mas eu não quero ser sua amiga, você também deixou isso bem claro há quatro anos atrás.

-Eu...

-Obrigada pelo convite, fico feliz por você estar construindo sua família. Mas por favor, você pode sair da minha casa?

-Me desc....

-Não preciso de desculpas, só saia, por favor! –Falei o interrompendo.

-Tchau! –Ele falou mais eu nem respondi, assim que ele cruzou a porta eu a bati com força.

Como algum dia eu pude amar esse homem? Como eu me apaixonei por Victor? O que eu tinha na cabeça? Eu sabia a resposta. Eu nunca amei Victor, talvez eu pudesse construir um amor forte e duradouro com os anos de casados. Mas não, eu nunca o amei. Eu só comecei a namorar com ele por causa de Lucas, eu o amava, era completamente apaixonada por ele. Eu fiquei com Victor para esquecer Lucas, esquecer que ele estava feliz e casado com a mulher dos sonhos. Lucas era o culpado de todos os meus problemas, mas mesmo assim eu ainda era perdidamente apaixonada por aquele idiota de olhos azuis.

Lucas

Quando embarquei no vôo para casa meu coração não estava aguentando de ansiedade, depois de 20  dias viajando tudo que queria era o aconchego da minha casa e o abraço apertado da minha princesinha. Mas algo estavav me angustiando, era o tamanho da saudades que estava de Julia. 

Os últimos dias da viajem foram difíceis,  não consegui falar muito com minha família, pois fui fazer um trabalho voluntário em uma cidade do interior onde o sinal não era bom e onde eu tinha que me doar mais o que consequentemente me fazia estar desconectado das redes sociais, isso quando elas estavam funcionando.

Tudo isso foi péssimo, pois eu sentia que Julia estava diferente, triste. Em poucas ligações que fiz para falar com minha filha ela mal falou comigo e tudo que eu queria era poder consola-la, fazê-la perceber o quão especial ela era. Não consegui para de pensar no que Luíza havia me contado sobre a volta do ex noivo dela, sobre como ela se sentia parada no tempo, ela não tinha ideia do quanto isso era mentira.  Eu acompanhei Julia crescendo ao longo dos anos, vi o quanto ela sofreu e como ela se reergueu apesar de tudo, ela não permitiu  que a dor a aprisionasse e isso era algo que só uma pessoa madura conseguia fazer.

Decidi não avisar quando voltaria, Luiza tentou me tirar essa informação, porém não conseguiu.  Peguei um táxi do aeroporto até em casa e  assim que cheguei  percebi que não tinha ninguém ali. Maria a senhora que cuidava da minha casa deveria ter ido ao supermercado ou nem ter ido naquele dia, a casa estava extremamente limpa e vazia e isso me perturbava, a ideia de ficar sozinho me assustava. Quando perdi Gabriela me apoiei na minha filha, ela depois de Deus era minha maior companheira.  Viver nunca casa sem minha pequena bagunceira era uma ideia fora de cogitação.

Deixei as malas no quarto  e tomei um belo banho, vesti uma roupa mais casual e fui atrás das minha meninas.  Eu precisava tanto ver Eliza quando Julia e isso ao mesmo tempo que me dava medo fazia uma chama de euforia acelerar meu coração.

Assim que parei em frente ao apartamento de Julia orei mais uma vez para que elas tivesses ali, não quis avisar para não estragar a surpresa. No meio do caminho comprei um buquê de rosas vermelhas para Julia e um ursinho cor de rosa para Eliza.

Toquei a campainha.

-Oi! -Falei sorrindo lhe entregando o buquê  quando Julia abriu a porta.

-Lucas! Aí meu meu Deus! - Falou sorrindo ainda mais.

Ela ficou surpresa e sem reação, então deixei o buquê e o ursinho na mesinha da sala e a puxei para um abraço e logo seus braços me seguraram.

-Saudades de você! -Beijei sua cabeça. -Amo seu cheiro.  -Falei sem me conter, eu realmente amava o cheiro dela, era suave e marcante ao mesmo tempo.

-Eu também estava com saudades. -Me apertou no abraço. -Muita saudades.

CONTINUA...

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