Capítulo Nove

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Julia

Quando Lucas embarcou eu não consegui segurar as lágrimas e abracei Eliza mais forte e beijei sua cabeça repetidas vezes. Meu coração estava destroçado eu não aguentava ver minha pequena anjinha sofrendo daquele jeito, era só uma viagem missionária e eu sabia que ele estava indo fazer a obra de Deus, Eliza sabia que ele estava indo deixar Deus feliz, no entanto, isso não diminuía a dor da despedida nem mesmo o medo de não vê-lo novamente.

Algumas pessoas no aeroporto nos encaravam com empatia, a maioria compartilhava da mesma dor que nós. Não é fácil ver quem você ama se despedir por mais que saiba que a presença dela em outro lugar seja essencial. Eu queria ter Lucas pertinho de mim, queria estar nos braços dele, queria pode colocar Eliza para dormir ao seu lado.

-Não chora meu amor, daqui a pouco o papai volta. -Falei enquanto tentava acalma Eliza que ainda chorava.

- Seu esposo foi trabalhar? -Um senhor perguntou.

-O pai dela foi fazer a obra de Deus! -Falei caminhando com Luíza e Eduardo nesse momento pegou Eliza para me ajudar.

-Eu juro que me segurei para não chorar. -Luiza falou. -Vocês pareciam uma família se despedindo.

-Só estava acalentando Liza.

-Percebi no abraço que deu no meu irmão.

-Não fale bobagens Lulu.

-Sei! -Falou sorrindo.

Poderiam se passar 100 anos e eu jamais conseguiria apagar aquela cena do aeroporto da minha cabeça, jamais esqueceria os beijos na testa que ele me deu, o olhar carinhoso que destinou a mim e principalmente, o aconchego que senti em seus braços.

---

Depois que cheguei do aeroporto dei banho em Eliza e preparei o jantar para nós duas enquanto ela assistia um desenho infantil. Quando terminamos de jantar levei ela para o meu quarto e deitamos juntas na cama.

-Tia Ju!

-Oi anjinha!

-Será que o papai já chegou?

-Ainda não meu amor, mas já está pertinho de chegar. Quando nós acordarmos ligamos para ele.

-Tá bom!

-Vem aqui! -Falei chamando ela para mais perto. -Vamos falar com Deus!

Ali mesmo abraçada a ela fizemos uma oração ao Senhor e em minutos ela adormeceu em meus braços. Ela era perfeita, dormindo realmente parecia um anjinho. Meu coração não aguentava de tanto amor.

***

Lucas

Sete dias longe da minha pequena e eu não estou aguentando de saudades, por conta do fuso horário era difícil falar com ela, pois sempre estava em algum culto ou visitas em comunidades que precisavam de oração, e eu estava ali para aquilo. Porém, conseguia falar com Julia por mensagens, ela parecia ficar até a madrugada esperando que eu falasse, pois de imediato respondia minhas mensagens, o que era um alivio, pois assim me mantinha informado sobre minha filha, sobre minha família e também sobre ela. Pelo que me contava os dias com Eliza estavam sendo tranquilos e elas já tinham até uma viagem para o rancho marcada para o final de semana.

Enquanto preparava o esboço de mais uma pregação recebi uma mensagem no celular.

-Lucas?

-Oi Julia, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

-Não, estamos bem. Queria só saber como você está?

-Estou bem, mas morrendo de saudade.

-Imagino, já estou sentindo que vou sofrer quando Eliza for embora. Nós já temos uma rotina juntas.

-Imagino as bagunças que ela está fazendo por aí.

-Muitas rsrs... mas nunca fiquei tão feliz em ter que arrumar meu apartamento toda hora, ela me traz alegria.

-Sabendo disso, toda vez que ela estiver fazendo muita bagunça lá em casa eu vou mandar ela para o seu apartamento.

-Eu vou amar!

-Eu sei, prometo que ela vai te fazer visitas sempre e que nossa casa sempre estará aberta para você.

-Obrigada!

Conversamos por horas sobre tudo que imaginar, Julia era extremamente inteligente, me surpreendia ao dominar todo e qualquer conteúdo. Bento certamente ficaria encantado ao conversar com ela. Eu não queria admitir, mas aquela menina de cabelos negros e olhos azuis estava quebrando minhas barreiras e eu estava com medo do que ia acontecer.

***

-Que linda! Sua esposa? -Um dos pastores que estava no jantar que a igreja organizou para os pregadores de uma das conferencias que tinha ido pregar perguntou. Eu tinha acabado de receber a fotografia por mensagem, Luiza tirou uma foto de Julia sorrindo provavelmente de alguma arte de Eliza, elas estavam no rancho e tudo que eu queria naquele momento era estar com elas.

-Não, eu sou viúvo. É só uma amiga.

-Uma amiga muito bonita, não pensa em casar novamente?

-Não sei, não acho que estou preparado.

Enquanto respondia uma nova foto chegou, Eliza de macaquinho em Julia sorria para selfie onde meus pais, Luíza e Eduardo também estavam, todos sorrindo. Não pude conter o sorriso, era minha família.

-Amo vocês! -Mandei para Luiza.

-Nós também te amamos, estamos morrendo de saudades.

-Eu estou muito mais, como estão?

-Como viu, estamos ótimos. Só Julia que está um pouco triste, está disfarçando, mas eu conheço muito bem minha amiga.

-O que houve? Alguma coisa com a família dela?

-Não, só o idiota do Victor que apareceu depois de anos.

-Ela ainda gosta dele?

-Não, na verdade eu acho que ela nunca amou ele de verdade, ele só era um bote salva-vidas para salva-la de um sentimento que não poderia ser reciproco na época.

-E porque ela está triste?

-Ele vai ser pai, mandou o convite do chá de bebê para ela. Julia sempre teve a vida cronometrada, achava que a essa altura da vida ela já estaria esperando o primeiro filho. Ela sente que ficou paralisada esses anos todos, enquanto ele seguiu os planos e ainda veio jogar isso na cara dela.

-Ele é um babaca, como pode fazer isso com alguém como ela?

-Me pergunto a mesma coisa.

-Ela merece muito ser feliz.

-Vocês merecem ser felizes, dá uma chance para esse sentimento que há entre vocês desde que eu me entendo por gente. Gabi ficaria feliz de te ver feliz, Julia será uma mãe tão maravilhosa quanto Gabriela poderia ter sido.

-Preciso prestar atenção no jantar Luíza, te amo! Mande beijos para todos.

Eu sabia que minha irmã tinha razão e eu só não tinha coragem de admitir isso para mim ou para Julia.

CONTINUA...

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