Aperto no peito

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A sexta-feira de outono amanheceu chuvosa, e o mar estava levemente agitado. Dentro do recife, porém, as coisas continuam as mesmas: a água em uma temperatura agradável, suavemente iluminada pelas pedras brancas espalhadas por todo canto, e uma corrente fraca que balançava as algas presas nos corais.

-- Minha mãe morreu.

Kageyama prende a respiração por vários segundos, olhando firme nos olhos de Hinata – estavam tristes, um pouco inchados, sem o usual brilho animado que sempre têm.

-- No pânico causado pelo barco pesqueiro ela levou uma ferroada de uma das arraias bem no peito.

-- Eu não sei nem o que dizer – Kageyama admite, mordendo a boca.

Hinata ergue o olhar para ele, vendo tudo meio embaçado por causa das lágrimas. Seu queixo treme e ele mal consegue respirar. As escamas de sua cauda estão pálidas, e até o cabelo ruivo parece ter desbotado um pouco.

-- Vai ficar tudo bem, Hinata.

A voz suave de Kageyama faz o menino ruivo derramar todas as lágrimas que segurava. Elas escorrem, quentes, pelo rosto de Hinata e ele soluça alto. Kageyama passa o braço por seus ombros e o afaga de leve. O sereiano vira-se e se espreme no peito do menino, abraçando-o com força.

-- Promete?

-- Sim, prometo.

Hinata ergue a cabeça com um sorrisinho triste, cílios úmidos. Kageyama pisca seus olhos azuis na direção dos lábios de Hinata, e o olhar do ruivo também cai. Segurando gentilmente no pescoço de Kageyama, Hinata junta a boca na dele.

-- E-Eu... – Hinata gagueja, ouvindo o coração pulsar em seus ouvidos. Kageyama tem o rosto quente e as orelhas vermelhas – Queria que você pudesse ficar comigo pra sempre.

Quando os olhos deles se encontraram de novo, Kageyama prometeu a si mesmo que faria o possível para nunca mais sair do lado de Hinata.

.

.

-- Aqui é o jardim, onde a gente planta todas as algas. A produção não é muito grande porque a maioria dos sereianos aqui é carnívora, e as algas são mais como complemento da dieta e tal.

Suga aperta a mão de Daichi e seus olhos brilham com força. Realmente parecia um jardim, como naqueles filmes que Suga assistira com Daichi: uma grama de algas verdes que balançava com a maré e outras algas marrons compridas, que subiam dezenas de metros, cercadas por montinhos de algas vermelhas por todos os lados.

-- Nossa, elas são tão altas! – Suga ri, absorvendo tudo ao redor de si.

-- O pessoal que cuida do jardim usa um fertilizante natural pras algas crescerem mais rápido – Asahi sorri e passa os dedos entre as folhas marrons.

-- Fertilizante natural...? – Suga pergunta baixinho no ouvido de Daichi.

-- Cocô – Daichi responde e segura uma risada.

-- Oh!

Daichi olha para Kageyama e Hinata, que parecem bem quietos. Hinata solta algumas bolhas grandes de vez em quando, e segura firme na mão de Kageyama enquanto o pequeno grupo passeia por Nerida.

-- E ali, depois daquela pedra, fica a escola das crianças.

-- O que é escola? – Hinata pergunta, tombando a cabeça.

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