Nós no mar

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 Suga ficou quieto e pensativo durante todo o caminho para casa. Daichi sabia que não adiantaria puxar conversa — Suga permaneceria quieto até ruminar todos os pensamentos em sua cabeça e só depois falaria com ele. Por isso Daichi tratou de dirigir pela rua da praia o mais devagar possível, deixando que Suga observasse o oceano iluminado pela luz branca do luar.

Após chegarem em casa, Suga sentou no sofá e cruzou os braços sobre o peito.

— Bebe isso.

Daichi olha para ele com certo receio no olhar, mas sorri tentando encorajá-lo. Oferece uma caneca de peixinhos para Suga com algo cheiroso dentro. Suga pega e encara o líquido esverdeado.

— É chá. Cuidado que está quente.

— ... Obrigado.

Daichi senta-se ao seu lado, também com sua caneca de chá em mãos. As cortinas da sala balançam suavemente com a brisa vinda do mar. A noite está agradável e o céu, limpo. As cigarras cantam, indicando que o dia de amanhã seria quente. Suga tem o olhar baixo e meio tristonho, ainda pensativo enquanto toma seu chá devagarzinho.

Ele toma dois grandes goles e suspira alto enquanto apoia a caneca na mesinha. Joga-se para trás e encara o teto.

— Estou puto.

Daichi aperta os lábios e deixa sua caneca na mesinha também.

— Pensei que fosse ficar triste...?

— Estou puto e triste. Preciso ter uma conversa séria com o pessoal. Não é possível que esconderam uma coisa dessas de mim minha vida inteira. — Suga suspira novamente e pega na mão de Daichi, afagando-a — Daichi, temos que tirar aquele garoto de lá. Não posso permitir que ele viva em um espaço daqueles. O que ele estava fazendo lá, para começo de conversa...?

— Bom... — Daichi encara os olhos castanhos de Suga — Tendo em mente que sereianos são super raros hoje em dia... Parece que ele é uma atração do circo. Se eu não me engano, aquele menino Kageyama estava tentando convencê-lo a aprender algum truque...

Espera. Como assim, "hoje em dia"? — os olhos de Suga se arregalam — Daichi.

— Suga...? Você sabia que os sereianos eram os reis dos mares, né? Que existiam milhões pelo mundo?

A expressão de Suga deixa claro que ele não sabia dessa informação. Daichi sente-se idiota.

— Como você sabe disso?! — Suga parece aterrorizado.

— T-Todos aprendemos na escola sobre os sereianos e como eles foram caçados à extinção...

Aquelas palavras doem na alma de Suga. Extintos. Até Daichi sabia da existência de mais deles, e Suga não. Fora enganado a vida toda. Durante 20 anos acreditou que era o único de sua espécie em todo o oceano. Caçados. Os humanos tinham caçado todos de sua espécie até não sobrar nenhum...

Lágrimas de fúria escorrem pelas bochechas de Suga, e ele larga a mão de Daichi. Seu interior pega fogo e ele tem vontade de gritar.

Hinata, o único sereiano que vira, estava sendo usado como atração de circo. Entretenimento para os mesmos humanos que os caçaram. Estava aprendendo truques como se fosse um maldito cachorro. Aprisionado em um tanque minúsculo... O coração de Suga se parte ao lembrar das imensas cicatrizes pelo corpo de Hinata, e como as barbatanas de sua cauda estavam rasgadas.

Como puderam fazer isso...

— Por favor, não chora — Daichi aproxima-se de Suga e apoia a mão em sua perna — Desculpe, Suga, eu não tinha ideia que você não sabia. Eu te explico tudo o que você quiser.

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