Daichi odiava, com todas as suas forças, pensar naquilo.
Mas deveria começar a aceitar a ideia de que Suga talvez nunca mais voltasse.
Do lado de fora de sua janela pequenas florezinhas brancas balançavam com a brisa morna. A primavera tinha começado gelada, mas finalmente estava esquentando. O começo de junho tinha trazido vários turistas à ilha por causa de uma onda de calor e promessas de ondas grandes.
Daichi jamais admitiria, mas só naqueles dez primeiros dias do mês tinha chorado mais do que os últimos anos de sua vida. Ele não recebera uma notícia sequer. E por esse mesmo motivo que sofria tanto.
Não tinha como saber se Suga decidira ficar em Nerida para sempre, ou se deveria continuar esperando, indo todo dia à praia espiar o mar e ver se ele estava de volta. Daichi estava de férias da faculdade e não aguentava mais tanta solidão. Comia pizza todos os dias, mas não que conseguisse comer muito. Talvez tivesse perdido alguns quilos até.
Jogado no sofá, ele olha a fotografia dele e de Suga no porta-retratos em cima da mesinha.
Talvez eu não precise esquecer totalmente... Só sair desse limbo.
-- Suga. – ele pega a foto e a coloca perto do rosto – Me diz o que fazer. Quando você disse "alguns meses", pensei que seriam dois ou três. Essa saudade tá me deixando louco da cabeça.
Ele deita na almofada e encara o teto, vendo o ventilador girar na velocidade mínima.
-- O pior é que eu nem sei se consigo seguir em frente.
Ele ri tristemente e sente os olhos se encherem de lágrimas.
Só... Só parar de esperar tanto.
Daichi pega a foto de novo e olha bravo para a cara de Suga.
-- Não acredito que você esqueceu da nossa promessa de casar.
Ele coloca o porta-retratos com um pouquinho mais de força do que o necessário na mesa. O vidro racha.
-- Seu puto.
.
.
Apoiado no batente da janela, ele olha o oceano azul. A casa de Daichi tem uma vista bonita de parte da praia principal da ilha, e na frente as ondas quebram nas pedras. Quando a maré está cheia ou o mar está muito violento, as gotas de água batem na janela do quarto.
O sol já tinha se posto e só o que restava eram raios alaranjados nas nuvens. A noitinha era quente e abafada, e as cigarras cantavam anunciando outro dia quente. O mar estava meio agitado, e fazia uma espuma bonita quando batia nas pedras. O cheiro do sal é gostoso e acolhedor.
Algumas semanas tinham se passado e ele estava em paz consigo mesmo. Agora, olhando aquela imensidão azul, sentia o coração bater forte no peito, mas não com tanta dor quanto antes.
-- Saudades dele. – diz para si próprio.
A saudade agora era um sentimento quente e gostoso, até confortável. Não sufocava mais. Não doía tanto. Ele fechava os olhos e imaginava os dois juntos, e o que vinha era um sentimento feliz.
Suga estava feliz em Nerida. Isso é o que importa. Daichi resolveu que sempre o estaria esperando em casa, e sempre o amaria, mas estava cansado de sofrer. Em vez de pensar em seus próprios sentimentos, tentava imaginar Suga feliz com pessoas queridas. Isso acalmava e dava paz ao coração de Daichi.
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Subaquático
Fanfiction"Daichi avança pelo barco e chega a uma escadinha parcialmente destruída que leva ao que seria os aposentos do capitão. Os raios de sol penetram pelas rachaduras e buracos. Ele sorri para si mesmo ao ver Suga ali, deitado sobre uma camada de algas...