Capítulo 28: Madrugada democrática

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Quando terminamos o que estávamos fazendo, nos arrumamos para voltar até o grupinho lá fora. Encarei-me no espelho após recolocar o vestido e estava tudo no lugar, passei os dedos entre o cabelo para arrumá-lo e saímos de lá.

– Estava á procura de vocês. – Ciro falou parado próximo a porta juntamente de Giselle.

– Estávamos resolvendo algumas coisas. – Yuri desconversou e eu pude ver um sorriso desconfiado formado no rosto do mais velho. – Por que não me avisou que viriam?

– Quis fazer uma surpresa. – Ciro respondeu cumprimentando-nos com um abraço e Giselle fez a mesma coisa. – Afinal, não podia deixar de parabenizar minha nora pessoalmente pela vitória.

– Obrigada pelo apoio de vocês sempre.

– Não tem porque agradecer foi de coração. – Giselle respondeu.

Minha atenção foi atraída por Haddad e Ana Estela que estavam se divertindo na pista com as músicas, eles eram um casal de sintonia. Pareciam ser amigos e companheiros a cima de tudo. Faziam danças engraçadas juntos que com certeza desbancava qualquer casal novo.

Manuela e Boulos não estavam no primeiro andar, um dos amigos de Yuri comentou que os dois haviam subido até o terceiro para conversar melhor, já que no andar onde estávamos o som estava muito alto.

Yuri saiu novamente pra fumar e eu subi para o segundo andar juntamente de Ciro e Giselle, nos sentamos de frente para o balcão, pedimos algumas bebidas e começamos a conversar.

– Amanhã cedo voltamos para Fortaleza, pra participar da votação. – Ciro respondeu enquanto mexia seu copo de whisky.

– Estou confiante de que temos chances de virar. – falei e dei um gole na caipirinha.

– Eu acho que dessa vez vai dar Ciro! – Giselle falou confiante.

– Um brinde a essa eleições. – Boulos falou aparecendo atrás de nós com uma garrafa de cerveja, juntamente de Manuela.

Todos nós fizemos o brinde e comemoramos.

– Olha, independente de quem vença ou passe para o segundo turno, o intuito é derrubar o fascismo! – Ciro afirmou e todos concordaram. – Que pelo menos seja um de nós ou a Marina.

– Estamos juntos sempre. Independente do que aconteça! – Manuela falou dando um abraço em Ciro e Boulos.

Haddad deu as caras no andar de cima juntamente de Estela. Os dois estavam suados, de tanto que haviam se divertido lá embaixo.

– Não tem catuaba aqui? – Fernando zoou e todos riram.

– Me sinto na ditadura, escondida no bar junto com meus amigos famosos e comunistas. – Estela comentou e nós gargalhamos.

– Só faltou o trio: Caetano, Chico e Gil. – Boulos ressaltou.

– Amanhã com certeza estaremos na capa da Folha de SP ou da VEJA. – respondi dando o último gole no drink.

Continuamos naquele mesmo clima agradável, bebendo e conversando. As pessoas passavam e às vezes ficavam olhando por longos segundos como se estivessem tentando confirmar o que estavam vendo.

Em um momento na noite, Ciro chamou Haddad e Estela para que fossem conversar no terceiro andar, que na minha opinião.. era o mais tranquilo e menos movimentado do local. Provavelmente iriam conversar sobre o dia de amanhã e a enorme chance de ficar entre os dois a possibilidade de enfrentar o Jair no segundo turno.

Eu, Boulos, Manuela e Yuri descemos para dançar e estava tudo muito divertido, apesar dos muitos olhares voltados para o meu namorado, consegui relevar e por fim, aproveitar a festa com as pessoas que me faziam bem.

Quando subi para pegar tequila no andar de cima, já que no que estávamos havia acabado. Vi Haddad descer enfurecido enquanto puxava Estela pela mão.

– O que aconteceu? – perguntei parando os dois.

– Agradecemos o convite, mas por conta de alguns desentendimentos eu e minha mulher estamos nos retirando.

– Qual foi Nando, quero que vocês dois fiquem.. me conta o que aconteceu por favor. – pedi.

– Tirando o fato de seu sogro ser um egoísta, nada demais. – Ana Estela respondeu aparentemente brava. – Ficou insinuando que meu marido se propôs a participar de um papelão, entre outras coisas. Meu respeito a você e seu namorado, Heloísa.. mas me recuso a deixar que meu marido permaneça nesse lugar por mais um segundo.

– Por favor, talvez Ciro tenha cometido um equívoco. Estamos todos bebendo, é comum que surjam comentários incomuns.. não façam tempestade em copo d'água. – tentei convencê-los a ficar, embora soubesse que Ciro com certeza pensava aquilo e só estava tentando alertar o amigo.

Dando minha falta, Yuri e Manuela subiram atrás de mim e se aproximaram para saber o que tinha acontecido. A história foi minimamente contada para os dois, que não hesitaram em tentar minimizar o ocorrido. Ana Estela parecia mais furiosa com os comentários do que o próprio Fernando.

– Fernando, posso trocar algumas palavras com você lá fora? – Ciro apareceu repentinamente e chamou o amigo, que concordou de imediato.

Ana Estela fez uma feição de incômodo e sentou-se no imenso sofá que havia no andar, enquanto esperava o retorno do marido.

– Estela, estamos todos com os ânimos á flor da pele. Não dá pra ficar levando tudo a ferro e fogo. – Manuela falou juntando-se a mulher do presidenciável. – Sem contar que, conhecemos o jeitão do Ciro.. o "cabra" não vai mudar e sabemos disso.

– A questão Manu, é que só eu sei o que tenho sofrido com o Fernando. Ele tem passado noites em claro, de tanta preocupação com os resultados. Já não sabe o que fazer para ajudar a evitar o caos que está por vir. O nervoso tem tomado conta dele e eu como sua companheira, tenho feito de tudo para ajudá-lo.

– Nós entendemos Estela, estamos todos no mesmo barco. Meu pai também está preocupado, cada vez mais a mídia está em cima de nós porque sabe que ele explode por qualquer coisa. E basta só uma faísca para que tentem sujar a candidatura dele. – Yuri explicou.

– Pessoal, brigar entre si não vai levar a nada. É isso que a concorrência quer, ver a esquerda confusa e brigando com os próprios aliados. Temos que levar em conta o único e verdadeiro inimigo da vez: o Bolsonaro. – tentei convencê-los.

– A Helô tem razão. – Giselle concordou e todos assentiram.

Boulos subiu do primeiro andar com uma cara confusa. Explicamos o que havia acontecido para ele, que de imediato concordou comigo.

– Já está tudo bem. – Haddad falou aproximando-se com Ciro. – Foi só um mal entendido pessoal.

– Ótimo, vamos aproveitar o resto da noite! – Manuela respondeu totalmente empolgada.

E assim a madrugada teve continuidade com muita bebedeira e conversa, todos haviam entrado em um consenso e eu estava realmente feliz com aquilo. Estávamos entre amigos e não tinha necessidade de brigas por política, afinal, fazíamos parte do mesmo time. Usamos todo esse tempo juntos para deixar o medo e a ansiedade de lado. Quando amanhecesse, a luta continuaria e nenhum de nós desistiria independente do resultado. Juntos pela democracia.

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