Capítulo 12: Depoimento

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[...]

Acordei com uma luz branca forte no meu rosto.

– Mas ela nem acordou. – escutava as vozes quase como um sussurro.

– Precisamos colher o depoimento da vítima ou o caso será mais um como outros esquecidos.

– A paciente já se encontra acordada. – uma enfermeira comunicou chegando perto de mim e observando.

– Heloísa Furtado? – uma mulher perguntou meu nome completo aproximando-se de mim. – Sou a delegada Laura e gostaria que desse seu depoimento sobre o que aconteceu com você.

– Como eu vim parar aqui? – perguntei ainda lenta por conta dos remédios. Logo pude ver o Yuri levantar-se com um semblante preocupado e dando um pequeno sorriso ao perceber que meu olhar havia encontrado-o. – Obrigada. – respondi quase em sussurro para ele.

– Precisamos ficar a sós. – a delegada pediu e Yuri retirou-se junto com a enfermeira. – Pode me detalhar sua relação com o agressor?

– Eu e Eduardo namorávamos há cinco anos. Ele nunca havia me tratado com grosseria ou violência, mas de uns meses pra cá veio demonstrando um comportamento agressivo comigo. Eu pensei que fosse passageiro, mas não foi. Ontem ele me chamou para jantar e quando chegamos em casa, me recusei a ter relações sexuais com ele e o surto começou. Eduardo me puxou pelos cabelos, torceu meus braços, me jogou no chão, chutou-me na barriga e após tudo isso ainda tentou me estuprar.

– Agradeça a sua empregada, Solange. Se não fosse por ela, talvez você não estivesse viva para dar seu testemunho.

– Onde ela está? Ela está bem? – perguntei preocupada.

– Ela está bem, poucos minutos depois que você fugiu a polícia chegou. Ela golpeou o agressor em legítima defesa e trancou-o no quarto escondendo-se em algum cômodo da casa até que fosse resgatada. Será testemunha chave do caso, mais um pouco e o crime era pego em flagrante, mas ela te salvou de passar por algo que ao meu ver, é um dos piores crimes que alguém pode cometer contra outra pessoa.

– Nem me fale, ela foi um anjo. – respondi respirando fundo. – Onde ele está?

– Eduardo Bolsonaro por enquanto está preso, assim que você se recuperar.. iremos levar o caso para julgamento para saber o que será feito daqui pra frente, mas peço para que esteja preparada para o pior.. em alguns casos tudo isso pode ser resolvido com a fiança. Mas de qualquer jeito, terá direito a uma indenização e medida protetiva.

– Obrigada.

– Já tirei algumas cópias do seu laudo médico e estou com algumas fotos, estaremos juntos com você. Logo um advogado entrará em contato, tudo fornecido pelo Estado. – ela explicou. – Esqueci de informar-te, ele perdeu seu porte de arma.

– Você não sabe o quanto isso me deixa mais aliviada.

– Procure ficar calma para ter uma boa recuperação. Desejo-lhe melhoras e muito cuidado, vai ficar tudo bem. – Laura respondeu despedindo-se e saindo do local.

Yuri entrou logo em seguida.

– Achei que tinha perdido você. – ele falou aproximando-se e acariciando meus cabelos.

– Vaso ruim não quebra. – respondi dando um sorrisinho fraco e ele riu.

– Bom, já falei com a Solange. Ela está arrumando suas coisas, você vai comigo pra Fortaleza. – Yuri afirmou enquanto fazia carinho nos meus braços. – Ficará comigo na casa do meu pai, lá será o lugar mais seguro pra você. E quanto a Solange, pagaremos para ficar segura na casa dela.

– Agradeço a preocupação, mas eu não posso aceitar. – respondi encarando-o aqueles olhinhos escuros que mediam cada centímetro do meu corpo.

– Não seja teimosa, já falei com o meu pai. – ele falou e eu senti minha pele corar de vergonha. – Você vai comigo, ficará segura com a minha família e ninguém nunca saberá onde você está.

– Eu não quero dar trabalho pra ninguém.

– Shh. – ele respondeu colocando seu dedo indicador no meu lábio. – Quantas vezes eu tenho que falar que vou cuidar de você? Patricinha insuportável.

Gargalhei e senti o semblante do Yuri mudar, aquilo havia o tranqüilizado um pouco.

– Se a justiça não acontecer, vou ter que fazer com as próprias mãos. – esbravejou andando de um lado para o outro no quarto.

– Manda seus amigos do MTST invadir a casa dele e tacar fogo. – brinquei e vi ele rir.

– Já está melhor né? Está até falando merda.

– Eu achei que eu morreria. – respondi voltando a realidade e encarando o teto do hospital.

Puxei o avental que vestia e vi toda a região do meu abdômen roxa. Yuri aproximou-se e com uma cara entristecida acariciou o local.

– Você confia em mim? – ele perguntou.

– Sim.

– Nós vamos fazer esse criminoso pagar. Eu te prometo. – Yuri mal havia acabado sua frase quando meu pai praticamente invadira a sala.

– Heloísa minha filha, o que aconteceu? – ele perguntou aproximando-se de mim. – O que faz aqui?

– Esse é o Yuri, meu amigo. Ele que me trouxe para o hospital. – respondi.

– Poderia me deixar a sós com a minha filha? – meu pai perguntou após apertar a mão de Yuri.

– Claro. – ele respondeu dando uma piscada pra mim e retirando-se da sala.

Contei tudo que havia acontecido comigo.

– Filha, se eu fosse você desistiria desse processo. – meu pai pediu e eu senti meu corpo ferver de raiva. – Já vi casos como o seu em que o cara ficou liberto e depois perseguiu a moça até que tirasse sua vida.

– Com processo ou sem, eu já corro esse risco. – respondi indignada. – Eu poderia estar morta agora, mas fui salva, tive uma oportunidade e tenho que honrá-la. Farei o possível para vê-lo pagar.

– Pensa bem filha.. – ele insistiu. – Agora tenho que ir, Sabrina e eu ainda estamos comprando coisas para o bebê.

– Claro pai, qualquer coisa é mais importante do que a minha situação. – respondi baixo e ele reprovou-me.

Meu pai foi embora e eu respirei fundo. Era estranho o quanto ele defendia o Eduardo independente do que ocorresse comigo. Agia como se tudo aquilo fosse normal.

Yuri voltou ao quarto depois de alguns minutos, provavelmente passou esse tempo fumando lá fora. Era incrível o quanto ele cuidava de mim, fazia carinho todo momento e tentava fazer com que eu me sentisse melhor. Eu não merecia alguém tão bom.

 Eu não merecia alguém tão bom

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